Por thiago.antunes
Rio - Conhecida por criar máscaras de personalidades famosas e irreverentes para o Carnaval, a fábrica Condal, em São Gonçalo, apostou esse ano num personagem que em nada lembra a alegria da festa mais popular do país. A empresa está confeccionando máscaras com o rosto do pedreiro Amarildo de Souza, torturado e morto por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha há seis meses. O corpo dele ainda não foi encontrado.
Fábrica vai criar 50 mil rostos do pedreiro que foi morto pela a políciaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

A ideia promete criar polêmica já que persnalidades ligadas ao samba não gostaram da iniciativa. No entanto, a dona da fábrica, Olga Valle, espera confeccionar até 50 mil unidades. Dez por cento do lucro com as vendas vão para a família do pedreiro.

“É uma história trágica, mas essa ideia é uma forma lúdica de contá-la. Dessa maneira, quem sabe consigamos sensibilizar mais as pessoas sobre o caso. É também uma maneira de transforma-lo num ícone e para que histórias como essa não aconteçam de novo”, justificou Olga.
Ela já havia criado máscaras do Amarildo que foram usadas por Caetano Veloso e Mariza Monte no show "Cadê o Amarildo" no Circo Voador, na Lapa, em 2013, em benefício da família da vítima.
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A novidade espantou o carnavalesco e colunista do DIA, Milton Cunha. “Isso é macabro. Por que você botaria a máscara de um assassinado para dançar, beber, comemorar? Nas tribos africanas elas são usadas para evocar um ancestral, um mito heroico, divinizado e sem nome. Mas nem por esse lado dá para usar porque o Amarildo não foi divinizado, ele foi martirizado. É muito diferente de usar uma máscara de um político para debochar de uma situação”, criticou Milton.
O sambista Haroldo Costa não gostou da ideia. “Usar uma máscara de uma pessoa que foi morta e o corpo ainda nem foi encontrado não é adequado para o Carnaval”, avaliou ele. A porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso, sugere que a empresa busque outro personagem. “Não acho isso bom. A família ainda está triste. O caso dele não é brincadeira. É uma história dolorida para todos, por isso não combina com o Carnaval. Tem que procurar outro personagem”, disse ela.
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