Rio - A diversidade de correntes ideológicas nos protestos confunde quem não está acostumado a ver extremistas nas ruas — até a polícia. Apesar das evidências de que o estudante punk Arthur dos Anjos Nunes, 21 anos, seja anarquista e não nazista, o delegado Mário Jorge Andrade, da 21ª DP, acredita que o risco feito sobre a suástica seja um despiste.
Na bandeira apreendida em sua casa, ao lado de estampas anarquistas, havia um ‘x’ em vermelho sobre símbolo nazista. Arthur é acusado de depredar a Alerj.
“Mesmo ele riscando o símbolo, pode ter envolvimento com o nazismo. Vamos apurar se o Arthur quis nos despistar”, disse o policial, afirmando que este risco, que significaria negação ao nazismo, o impede de indiciá-lo por crime de racismo.
Anarquistas e neonazistas têm ideologias radicalmente opostas, mas estão juntos no ataque às instituições democráticas, como a Alerj, e militantes de partidos. Na casa de Arthur, que está foragido, foram apreendidos cartazes, facões, martelos e soco-inglês, além de fotos suas em outros protestos.
A polícia ainda vai pedir a quebra de sigilo telefônico e de um pen-drive do estudante. Já foram feitos oito pedidos de prisão, porém apenas o de Arthur foi concedido.
Contra ele foi expedido mandado de prisão temporária de cinco dias, por formação de quadrilha, tentativa de homicídio, porte de artefato explosivo e dano ao patrimônio público. Ele já possui anotação criminal por lesão corporal.
Protesto une ideologias bem diferentes
A confusão feita sobre os símbolos encontrados na bandeira, apreendida na casa de Arthur, é incomum. Enquanto o anarquismo prega a total ausência de um estado coercitivo, que se imponha sobre a vontade dos cidadãos, o nazismo segue caminho oposto.
Pela ideologia criada por Adolph Hitler na Alemanha dos anos 1920, o Estado precisa ser forte e impositivo, guiando os cidadãos e não tolerando desvios. Já o anarquismo (do grego anarkhos, que significa ‘sem governantes’) significa ausência de Estado, mas não desordem.
O movimento, que tem origem no Iluminismo francês e quase se tornou realidade na Ucrânia durante a Revolução Russa de 1917, voltou a se popularizar nos anos 70, com os punks londrinos.