Crimes contra crianças e adolescentes têm prioridade de investigação no RJ
Nos últimos cinco anos, foram 251 mortes violentas de meninas e meninos até 14 anos de idade, no estado do Rio de Janeiro
Audiência pública, realizada em novembro do ano passado, divulgou que, só em 2020, foram 46 vidas interrompidas em plena infância no Rio de Janeiro - Reprodução Internet
Audiência pública, realizada em novembro do ano passado, divulgou que, só em 2020, foram 46 vidas interrompidas em plena infância no Rio de JaneiroReprodução Internet
Rio de Janeiro - Devido ao crescente número de casos de violência contra crianças e adolescentes na pandemia, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, sancionou a lei 9.180/21. Denominada ‘Ágatha Felix’, a lei garante prioridade nos trâmites de procedimentos investigatórios de crimes praticados contra o público infantil e juvenil.
De acordo com a norma, todas as comunicações internas e externas referentes às ações investigativas deverão conter o seguinte aviso escrito: “Prioridade - Vítima Criança ou Adolescente”.
O nome da lei homenageia a menina Ágatha, de 8 anos, que morreu após ser atingida por tiros de fuzis nas costas, no Complexo do Alemão em 2019. A votação do projeto chegou a ficar suspensa na pauta da Alerj por um tempo, mas voltou após a morte das primas Emilly e Rebecca, em Duque de Caxias.
"Considerando o aumento da vitimização da infância e da juventude e a falta de respostas adequadas, precisamos oferecer recursos legais para o Ministério Público agir com mais agilidade, aumentando a proteção ao menor”, defende o deputado estadual Chico Machado, um dos coautores da lei.
Dados de violência contra crianças e adolescentes
A audiência pública que discutiu a prioridade nas investigações de homicídios de crianças e adolescentes, realizada em novembro do ano passado, divulgou que, nos últimos cinco anos, foram 251 mortes violentas de meninas e meninos até 14 anos de idade, no estado do Rio de Janeiro. Só em 2020, foram 46 vidas interrompidas em plena infância.
Segundo estudo lançado pelo UNICEF e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos últimos cinco anos, foram 3.405 mortes adolescentes de 15 a 19 anos. Ao todo, no período, 3.656 crianças e adolescentes foram mortas violentamente no estado do Rio de Janeiro, uma média de 731 por ano. Do total, quase 27% das mortes foram decorrentes da atuação policial.
Segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde da capital, a pandemia aumentou em 50% denúncias de violência contra crianças e adolescentes junto aos conselhos. Em 2020 houve 1.494 notificações de violência contra crianças com idade entre 0 e 9 anos e, em 2021, até o início de maio, foram 410 casos. Sendo as meninas, os principais alvos (58,3%) e do total de vítimas, 66% são pretos e pardos. A imensa maioria desses atos acontecem dentro de casa: 72%.
A Plataforma Fogo Cruzado realizou um levantamento em 2020, que apontou 22 crianças baleadas na Grande Rio, 8 delas morreram e 4 foram atingidas durante tiroteios. Em 2019, o Rio contabilizou 24 crianças baleadas e 7 mortes. Com a escalada de casos, a violência letal contra crianças e adolescentes foi denunciada à ONU, pela organização Justiça Global.
Dados revelados, após levantamento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), afirmam que o Brasil conta com apenas 110 delegacias especializadas em crimes contra esse público.
O secretário nacional dos direitos da criança e do adolescente, Maurício Cunha, afirmou que o levantamento evidencia que é preciso avançar na segurança pública como proteção de crianças e adolescentes no país.
Em 2020, o Disque 100 recebeu mais de 95,2 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes. As violações mais recorrentes são contra a integridade de crianças e adolescentes, como violência física (maus-tratos, agressão e insubsistência material) e violência psicológica (insubsistência afetiva, ameaça, assédio moral e alienação parental). Cerca de 56 mil denúncias possuem pais e mães como suspeitos da violação, 59% do total.
Denuncie: Disque 100 e Ligue 180
As denúncias realizadas por meio do Disque 100 e do Ligue 180 são gratuitas, podem ser anônimas e recebem um número de protocolo para que o denunciante possa acompanhar o andamento. Qualquer pessoa pode acionar o serviço, que funciona diariamente, 24h, incluindo sábados, domingos e feriados. Entre os grupos atendidos pelo Disque 100, estão crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, população LGBT e população em situação de rua.
O serviço também está disponível para denúncias de casos que envolvam discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais. Já as denúncias de violência contra a mulher são registradas pelo Ligue 180.
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