Rio - Um ato ecumênico e uma passeata, que reuniu cerca de mil pessoas na Avenida Rio Branco, no Centro, finalizaram as manifestações pelos 20 anos da chacina da Candelária, que se completam na próxima terça-feira. Os atos foram antecipados em função da agenda do Papa semana que vem.
Familiares de vítimas de várias execuções que ocorreram na cidade, durante esse período, pediram o fim da impunidade e a desmilitarização da polícia.
”O Brasil vive um momento de questionamentos quanto às ações policiais. É importante que sempre lembremos de ações criminosas como essa e a tenhamos como parâmetro negativo”, opinou o representante da Anistia Internacional, Maurício Santoro.
Entre os presentes na cerimônia religiosa celebrada por autoridades católicas, judaicas e do candomblé estava Patrícia Oliveira, irmã de Vagner dos Santos, único sobrevivente do massacre. Ele foi atingido por quatro disparos, enquanto dormia junto as vítimas em 1993. Atualmente, mora na Suíça.
“Um acontecimento como esse nunca sai da memória da vítimas. Meu irmão sonha até hoje com as imagens de terror e sofre com uma doença crônica causada pelo envenenamento de chumbo. O que mais entristece é perceber que a política de extermínios continua assustando a todos”, desabafou.
Na caminhada, que foi da igreja até a Cinelândia, os nomes das oito vítimas foram lembrados em um carro de som, que clamava por rigor nas investigações. O engraxate Patrick Ferreira, de 15 anos, é prova viva de que, apesar das duas décadas, a tragédia ainda paira sobre o local: “Nem era nascido, mas sei das mortes. Várias pessoas passam por aqui e dizem que nesse lugar matam crianças e vagabundos”.