Por thiago.antunes

Rio - Apesar de estarem afastados das ruas, seis dos 12 policiais militares do Auxílio à Polícia de Trânsito (Aptran) acusados de cobrar propina a mototaxistas e motoristas de van em pelo menos três favelas pacificadas, continuam no batalhão da Tijuca. A situação desagradou ao promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público, que pediu a prisão preventiva dos PMs por formação de quadrilha, corrupção passiva, associação criminosa e prevaricação.

“Eles não deveriam estar lá. Isso é prejudicial para a investigação. Independente de estarem num trabalho burocrático, esses policiais têm acesso a tudo no batalhão. Se a sociedade não está satisfeita que esses policiais continuem lá, cabe ao Judiciário dar uma resposta”, criticou.

O promotor denunciou a quadrilha fardada do 6º BPM (Tijuca) em outubro de 2013. O caso parou na 20ª Vara Criminal, que pediu o encaminhamento da ação para a Auditoria Militar. O MP recorreu. Sete meses depois, a Justiça ainda não respondeu ao pedido de prisão preventiva.

“Como posso dizer que a PM fez errado (em manter seis PMs no batalhão) se, tecnicamente, eles não são nem acusados no processo? Só posso lamentar a lerdeza da Justiça, que ainda não cumpriu com a sua obrigação, que era receber a denúncia”, argumentou Marcos Kac. Entre os seis policiais que seguem no batalhão da Tijuca, está o subtenente Adalci Dias de Carvalho, apontado pela investigação como um dos principais articuladores da cobrança de propina.

Entre maio e junho do ano passado, o então sargento Adalci foi flagrado em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça enquanto combinava pagamentos e até orientava outros policiais do batalhão.
“As escutas apontam que Adalci tem participação fundamental. Em um dos áudios, chama dois policiais de ‘meus meninos’. Ele era um dos mais atuantes”, afirmou o delegado Roberto Gomes, que conduziu as investigações quando estava na 19ª DP.

O delegado se refere a uma escuta de maio de 2013. Segundo o MP, o grampo mostra quando ele combinou a liberação de três motos do Depósito Público de Curicica a mando do tenente-coronel Márcio de Oliveira Rocha, então comandante do 6º BPM, também indiciado.

Escutas telefônicas

29 de maio de 2013

Às 13h23, o mototaxista Johnny da Silva Oliveira é informado da presença da Aptran na Casa Branca, favela na Tijuca. Minutos depois, Adalci comenta com o cabo Bruno Mendonça que não pode fazer nada, pois a Aptran foi chamada pela UPP.

Mendonça - Pô! Tá entrando dois carros lá na Casa Branca, cara. Liga pra eles lá.
Adalci - Oi.
Mendonça - Fala. A Aptran 2 tá lá na Casa Branca.
Adalci - Eu sei.
Mendonça - Pô, e aí?
Adalci - E aí é o pessoal do... do apoio lá do... pessoal do Borel que pediu apoio.

31 de maio de 2013

Às 18h27, Adalci conversa com um PM para perguntar se ele pagou propina no Bar Bingo da Barão, em frente ao 6º BPM, do comerciante Josias dos Santos, também indiciado.

Adalci - Deixou o negócio no Josias, não?
Policial - Irmão... Nem vim aqui. Chovendo pra c... Vou fazer segunda-feira.
Adalci - Tá. Tá bom.
Policial - Vou fazer segunda-feira. Vou deixar no armário do Mendonça, valeu? Dinheiro dentro do coturno dele.
Adalci - Tranquilo, tranquilo. Ó... Segunda-feira vai colocar câmera, tá?

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