Por bferreira

Rio - É famosa aquela frase: “Cada um sabe onde o sapato aperta.” E ela é bem adequada quando a gente quer falar de dor. Não da dor física, mas da emocional, daquela que diz sobre os sofrimentos experimentados ao longo da vida. Porque o que é uma dor profunda para mim, pode não ser para você; e vice-versa. Você concorda comigo que não é incomum ouvirmos o desabafo de uma pessoa sem entender como algo que, aos nossos olhos, é tão simples, pode ser tão sofrido e complexo para ela? Isso acontece porque somos diferentes, temos perspectivas e histórias de vida que são individualizadas. Ninguém reage igual a ninguém.

Por todos esses aspectos é que, diante do sofrimento de algum irmão, a nossa postura precisa ser de acolhimento e respeito. Ainda que não nos seja possível compreender a proporção daquela dor... No entanto, é bom a gente refletir sobre se a forma como lidamos com os nossos próprios sofrimentos tem sido autêntica ou sensacionalista. Porque muitas vezes usamos as dores que nos assolam para atrair a atenção de quem amamos, já notou? Às vezes tenho a sensação de que o cotidiano gera em nós carências tão grandes que, inconscientes ou até mesmo conscientes, supervalorizamos as dores para outros propósitos que temos... E isso não me parece bom, porque observo que muitos se perdem nas proporções do que externam sentir e isso dá aos problemas dimensões ainda maiores e ares de insolubilidade...

A fé e a graça que Deus tem me concedido de conviver com muitos irmãos me ensinaram algo lindo: diante de um grande sofrimento, é preciso ressignificar a vida. Ou seja, dar ao que estamos vivendo um novo significado. O sofrimento não pode ser vão. Temos que extrair dele aquilo que nos é possível, para nós e para os outros. E nos é possível mais do que amadurecimento, acredite! É possível, inclusive, unir nossas dores às de Jesus na cruz, para a salvação da humanidade. Há algo mais importante do que isso?

Neste ano em que nossa Arquidiocese nos convida a viver a caridade, temos crescido na fé com o texto que São Paulo escreveu aos coríntios.

Refletindo, vamos aprendendo que a caridade “é paciente, bondosa, não tem inveja, não é orgulhosa, não é arrogante” (I Cor 13,4). “Nem escandalosa.” (I Cor 13, 5a)

Percebo que as mães que perderam seus filhos como vítimas da violência têm muito a nos ensinar sobre a caridade. E, mais do que isso, sobre ressignificar a vida. Converse com uma delas, mesmo que pela internet. Sem dúvida, a dor de perder um filho é uma das mais profundas. Seja por desaparecimento ou morte. Mas o alarde que grande parte dessas mulheres faz parece ser para exaltar a dor? Então por que tantas delas usam seu sofrimento como exemplo para alertar a sociedade, seja por meio de cartazes em locais públicos ou por campanhas nas mídias sociais? Elas ressignificam suas vidas ao tentar que outros não sofram pelos mesmos motivos!

Eu preciso deixar que os meus sofrimentos não sejam vãos e ressignificar minha vida a partir das dores. E você, topa esse desafio? ‘Tamu junto’!

Padre Omar: é o Reitor do Santuário do Cristo Redentor do Corcovado. Faça perguntas ao Padre Omar pelo e-mail padreomar@padreomar.com. Acesse também www.padreomar.com e www.facebook.com/padreomarraposo

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