Por thiago.antunes

Rio - A cerca de um mês da Copa do Mundo, um sequestro a um ônibus da linha 723, que faz o trajeto Mariópolis-Cascadura, fez lembrar o traumático episódio do ônibus 174, em 2000, quando a professora Geisa Firmo Gonçalves foi morta. A ação ocorreu na Avenida Brasil, na altura de Guadalupe, sentido Zona Oeste. Uma jovem identificada como Rafaela Lobo, de 18 anos, moradora de Anchieta, na Zona Norte do Rio, foi rendida com uma tesoura por duas horas e meia, mas escapou sem ferimentos.

Segundo a polícia, o sequestro começou em meio a um surto de Paulo Alberto Ferreira da Silva, de 32 anos. Ele já tem cinco passagens pela polícia por furto, roubo e uso de entorpecentes. O morador da Mangueira estaria sob efeito de crack e se sentia perseguido. Inicialmente, divulgou-se que o sequestro havia começado como uma tentativa de assalto, mas essa informação foi desmentida posteriormente pela Polícia Militar.

O ônibus da linha 723 ficou parado durante mais de duas horas em uma das pistas da Avenida Brasil%2C enquanto agentes da polícia negociavam a rendição do sequestradorJoão Laet / Agência O Dia

Por volta das 17h, Silva sacou a tesoura, que era nova e ainda estava dentro da embalagem, e rendeu a passageira Rafaela. O motorista do coletivo, Júlio Cesa Pereira, de 29 anos, abriu a porta para liberar os demais passageiros, mas resolveu permanecer dentro do ônibus em solidariedade a Rafaela e para ajudar nas negociações.

A polícia chegou até o ônibus por meio de uma denúncia pelo telefone 190. Militares do Batalhão de Policiamento de Vias Expressas atenderam ao chamado e iniciaram a negociação. O capitão Rodolfo Leitão foi quem iniciou a conversa com o sequestrador, pela janela do coletivo. Às 17h20, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) foi acionado e enviou 28 militares ao local, dos grupos de negociadores, de atiradores de precisão e de retomada e resgate.

Com 17 anos de experiência na polícia, o sargento Glabson Ferreira, do Bope, assumiu o diálogo com Silva até sua rendição. “Os surtos dele dificultavam a negociação, por isso demorou tanto”, afirmou o major Marcelo Corbage, relações-públicas do Bope. No total, 48 homens foram foram envolvidos na operação.

Clique no infográfico para ver maiorArte%3A O Dia

Segundo Corbage, Silva pediu que uma oração fosse feita antes de sua rendição. O sequestrador tentou fazer contato com alguém de sua família com o telefone da vítima, mas não conseguiu falar com ninguém.
Após a rendição, Rafaela foi atendida pela equipe do Corpo de Bombeiros, que estava no local, e em seguida foi liberada.

Paulo Alberto da Silva%2C 32%2C ameaçou jovem com uma tesouraNonato Viegas / Agência O Dia

Ela e os demais envolvidos no sequestro seguiram para a 39ª Delegacia de Polícia, em Pavuna, para prestar depoimento. Durante o sequestro, a pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Zona Oeste, foi interditada, complicando o trânsito na região. Logo após a rendição, o ônibus foi retirado da via.

Caso 174 virou filme

O sequestro de ontem trouxe de volta a lembrança do trágico caso do ônibus da linha 174, ocorrido em junho de 2000, quando um homem — Sandro do Nascimento — parou o veículo no Jardim Botânico, rendeu o motorista e manteve dez vítimas reféns por cerca de cinco horas. Tudo acompanhado por câmeras de TV.

O episódio acabou com a morte de uma das reféns, a professora Geísa Firmo Gonçalves, e do sequestrador. Depois que o veículo foi interceptado por policiais, Sandro, que estava armado, decidiu descer do veículo usando o corpo de Geísa como escudo. Um oficial do Bope tentou atirar no criminoso, errou a mira e acabou acertando a refém.

Em seguida, policiais imobilizaram o sequestrador e o colocaram dentro da viatura, onde ele morreu asfixiado, enquanto tentava reagir à prisão. O episódio acabou virando um filme .

Outros dois casos também comoveram a população. O sequestrador do ônibus 499, em Nova Iguaçu, André da Silva, 35, manteve sua ex-mulher sob a mira do revólver. A polícia negociou sua rendição e a liberação da refém. Não houve feridos. Outro sequestro, de frescão na Presidente Vargas, ocorreu no fim de 2011. Houve tiroteio entre bandidos e policiais, e cinco pessoas foram baleadas, mas ninguém morreu.

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