Por bferreira

Rio - A cada passo, uma arte revelada aos pés dos cariocas. Símbolos das calçadas do Rio, as pedras portuguesas merecem cuidados semelhantes às suas detalhadas composições. Na intenção de recuperar os mosaicos e prevenir acidentes, a Secretaria Municipal de Conservação expandiu o projeto ‘Calceteiro’ para a região central da cidade. A iniciativa começou em 2011, na orla da Zona Sul, e promete chegar até o fim do ano à Zona Norte.

Profissional fixa pedra de calcário%2C faz nivelamento%3A mosaico consertadoAlexandre Vieira / Agência O Dia

O projeto resgata ainda a imagem e o ofício do calceteiro — responsável qualificado para o trabalho específico de fixação e recuperação de pedras portuguesas —, tradicional em Portugal.

Seis calceteiros percorrem, há algumas semanas, as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, fazendo reparos. A calçada do Theatro Municipal foi a primeira a ser contemplada. Segundo o secretário de Conservação, Marcus Belchior, a escolha tem um porquê: o local foi o primeiro a receber as pedras, trazidas por Pereira Passos, no início do século 20. “As pedras portuguesas são uma marca internacional do Rio. A cidade tem demanda de recuperação de calçadas públicas, e a nossa responsabilidade é fiscalizar”, declarou.

A advogada Camille Gomes, 37, que vai diariamente ao Centro, aprova: “É importante tanto pelo valor cultural quanto pela segurança de pedestre, que se acidenta quando a calçada está mal conservada”, pontuou. “O desafio é grande, mas vamos conseguir. É uma parceria entre poder público e cidadão, o maior fiscal que nós temos”, disse Belchior.

ORGULHO DO OFÍCIO

Calceteiro há mais de 20 anos, Gedião Azevedo, 50, fez curso com profissional português e se orgulha do ofício: “É trabalho de formiguinha. Fixamos a pedra de calcário e fazemos nivelamento, consertando o mosaico”. Ele pede cuidado: “Em feiras, por exemplo, alguns arrancam as pedras para fixar barracas. Isso não pode”, condenou.

Orla foi revitalizada ano passado

No ano passado, foram recolocadas 7 mil pedras portuguesas ao longo da orla de Copacabana. Nas de Ipanema e Leblon, 2.500. Segundo a secretaria, o Rio possui 1,218 milhões de m² de calçamento de pedras: algumas áreas, como Copacabana, são tombadas.

Coordenador do projeto Roteiros Geográficos do Rio, da Uerj, João Baptista Ferreira de Mello lembra o valor histórico das pedras portuguesas. “Manaus foi a primeira cidade a recebê-las, no século 19. Já no século 20, Pereira Passos trouxe para o Rio. Temos belos desenhos, como o do Palácio São Joaquim, com símbolos do Vaticano; as partituras de Noel Rosa em Vila Isabel”.

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