Por felipe.martins

Rio - O coronel reformado do Exército Paulo Malhães, que confessou ter sumido com o corpo do deputado Rubens Paiva na época da ditadura, foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira em sua casa, em um sítio do bairro Marapicu, no interior de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. De acordo com a Delegacia de Homicídios da região, três homens invadiram a residência de Malhães na tarde dessa quinta-feira. Ele ficou em poder dos bandidos por nove horas. As investigações apontam que o coronel foi abordado às 13h e ficou refém até as 22h. Cristina Batista Malhães, viúva do coronel, também foi rendida e trancada em um quarto. O caseiro também ficou trancado em outro cômodo.

>>> GALERIA: Coronel reformado afirmou que participou do sumiço de deputado

Coronel reformado do Exército, Paulo Malhães, participou do sumiço do deputado Rubens PaivaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

A mulher e o caseiro do ex-coronel foram chamados para prestar depoimento. De acordo com a DH, a vítima não tinha marcas de tiros no corpo. Segundo agentes que realizaram a perícia no local, o militar da reserva morreu por asfixia. Um rifle e uma garrucha antiga foram apreendidas pelos policiais e impressões digitais foram colhidas para análise. 

Crueldade nos porões

O DIA divulgou no dia 26 de março deste ano que o ex-coronel Paulo Malhães relatou à Comissão da Verdade técnicas para ocultar cadáveres de presos políticos em prisões clandestinas como a Casa da Morte, em Petrópolis. Em depoimento, o militar da reserva de 76 anos admitiu que torturou e matou militantes nas prisões clandestinas da repressão.

“Quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária, digitais e só”, respondeu ele aos questionamentos de José Carlos Dias, membro da CNV. “Quebrava os dentes. As mãos, não (eram cortadas). Cortavam-se os dedos. E aí se desfazia do corpo… Eu não era tão especialista assim, existia gente mais especialista do que eu”, disse.

Os guerrilheiros assassinados eram aqueles que, após serem presos, não concordavam em trabalhar para o Exército como agentes infiltrados em suas organizações de esquerda. Malhães também explicou que as mutilações nos corpos eram feitas em quartinhos das prisões clandestinas. Questionado diversas vezes sobre quantos presos políticos matou, o coronel disse não lembrar. “É impossível determinar quantos”, afirmou.

Inês Etienne e Coronel Paulo Malhães: cara a cara com a torturaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

O militar também admitiu que não tem nenhum arrependimento dos crimes que cometeu. “Eu acho que eu cumpri o meu dever”, declarou. Questionado sobre seu envolvimento no desaparecimento da ossada de Rubens Paiva, ele disse que recebeu a missão do Centro de Informações do Exército, mas não conseguiu cumpri-la pois foi acionado para outra ação. Em outro momento do depoimento, disse que os restos mortais de Rubens Paiva eram “uma massa morta, enterrada e desenterrada”. “Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele.”

Em entrevista exclusiva ao DIA publicada no dia 20 de março, Paulo Malhães assumiu que foi um dos comandantes da missão que sumiu com a ossada de Paiva em 1973. O DIA reafirma o contéudo da reportagem. O coronel afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram “sanções” depois que suas declarações foram publicadas.

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