Rio - O policial militar do Batalhão de Choque que jogou spray de pimenta em profissionais da imprensa e advogados na Rua do Catete, na Zona Sul, no fim da noite desta segunda-feira, foi afastado das atividades na rua.
De acordo com o relações-públicas da PM, Cláudio Costa, uma sindicância foi instaurada para apurar a ação do militar. Paulo Giovani Reis da Silva será avaliado pelo setor de psicologia da corporação e continuará trabalhando internamente. O Ministério Público também se pronunciou sobre o caso e imagens serão usadas para verificar se houve excesso do PM. Caso seja confirmada a agressão, ele poderá responder na justiça por lesão corporal.
O vídeo da agressão foi publicado pelo Coletivo Mariachi, formado por um documentarista mexicano e dois jornalistas brasileiros, que pretendem lançar um documentário sobre as manifestações no Rio.
Profissionais da imprensa e advogados registram queixa
Quatro jornalistas e seis advogados ligados a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ) registraram queixa contra policiais do Batalhão do Choque da PM acusados de agressão e abuso de autoridade, após o fim de uma manifestação no Catete, Zona Sul do Rio, no fim da noite desta segunda-feira.
Um cinegrafista registrou imagens de uma deficiente mental que acabou nua ao tentar se desvencilhar da abordagem de policiais. Ela teve uma convulsão na delegacia. O profissional e outro colega de profissão também gravaram os momentos em que são agredidos por PMs e os militares disparando balas de borracha contra os trabalhadores da mídia.
Profissionais da imprensa oficial e alternativa e advogados acompanhavam desde o início da noite a movimentação de cerca de 150 manifestantes que saíram em passeata pelo Centro. Após se concentrarem na Câmara de Vereadores, o grupo seguiu para a Alerj. Houve um princípio de tumulto e o grupo voltou para as imediações da Câmara.
No caminho um grupo de vândalos apedrejou pelo menos três agências bancárias. Uma pessoa foi detida e levada para a 5ª DP (Gomes Freire). Parte seguiu para o Largo do Machado, onde o grupo se dispersou por volta de 23h. Não houve registro de danos ou confrontos na Zona Sul.

De acordo com o cinegrafista da Rede Record, Paulo Rubert, de 40 anos, os manifestantes já tinham dispersado e alguns profissionais estavam no Largo do Machado, de onde seguiriam de volta ao Centro, quando foram informados que jovens manifestantes estavam sendo agredidos por PMs na Rua do Catete. Todos seguiram para o local.
Ainda segundo Paulo, que trabalha há cinco anos como mochilink da Record, a primeira imagem registrada foi de uma mulher nua que tentava se desvencilhar da abordagem dos PMs do Choque. Os policiais impuseram aos jornalistas que mantivessem uma distância de 30 metros do local onde estavam acontecendo a revista aos suspeitos, o que foi respeitado, segundo ele. O cinegrafista afirmou que a confusão teve início quando o sargento Paulo Geovani, do Choque, mandou que outro cinegrafista apagasse a luz da câmera. Irritado, ele atacou os jornalistas com gás de pimenta.
"Fiquei tonto, a visão prejudicada e perdi a respiração. Encostei em um canto e ajoelhei. Ele veio mandando que a imprensa saísse e começou a me agredir com socos e pontapés. Pergunto: porque ele fez isso comigo? Não só eu como qualquer jornalista não merece esse tratamento. A violência não foi contra mim, foi contra todos", decretou Paulo Rubert, que foi encaminhado para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
Mesmo debilitado pelos efeitos dos gases, o profissional da Rede Record continuou gravando a própria agressão a que foi vítima. A lenta da câmera foi afetada pelo gás de pimenta. Ele revelou ainda que a justificativa de alguns PMs era de que os profissionais de imprensa estavam compactuando e incentivando os manifestantes. Acostumado a cobertura perigosas operações policiais em comunidades do Rio, ele se disse indignado com o ataque aos colegas. "Mostrou uma PM despreparada. Nada estava acontecendo que justificasse essa violência toda", finalizou Rubert.
O fotógrafo e cinegrafista Daniel Cruz, de 32 anos, do canal de internet Câmera Aberta, gravou o momento em que o sargento Geovani tenta desligar a luz de sua câmera e jogando gás de pimenta contra os jornalistas. Outros profissionais registraram o ataque e o início da correria. Tiros de bala de borracha também foram desferidos em direção aos repórteres cinematográficos. Ele e outros colegas registraram queixa contra os PMs do Choque na 9ª DP (Catete).

"O militarismo está incongruente com a prática do estado de direito que garante a ordem democrática", analisou Carlos Eduardo Martins, advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH). Dois colegas dele do IDDH e outros quatro do Grupo Habeas Corpus, registraram queixa contra os PMs do Choque. As duas entidades estão colhendo imagens feitas por cinegrafistas para servirem de prova contra a atuação do Choque.
Polícia Civil abriu inquérito para apurar ação em delegacia
Carlos Eduardo lembrou ainda o incidente da noite de quarta-feira. PMs do Choque foram acusados de atirar indiscriminadamente balas de borracha e bombas de efeito moral, além de usar spray de pimenta e gás lacrimogênio, em direção à 9ª DP para dispersar um grupo de manifestantes que aguardava a liberação de 29 pessoas detidas durante um protesto, em Laranjeiras. Advogados, manifestantes e jornalistas se refugiaram na entrada da 9ª DP. A porta de vidro foi estilhaçada por um tiro de bala de borracha efetuado pela PM, segundo testemunhas.
Bombas de gás lacrimogênio também foram lançadas em direção ao grupo, de acordo com testemunhas. A fumaça acabou invadindo a delegacia e intoxicando policiais civis que estavam de plantão. Irritados, os agentes chegaram a interpelar e pedir que os PMs se contivessem. O diretor do Departamento Geral de Polícia da capital, delegado Ricardo Dominguez, abriu um inquérito para investigar a ação do Choque.
A mulher que acabou despida após ser abordada pelos policiais na noite desta segunda-feira foi identificada como Cláudia Aparecida Florêncio, de 35 anos. Portadora de uma deficiência mental, segundo amigos, ela foi levada para prestar queixa na 9ª DP. Ela passou mal na delegacia e teve que ser levada de ambulância para a Coordenação de Emergência Regional (CER) no Leblon. A mulher foi medicada e depois liberada.
O jornalista independente Roger Naught disse que vai iniciar uma campanha internacional nas redes sociais de defesa aos jornalistas e advogados que atuam durante as manifestação de rua no Rio de Janeiro. Segundo ele, as duas categorias se tornaram alvos em potencial da polícia e estão expostos a todos os riscos durante os protestos.
Nenhum dos PMs - inclusive o sargento acusado - deram declarações ao deixar a delegacia por volta das 2h.