Por thiago.antunes

Rio - Eles carregam o Maracanã no sobrenome, mas estarão fora da Copa. Impedidos pela Fifa e pelo governo estadual de assistir ao Mundial em suas cadeiras cativas, os proprietários dos assentos — a maioria filhos e netos daqueles que compraram os lugares para ajudar na construção do estádio, inaugurado em 1950 — ainda lutam na Justiça para mudar as regras do jogo. Há mais de 200 processos e apenas um (com cinco autores) teve decisão totalmente favorável — mas ainda cabe recurso.

Os processos movidos com o mesmo objetivo, no ano passado, durante a Copa das Confederações, e que tiveram decisão favorável, não foram adiante. A presidência do Tribunal de Justiça suspendeu as liminares, acolhendo pedido do governo estadual, que alegou que haveria risco de comprometer o evento, pois houve acordo com a Fifa de entrega de 100% das cadeiras do Maracanã.

Os proprietários até vão receber uma indenização por não poderem usar as cadeiras na Copa. Mas são valores equivalentes aos preços dos ingressos. Em decreto de 24 de abril, o governo estipula as quantias — que vão de R$ 350 a R$ 1.980. Quem está nesta batalha judicial para assistir ao Mundial em sua cadeira é o advogado e ex-presidente do Flamengo Antonio Augusto Abranches, de 77 anos.

Antonio Augusto Abranches viu a final da Copa de 50 em uma cadeira cativa da família no Maracanã. Ele e a filha Luciana entraram na JustiçaJoão Laet / Agência O Dia

Ele viu a Copa de 50, depois que seu pai comprou os assentos — cuja venda teve como objetivo ajudar a levantar recursos para a construção do estádio: “O que fizeram foi uma falcatrua. Quero receber a minha cadeira e vou brigar até o fim”.

Sua filha, Luciana Abranches, 52, também advogada, representa 40 pessoas nestes processos: “Estão usurpando um direito real de propriedade. Estamos sendo lesados, e não simplesmente perdendo uma entrada. Não podemos ser indenizados com o valor do ingresso”, disse ela, que também pede realocação das cadeiras: depois da reforma, a posição dos assentos foi alterada.

“Nunca fomos procurados pelo estado para um acordo”, reclamou o advogado Ricardo Amitay, 35, que é titular e representa, na Justiça, mais de 200 donos de cadeiras, entre eles cinco que conseguiram vitória judicial. Porém, ele acredita que o estado pode novamente conseguir suspender a decisão.

O engenheiro Geraldo Baltar reclama que até hoje não recebeu o ressarcimento da Superintendência de Desportos do Rio (Suderj), solicitado em outubro de 2013: “Tentei o meu direito na Copa das Confederações e não consegui”. A Suderj informou que não há possibilidade de os titulares usarem as cadeiras e que recebeu 1.073 pedidos de indenização pela Copa das Confederações — 444 ainda não foram pagas.

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