Em 2019, Guapimirim foi um dos destinos da Operação P9Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

Guapimirim – Uma pesquisa intitulada “Violência e Política na Baixada Fluminense” lançada na manhã da última terça-feira (14/12), com mapeamento sobre assassinatos ocorridos entre 2015 e 2020 contra políticos, lideranças comunitárias e ativistas da Baixada Fluminense, incluiu dois crimes que aconteceram em Guapimirim, em 2016. O relatório, de 141 páginas, foi elaborado pelo Observatório de Favelas, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Witwatersrand (WITS), da África do Sul, com o apoio da Fundação Heinrich Boll.
Em outubro de 2016, o corpo do líder comunitário Ricardo José de Souza, o Ricardinho do Jardim Gramacho, de 46 anos, foi encontrado com sinais de tortura e de asfixiamento num sítio em Guapimirim. Ele era segundo suplente para a Câmara Municipal de Duque de Caxias. No mesmo imóvel também foi assassinado o ex-vereador de Guapimirim Marcelo Ulrich, que era amigo de Ricardinho.
O sítio foi invadido por três criminosos. Uma mulher que estava no local foi estuprada. De acordo com as investigações, os assassinos foram informados que Ricardinho do Jardim Gramacho estaria com uma mala com cerca de R$ 40 mil. Ao não encontrarem o montante, os bandidos começaram a torturar os dois homens.
A mulher, vítima de estupro, tinha sido encarregada de buscar mais dinheiro para o bando. Feita de refém, ela dirigia um carro com dois dos criminosos. Ao avistar uma patrulha policial, ela bateu no veículo e pediu socorro. Um dos bandidos foi preso, e o outro fugiu. A vítima foi levada para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias, onde recebeu um coquetel anti-HIV.
O duplo homicídio em questão não teve motivação política, de acordo com as investigações. O que chamou atenção dos autores do relatório é que os crimes não foram cometidos nos municípios em que as vítimas residiam.
Em 2019, Guapimirim foi um dos destinos da “Operação P9”, deflagrada pela Polícia Civil fluminense para desvendar a autoria do assassinato de Paulo Henrique Dourado, conhecido como P9. Ele teve o carro interceptado por outro veículo e foi alvejado com 15 tiros em 2018. Foram 20 mandados de busca e apreensão que incluiu Magé, Rio de Janeiro, Petrópolis e São Pedro da Aldeia.
O referido relatório traz um panorama sobre as atividades profissionais exercidas por políticos e aponta que de 2004 a 2020, em Guapimirim, apenas 6,7% dos políticos da área da segurança pública, em comparação ao total de políticos foram eleitos para as câmaras municipais.
O documento também critica o que chama de “ideologia ou mentalidade miliciana” na política, que funciona como um culto à violência e a defesa do poder de matar como elemento privilegiado numa sociedade.