Por clarissa.sardenberg

Rio - O custo elevado da Copa do Mundo no Brasil por causa dos altos índices de corrupção na administração do dinheiro público ganhou destaque no jornal Washington Post. O valor final do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, pode chegar a R$ 1,607 bilhão, sendo a segunda arena de futebol mais cara no mundo, mesmo que a cidade não tenha um "time grande". Tudo isso, somado ao número de protestos contra a realização do Mundial deixa a imprensa internacional em alerta.

A estrutura "imponente" do estádio brasiliense é elogiada, mas a reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal é certeira e diz que os críticos o chamam de "garoto-propaganda para os gastos fora de controle e gestão fraudulenta, ou pior".

As relações suspeitas entre políticos e empresas envolvidas na maioria dos projetos da Copa divulgadas pelo tribunal superior eleitoral foram elencadas. O construtor principal do estádio de Brasília aumentou sua doações políticas 500 vezes na eleição mais recente, mostra a publicação.

Manifestantes protestaram contra a Copa do Mundo nesta quinta-feira no Rio Sandro Vox / Agência O Dia

Políticos 'cães de guarda'

Tais conexões financeiras, entre as empresas de construção e políticos, contribuem para disseminar descrédito e desconfiança com relação ao evento que está por vir. Os políticos brasileiros que fazem esse tipo de "jogo de interesses" podem ser "cães de guarda" eficazes de bilhões de dólares em contratos ao longo da Copa do Mundo.

A raiva da população sobre a corrupção percebida ajudou a alimentar grandes protestos no ano passado, e há temores de mais agitação e que poderiam estragar a Copa, destacou o jornal. O brasileiro não é mais tão "pacífico" quanto se pensava.

"Essas doações estão fazendo a corrupção neste país ainda pior e tornando-se cada vez mais difícil de combater", disse Renato Rainha, um árbitro no Tribunal de Contas de Brasília, que está investigando os gastos no estádio de Brasília. "Esses políticos estão trabalhando para aqueles que financiaram suas campanhas", completou em entrevista.

Estádio Mané Garrincha, em Brasília, é alvo de auditoria fiscalAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Após avaliação de parte do projeto pela auditoria, foi concluído que um terço do custo do estádio pode ser atribuível ao superfaturamento. São US$ 500 milhões de gastos suspeitos até agora.

"Há corrupção na Copa? É claro, sem dúvida", disse Gil Castelo Branco, fundador do grupo Contas Abertas, que preza pela transparência nos gastos do governo. "A corrupção vai onde o dinheiro está e no Brasil hoje, isso significa Copa do Mundo", completou.

O preço de construção ou reforma das 12 arenas quase quadruplicou em relação às estimativas iniciais, ajudando a tornar a Copa do Mundo do Brasil mais cara ainda.

Frustração

Do lado de fora do estádio brasiliense, um segurança entrevistado resumiu o sentimento de frustração de tantos brasileiros em relação aos gastos ostensivos com o Mundial e que de nada vão beneficiar a maior parte do povo.

"Isso aí é um monumento para a tristeza e desperdício nacional", disse Paulo Rodrigues, apontando para o Mané Garrincha. "Não sou contra a Copa. Estou frustrado com toda a corrupção envolvida. Quando os políticos constroem uma estrada, mesmo que hajam propinas, pelo menos, no final de tudo temos uma estrada. Com este estádio, não temos nada", completou.

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