O evento vai contar com show da cantora Gloria Bonfim.Divulgação - Foto: Silvana Marques
"O termo que dá nome ao evento, de origem iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental, é uma reverência aos ancentrais. A ideia é que, em Atelerió, passado e presente unam forças para enfrentar o racismo e afirmar a vida por meio de um “aquilombamento cultural”. A expressão se apresenta em oposição à de “apartheid”, e aponta para uma busca de afirmação e protagonismo de espaços de negritude", informou a Universidade no texto.
Para a coordenadora do evento, Janaína Dias, o projeto Atelerió reforça a importância da história e da cultura do povo negro na sociedade brasileira e a urgência da luta antirracista: “a arte e a cultura são dimensões importantes de existência, resistência e afirmação da negritude!”.
Um dos destaques da programação é a cerimônia de homenagem a representantes pretos que se sobressaem em áreas normalmente dominadas pela corporeidade branca. Nessa edição do evento, a homenageada é Isildinha Baptista Nogueira, psicanalista, doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, pesquisadora de questões sobre o corpo negro e autora de diversos livros; entre eles, “A cor do inconsciente – significações do corpo negro”, indicado ao prêmio Jabuti 2022, na área da Ciência.
Para o reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, a luta antirracista deve ser um dos compromissos essenciais da universidade pública, e ela se materializa nos sujeitos, conhecimentos e práticas que vão existir nesse espaço.
Isildinha Baptista Nogueira foi uma das primeiras intelectuais a abordar, por meio do instrumental psicanalítico, tanto a dimensão sociocultural como subjetiva da condição de negro no Brasil. Partindo de seu lugar como mulher, negra e brasileira, ela delineia as muitas amarras que interditam o desenvolvimento, a exemplo da autodepreciação e de outros processos culturalmente introjetados em uma sociedade de características racistas.
De acordo com a psicanalista, o racismo adoece a todos, brancos e negros. "Acredito que esse esforço de pensarmos sobre isso pode nos libertar dessa perversa fantasia de que a humanidade se compõe de seres superiores a outros. Todas as vidas importam. A despeito de nossas diferenças, precisamos pensar formas de nos respeitarmos. Vencer o racismo é uma luta de brancos e negros”, realçou ela.
Além da homenagem, nomes representativos de todas as artes e de movimentos e pensamentos antirracistas estarão presentes na programação desta edição inaugural do projeto. Para a abertura, dia 17 de novembro, às 17h30, o professor, antropólogo e escritor Júlio Tavares irá apresentar a conferência “A construção do apartheid brasileiro”. Julio Tavares é autor dos livros Diásporas Africanas na América do Sul (2008), Dança de guerra (2012) e Gramáticas das corporeidades afrodiaspóricas (2020). Nesse mesmo dia, às 19h, será inaugurada a exposição “Invencível novembro”, na Galeria de Arte UFF, e a cantora baiana Gloria Bonfim fará um show inspirado nos terreiros de candomblé, no Teatro da UFF, às 20h.
Dentro da variada programação, haverá mesas de conversa, sempre às 15h, com os temas “Aquilombamento na pesquisa”: dia 18/11, com o Coletivo Marcos Romão, “Empretecer o pensamento pelas políticas públicas da educação”; dia 21/11, com os professores Alexandra Anastacio (pró-reitora de graduação - UFF), Natalia Barbosa (COLUNI - UFF) e Renato Ferreira (EDUCAFRO), “Corpos negros e religiosidades”; dia 22/11, com o babalorixá Dário de Ossain, mãe Márcia d’Oxum e o pastor Henrique Vieira (eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro), e “Aquilombamento da arte”; dia 23/11, com professor Jorge Vasconcellos (UFF) e o artista visual Marlon Amaro (integrante da exposição “Invencível novembro)”.
Além do show da cantora Gloria Bonfim, haverá apresentações de Jef Rodriguez, do jongo Folha da Amendoeira e da bateria da Viradouro. Dentre outras atrações, haverá uma apresentação, dia 23/11, do espetáculo teatral “Baquaqua”, criado a partir de relatos sobre o único negro escravizado a ter uma biografia lançada (Mahommah Gardo Baquaqua), no século XIX, quando firmou sólido contato com os abolicionistas na América do Norte, após uma tentativa bem-sucedida de fuga. O monólogo, encenado por Wesley Cardozo, tem dramaturgia de Rogério Athayde e direção assinada por Aramís David Correa.
O reitor Antonio Claudio disse que o evento é imperdível. "Convido toda a comunidade dentro e fora da universidade para comemorar coletivamente a data. Construímos a cada dia uma UFF mais crítica, combativa, diversa e de olhos abertos para a realidade e, para isso, seguimos plantando ações conjuntas para colher transformações visíveis. Estamos ansiosos para essa importante celebração”, encerrou o reitor.
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