Por thiago.antunes

Rio - Prestigiada em evento internacional em Nova Iorque (EUA), terça-feira, sobre novas tecnologias de investigação no Google Ideas, a soldado Vanessa Coimbra, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, aterrissou nesta quarta-feira no Rio com missão muito mais espinhosa e longe da pompa: enfrentar o banco dos réus.

A soldado é um dos 25 denunciados pelo Ministério Público por envolvimento na tortura e morte do pedreiro Amarildo de Souza, 47 anos, dia 14 de julho, na Rocinha. Ontem três policiais que tiveram a prisão decretada pela Justiça se apresentaram à Polícia Militar. Ao todo, 13 estão presos. O equipamento apresentado por Vanessa filma ações policiais e está sendo testado no Rio.

Buscas ao corpo de Amarildo na Rocinha. Família ainda não recebeu pensão que secretaria tem que pagarAlessandro Costa / Agência O Dia

Câmeras da Rocinha não filmaram agressões a Amarildo. Segundo a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, Vanessa viajou para Nova Iorque sexta-feira e até terça-feira, o órgão não sabia que ela seria denunciada pela morte de Amarildo. A autorização foi dada pela comandante da UPP Rocinha, major Pricilla de Oliveira. Ela responderá em liberdade por tortura seguida de morte por omissão, formação de quadrilha e fraude processual.

“É inacreditável que represente o Estado, no seu maior projeto de segurança, no dia em que é denunciada à Justiça”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Marcelo Freixo, do PSOL.

Para o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público, Márcio Mothé, isso reflete a política da PM de não ter retirados os suspeitos da UPP. “Os investigadores da Divisão de Homicídios tiraram leite de pedra pelo fato dos PMs não terem sido afastados. Houve tempo para forjar provas e coagir testemunhas. Ontem ainda (terça-feira) tinha acusados na UPP”, analisou Mothé.

Major Edson Santos continuará preso em BanguAlessandro Costa / Agência O Dia

PM diz que soldado foi escolhida por ser a única que fala inglês fluente

A Polícia Militar informou que a soldado Vanessa Coimbra foi escolhida pelo Instituto Igarapé, responsável pelo projeto, por ser a única da unidade fluente em inglês. Desde o início do ano, a entidade testou celular com câmera, instalado no bolso da frente do uniforme de PM, gravando tudo que é visto em serviço em policiais das UPPs do Batan, Caju e Rocinha.

Batizado de Smart Policing, a ferramenta — aplicativo no Brasil, desenvolvido pelo Igarapé com apoio do Google — foi demostrado por Vanessa terça-feira. No Rio, os testes aconteceram durante três meses sempre dias úteis e em horário comercial nas UPP. Portanto no dia 14 de julho, que era um sábado, quando Amarildo foi capturado durante a operação Paz Armada, que visava prender traficante, o equipamento não estava sendo utilizado por PMs.

Todas as imagens gravadas em cada dia de teste foram apagadas. Somente a partir da implantação, prevista para janeiro do ano que vem, as imagens serão armazenas. Inicialmente 100 celulares com câmeras serão utilizados.

Major Édson é mantido em Bangu 8

A 8ª Câmara Criminal determinou que o major Edson Santos e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, ex-comandante e su da UPP Rocinha, continuem presos em Bangu 8. São acusados de influenciar testemunhas.

Para a juíza Daniella Prado os policiais usavam meios imorais. O Ministério Público pediu e a Justiça arquivou a investigação contra quatro PMs que colaboraram com as investigações.

O advogado da família de Amarildo, João Tancredo, pediu à Justiça ontem a decretação da prisão secretário estadual de planejamento Sérgio Ruy Barbosa pelo não-pagamento de pensão. A secretaria informou o valor poderá ser sacado por Elizabete Gomes da Silva, mulher de Amarildo, hoje.

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