Por bianca.lobianco

Rio - Ana de Oliveira, de 40 anos, vive com os três filhos em um barraco feito com sobras de madeiras e compensados, na Mclaren, localidade das mais esquecidas do Complexo da Maré, que começaria a ser ocupado pelas Forças Armadas esta madrugada. Beirando um valão e a Linha Vermelha, entre as favelas do Timbau e Vila dos Pinheiros. Lá vivem 30 famílias, sem qualquer saneamento básico. Os moradores estão cadastrados para serem removidos, alguns há quanto anos, e aguardam receber suas casas. Com a chegada das forças de pacificação,eles esperam ser enxergados pelo poder público.

Na Mclaren, as famílias só têm uma forma de conseguir água, através de um cano quebrado. Ali, os moradores tomam banho, escovam os dentes, lavam louça e levam a água para suas casas para beber. Não raro, ficam doentes. A forma como a água é disposta deixa o chão dos barracos constantemente úmido. O problema não é só a falta de água, mas também quando ela vem em excesso. Margeada por um valão, o local sempre alaga quando chove.

Simone espera sair da localidadeSeverino Silva / Agência O Dia

Desempregada desde que descobriu que estava com Aids, há oito anos, Ana sustenta os filhos com apenas R$ 290 que recebe do Bolsa Família. As crianças, de 17, 8 e 5 anos, estão matriculadas na escola. Todos dormem em um único colchão, achado na rua. Pela forma como são construídos, os barracos são repletos de goteiras. Para dar conta dos ratos, Ana cria gatos. “Os gatos matam os matam para nos protegem e conseguimos dormir mais tranquilos”, disse Ana.

Alexandra, de 4 anos, foi vítima de uma ratazana enquanto dormia. A menina foi arranhada no rosto. Sofrendo de bronquite, por causa da umidade, ela não se preocupa em brincar pela região. Ontem pela manhã, a sua diversão foram seis potes vazios de iogurte, que encontrou no lixo, e viraram carrinhos. Seu almoço foi um pão doce, comprado por R$ 0,50, que dividiu com outras três crianças.

A mãe dela, a desempregada Simone da Conceição dos Santos, de 37 anos, era moradora de uma invasão na Rua do Riachuelo, na Lapa. E está na Mclaren há quatro anos. Ela disse que é melhor viver nessas condições, apesar de insalubres, do que ter que deixar a filha na rua. Porém, sonha em viver em uma casa onde a água caia da bica e do chuveiro: “A prefeitura nos cadastrou. Estamos esperando”.

Comunidade surgiu há 30 anos

A comunidade surgiu há cerca de 30 anos, quando o estaleiro McLaren, na Rua Praia de Inhaúma, foi desativo e invadido. Um dos moradores mais antigos é Robson Borges, de 39 anos, 25 deles no local. Desempregado, ele contou como foi a evolução (ou a falta dela) na McLaren. “Pessoas que não tinham para onde ir foram se juntando aqui e estamos tentando viver. Mas de lá pra cá nenhum serviço público foi prestado. Até hoje não temos água, por exemplo”, disse.

Para o presidente da Associação de Moradores do Timbau, Osmar Paiva, o trabalho a ser feito na McLaren não é apenas de cadastrar os moradores. Segundo ele, é preciso que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social realize frentes de saúde, educação e inclusão com os moradores, a maioria desempregada. “Eles vieram aqui, cadastraram os moradores e tiraram documentos, mas o saneamento não chegou. Não dá pra viver nessas condições”.

A secretaria informou que já realiza um acompanhamento de todas as famílias da localidade. Já a Secretaria Municipal de Habitação informou que a Prefeitura do Rio tem como prioridade, em termos de reassentamento, tirar até 2016 todas as famílias que vivem em áreas de alto risco de encostas na cidade. E que não há previsão de quando os moradores da McLaren serão removidos.

Ocupação do Exército sem baile funk

Na véspera da ocupação do Complexo da Maré pelas tropas militares, o clima nas comunidades era tranquilo. Neste sábado, 2,7 mil homens, a maioria do Exército, além da Marinha, PM e Polícia Civil, vão ocupar a região. Presidentes de associações de moradores contaram que foram procurados por militares, a fim de negociar com moradores que não houvesse festas, principalmente bailes funk, neste fim de semana. A ideia é evitar grande concentração de pessoas nas ruas.

“Eles comentaram que depois irão liberar tudo. É só pra poderem ocupar tudo”, falou um líder comunitário.


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