Rio - A Polícia Militar acredita que mais 100 homens no patrulhamento noturno das UPPs das favelas do Alemão e Nova Brasília serão suficientes para acabar com os atentados que vêm colocando em xeque a pacificação dos complexos do Alemão e da Penha. A decisão foi tomada ontem, depois de novo episódio de violência, que deixou um adolescente de 12 anos e três PMs baleados na Nova Brasília.
Com o reforço, as duas unidades terão 760 PMs. O número é maior que muitos batalhões, como os de Niterói e Maricá (12º BPM) que tem 700 homens; o de Mesquita, Nova Iguaçu e Nilópolis (20º BPM), cujo efetivo é de 600; e o de São Gonçalo (7º BPM), onde há 700 policiais.

Desde maio, quando houve tiroteiro durante a Corrida pela Paz — da qual participava o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame —, ataques a bala e incêndios trazem de volta lembranças do tempo em que quadrilhas controlavam a favela, tomada pelas forças de segurança em novembro de 2010.
Na noite de terça-feira, Thiago Antonio da Silva, 12, foi atingido por um tiro na coxa, quando estava na casa da avó, na favela Nova Brasília, e está internado no Hospital Souza Aguiar. “Ele gritava de dor. Nunca passei por situação como essa, de socorrer alguém baleado”, disse Shirley Pontes Gomes, tia de Thiago.
Na troca de tiros, três PMs da UPP foram atingidos. Um deles passou por cirurgia para retirar a bala do ombro. Nenhum corre risco de morte.
CUFA REINICIA TRABALHO
Esta semana, a Central Única das Favelas (Cufa) suspendeu os serviços sociais no Alemão, alegando solidariedade à outra ONG, o AfroReggae, que já fizera o mesmo em função de ameaças, em julho, e reabriu o atendimento à comunidade no fim do mesmo mês.
Nesta quarta, a Cufa também voltou a atuar no Alemão, segundo a responsável administrativa da unidade, Viviane Barbosa. “Reabrimos hoje (ontem) e tudo está calmo no Alemão”, contou.
A sede do jornal Voz da Comunidade e uma pousada do AfroRaggae foram incendiados em 16 de julho. Outra sede da ONG já havia sido atacada a tiros.
Menos de um mês depois do incêndio da pousada, em 14 de agosto, as chamas consumiram três ônibus no Parque Proletário, no Complexo da Penha, vizinho ao Alemão. Na ocasião, equipes da UPP foram atacadas a tiros e pedradas. O Complexo da Penha também foi ocupado pela polícia em 2010.
Ataque foi ordenado por dois chefões
Marcada para o sábado 27 de maio deste ano, a Corrida pela Paz foi uma iniciativa do governo do estado com apoio do AfroRaggae. Duas semanas antes do evento, os traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, se reuniram na penitenciária federal de Catanduvas (PR) e teriam combinado ataques ao líder do AfroRaggae, José Júnior, segundo investigação feita pela Delegacia de Combate às Drogas (Dcod).
Nem mesmo a presença do secretário de Segurança José Mariano Beltrame impediu os bandidos de atirar contra os participantes da corrida, causando tumulto e desespero. Cerca de 800 inscritos desistiram da prova, e a polícia teve que acionar o Bope e o Batalhão de Choque para garantir o evento, cuja largada foi adiada em mais de uma hora.