Por adriano.araujo

Rio - O brasileiro David Miranda, de 28 anos, companheiro do jornalista americano Glenn Greenwald, que denunciou a espionagem do governo dos Estados Unidos sobre contas de e-mails, de rede sociais e de ligações do mundo inteiro a partir de documentos vazados pelo ex-agente da CIA Edward Snowden, desembarcou nesta segunda-feira, às 5h, no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), após ser detido no domingo por nove horas no Aeroporto de Heathow, em Londres.

Brasileiro detido por nove horas em Londres desembarca no RioJoão Laet / Agência O Dia

David retornava para o Rio de Janeiro de uma viagem a Berlim, onde visitou a cineasta americana Laura Poitras, que também investiga os arquivos de Snowden. Ao fazer conexão em Londres, o jovem foi retido no aeroporto e levado para interrogatório com base em uma lei britânica anti-terrorismo.

Visivelmente cansado, o jovem desabafou no aeroporto após reencontrar Greenwald. "Fiquei numa sala, tiveram seis agentes diferentes que ficavam entrando e saindo. Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira e confiscaram meu computador, videogame, celular, máquina fotográfica, cartões de memórias, tudo. Me seguraram nove horas dentro da sala, mais duas horas até eu sair do aeroporto. Não me deram meu passaporte. Antes eu comecei a fazer um escândalo falando que eu queria meu passaporte, que eu queria sair dali, saber para onde estavam me levando e o que iriam fazer comigo. Foram oito horas até eu conseguir um advogado para falar comigo", contou.

Miranda comunicou no aeroporto que tomará providências no Brasil. "Vou tomar providências aqui sobre o ocorrido. Espero que o Senado Federal esteja vendo isso e faça alguma coisa, porque a gente sabe o que está acontecendo", completou o jovem, que foi solto sem nenhuma acusação.

Apreensivo, Glenn Greenwald, que desde o dia 5 de junho vem publicando a série de reportagens sobre o programa de espionagem americano, informou que o fato foi uma tentativa de intimidação à imprensa e um recado pessoal enviado para ele pelo governo dos Estados Unidos. O jornalista do Guardian acrescentou que a Inglaterra não possui nenhuma autonomia sobre os EUA. "A única coisa que não vai acontecer é nos intimidarmos ou ficarmos inibidos de realizar o nosso trabalho jornalístico", disse.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores manifestou no domingo preocupação: "Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso da referida legislação." A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou por meio de sua conta no twitter que o procedimento foi "arbitrário".

Em nota, Widney Brown, diretora sênior da Legislação e Política da Anistia Internacional disse que "a detenção de David é ilegal e indesculpável. Ele foi detido sob uma lei que viola qualquer princípio de equidade e sua prisão mostra como a lei pode ser abusiva por razões mesquinhas e vingativas".

O Guardian, veículo em que Glenn trabalha e vem publicando as reportagens, também emitiu nota dizendo-se "consternados com a detenção do parceiro do jornalista que tem escrito sobre os serviços de segurança enquanto passava pelo aeroporto de Heathrow. Estamos buscando esclarecimentos com as autoridades britânicas".

A lei anti-terrorismo aplicada ao brasileiro é executada apenas em portos, zonas de fronteira e aeroportos. Ela dá autoridade para que o governo britânico detenha e interrogue "suspeitos" sem autorização prévia. Além disso, ela não dá ao interrogado direito imediato a um advogado e trata como crime qualquer recusa em responder as informações solicitadas.

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