Rio - Depois de três meses de investigações, a polícia começou a desmantelar na madrugada de sábado uma quadrilha de pelo menos 90 traficantes que atuam na Favela da Rocinha, em São Conrado, pacificada há dois anos. Até a noite deste sábado, 29 homens haviam sido presos e três menores, apreendidos. Escutas gravadas com autorização da Justiça comprovam que Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, capturado em novembro de 2011, ainda é quem chefia o grupo.
As detenções começaram a ser feitas por cerca de 300 homens da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local e agentes da 15ª DP (Gávea). A Justiça expediu 58 mandados de prisão, 21 cumpridos. A operação continua ao longo da semana.
As investigações mostraram que os traficantes faturavam mais de R$ 6 milhões por mês, agindo discretamente em cerca de 100 pontos de vendas de drogas localizadas em vielas. Cada uma das bocas-de-fumo vendia, em média, R$ 15 mil por semana só de cocaína e maconha. Algumas mais rentáveis, próximas ao asfalto, rendiam até R$ 12 mil por dia.
“Deixamos de realizar prisões e flagrantes em várias ocasiões para obtermos provas e informações sobre a atuação dos criminosos. Agora, com filmagens feitas por 104 câmeras de longo alcance e escutas telefônicas, temos provas suficientes das atividades ilícitas”, ressaltou o delegado da 15ª DP, Orlando Zaccone.
De acordo com o delegado adjunto da mesma delegacia, Ruchester Barbosa, a operação, intitulada ‘Paz Armada’, foi desencadeada depois de um mapeamento para identificar becos e ruas que não constam em mapas oficiais.
“Fizemos um mapa à mão, com apoio da UPP, e levamos para o Instituto Pereira Passos, que nos deu mais coordenadas. Hoje, nós temos um georreferenciamento com todas as vias da Rocinha onde conseguimos localizar os pontos de venda de drogas e as moradias dos traficantes”, detalhou Ruschester.
Maioria da quadrilha é ‘ficha limpa’
A maioria dos integrantes da quadrilha é ‘ficha limpa’, ou seja, nunca teve passagem pela polícia. Com isso, segundo o delegado Orlando Zaccone, era muito mais difícil identificá-los e prendê-los. “Alguns, porém, são de alta periculosidade”, comentou.
Entre os presos estão Vítor Gomes Elói, o Banana, 23, e Vinícius Gomes da Silva, o Titica, 22, que participaram da invasão ao Hotel Intercontinental, em agosto de 2010. Outros quatro também são considerados perigosos: Ricardo Santos Rodrigues da Silva, o Ricardinho, armeiro do bando; Patrick Emanoel Magalhães Luiz; Wadson da Silva Velososo, o Cachorrão, e Douglas da Silva, o Periquito. Eles responderão pelos crimes de tráfico de drogas, corrupção ativa, associação ao tráfico e porte ilegal de armas.
‘Derramamento de sangue’ evitado
O comandante da UPP-Rocinha, major Edson Santos, garantiu que a operação desencadeada na madrugada de ontem impediu um “derramamento de sangue” na comunidade. “Detectamos que, com a morte de Dudu (Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, encontrado morto na cela do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, no último dia 8), seu aliado, Djalma (Luiz Carlos Jesus da Silva), que controla o tráfico na parte alta da favela, daria um ‘golpe de estado’”, disse.
Segundo ele, Djalma tentaria assumir os pontos de venda de drogas na parte baixa, dominada por John Wallace da Silva Viana, o Jhony, 24, braço direito de Nem e pertence à mesma facção de Djalma: Amigos dos Amigos (ADA). “Se houvesse o confronto, muitos inocentes iam morrer”, disse Santos.
A ousadia dos traficantes é tanta que vários deles exaltam os líderes do bando, principalmente Nem, e incitam ataques à polícia em redes sociais. Desde o início da pacificação, a UPP já apreendeu 66 mil papelotes de cocaína e 20 quilos de pasta base da mesma droga, além de armas e explosivos.
Números
66 MIL
Número de papelotes de cocaína apreendidos por policiais da UPP-Rocinha na comunidade desde o início da pacificação da favela, no fim de 2011
6 milhões
Número, em reais, relativo ao faturamento mensal que os 90 bandidos identificados pela polícia obtinham com a venda de drogas na Rocinha, principalmente cocaína
100
Número de pontos de vendas de drogas mapeados pela polícia na favela nos últimos três meses. Sem mostrar poder ostensivo, os traficantes vendem entorpecentes discretamente entre as vielas