Rio - ‘Sou uma moradora que não fica sentada reclamando. Levanto e faço alguma coisa’. Foi assim que Patrícia Miranda, de 42 anos, conseguiu articular reunião entre comerciantes da Lapa e o comandante do 5º BPM (Praça da Harmonia), para tratar do aumento recente do número de assaltos na região. Ela percebeu o crescimento no número de casos de roubo no comércio do bairro e juntou cópias dos registros de ocorrência para entregar à PM e pedir maior efetivo policial. O encontro foi confirmado pela assessoria da PM e acontecerá na tarde de terça-feira, no Clube Militar, no Centro.
O número de roubos a estabelecimentos comerciais registrados na 5ª DP (Mem de Sá) aumentou 77,7%, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Nos primeiros sete meses de 2012, foram registrados 27 assaltos. Neste ano, já foram cometidos 48 delitos. Bares e restaurantes foram os principais alvos de ladrões.
CUIDADO COM CELULARES
No mesmo período, o números de roubos de aparelhos celulares saltou 65%: de 58 em 2012 para 88 em 2013. Já o de roubos em coletivos saltou de 23 para 28.
Patrícia acredita que certas áreas do bairro são alvos frequentes dos bandidos. “A PM e a Guarda Municipal só estão dos Arcos da Lapa até a Rua do Lavradio”, critica. No ‘dossiê’ que ela montou, aparecem registros de assaltos em estabelecimentos na Rua dos Inválidos, Riachuelo e André Cavalcanti. No começo de setembro, vigia de tinturaria foi assassinado por supostamente ter reagido a assalto.
Grande parte dos roubos ocorreu na madrugada, quando esses locais estão fechando, ou no horário de abertura, no começo da manhã. Na Rua dos Inválidos, porém, um comerciante, que preferiu não se identificar por temer novos roubos, foi assaltado à luz do dia em junho. “Eram quatro homens armados que entraram aqui, ao meio-dia. Nenhum policial passou perto”, relatou.
Alcides Alves, delegado da 5ªDP, reconheceu o aumento do número de crimes, mas considera a taxa normal. “Alguns crimes fugiram da normalidade, foram mais violentos, mas a Polícia Civil está investigando”, indicou. Ele acredita que esses assaltos foram feitos por mesmo grupo armado, entre maio e julho. Em nota, a PM informou que ‘o comando do 5º Batalhão implantou sistema de policiamento a pé na Lapa’. O texto também informa que a PM está atuando para reduzir os crimes na área.
Reforma e academia em praça
Essa não é a primeira vez que Patrícia resolve tomar alguma atitude pela Lapa. Ela afirma que foi à Prefeitura do Rio e conseguiu que a Praça da Cruz Vermelha fosse reformada e recebesse uma academia da terceira idade, em novembro passado.
Geralmente, ela não conta com a ajuda de ninguém para seus projetos.“Vou sozinha, organizo abaixo-assinado e depois procuro alguma forma de entregar para as autoridades”, contou Patrícia.
Para ela, seu bairro está abandonado. “Tudo aqui na Lapa se deteriora. Prefiro fazer algo com minhas mãos do que ficar esperando os políticos”, afirmou.
‘Às segundas, é difícil ver policial na rua’
Diz o ditado que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Se o assunto for a criminalidade na Lapa, a máxima popular não se aplica.
Entre maio e junho, um comerciante do bairro foi assaltado duas vezes. Curiosamente, segundo ele, o mesmo grupo armado agiu na segunda-feira, em dias chuvosos. “Segunda é um dia difícil de ver policiais na rua. Chovendo, é praticamente impossível. Os bandidos se aproveitaram”. Entre os roubos, ele fez registros na 5ª DP, mas não adiantou. “Falta policiamento ostensivo aqui”.