Rio - Cerca de 300 pessoas, entre amigos, familiares e colegas de trabalho, compareceram ao enterro do mototaxista Caio Moraes da Silva, de 20 anos, no Cemitério do Caju, na Região Portuária do Rio. Ele morreu durante tiroteio no Complexo do Alemão na última terça-feira.
Antes do sepultamento, os mototaxistas realizaram um ato com faixas e levantaram os capacetes em forma de protesto pela morte do jovem. Uma oração foi realizada e o hino do Flamengo, time de coração do rapaz, foi cantado. O corpo foi enterrado sob salva de palmas.
Emocionada, a mãe de Caio cobrou a solução do caso. "Espero que a polícia se empenhe e descubra quem foi o autor dos disparos. Tenho apenas uma certeza, quem atirou, atirou para matar", disse Denise de Moraes da Silva, de 49 anos. "Tudo tem que ser mudado, a estrutura tem que ser revista de cima para baixo. Quem mora na comunidade, conhece os excessos da polícia", completou.
Os moradores planejam um protesto em frente à Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) na Avenida Itaoca, em Bonsucesso, próxima ao Complexo.
O mototaxista foi ferido fatalmente na noite de terça-feira após uma manifestação de moradores do Alemão contra a prisão de um homem. Traficantes atiraram contra os policiais, que revidaram. Na troca de tiros, o mototaxista acabou morto. Um homem de 56 anos, identificado como Fausto Sobral, foi baelado na perna. Ele está internado no Hospital Getúlio Vargas. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, ele passa bem.
O protesto no Alemão na noite de terça reuniu cerca de 50 moradores contra a apreensão de um menor acusado de envolvimento com tráfico. Os manifestantes com cartazes interromperam o trânsito e caminharam pela Rua Joaquim de Queiroz, Estrada do Itararé e Avenida Itaoca, as três principais vias do complexo.
Um ônibus foi queimado na Estrada Adhemar Bebiano (antiga Estrada Velha da Pavuna), próximo ao PAM de Del Castilho. Três homens mandaram passageiros descerem e atearam fogo no coletivo da linha 629 (Irajá-Saens Peña).
Na noite de segunda e madrugada de terça-feira, os confrontos entre a polícia e traficantes foram intensos. Moradores enviaram mensagens para o WhatsApp do DIA (98762-9248) com medo dos tiros e se dizendo reféns do risco, sem coragem para sair às ruas. Não houve registro de feridos, porém, durante a madrugada.
Para reforçar o patrulhamento, PMs de outras UPPs, como dos morros do Adeus e da Rocinha, foram mobilizados e intensificaram as ações na Estrada do Itararé. Houve blitz no Largo do Itararé e perto da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão, que no dia 28 de abril foi destruída em um protesto que também resultou em intensa troca de tiros entre PMs e traficantes.
Só após a chegada de do Batalhão de Choque e do Bope, além de equipes de outras UPPs e dos batalhões da Maré, Tijuca e Méier, a situação foi controlada. Centenas de moradores temiam voltar para casa. Houve troca de tiros no Morro da Serrinha, em Madureira, e no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, no início da madrugada de ontem. As duas comunidades não têm UPP. Não houve registros de prisões ou feridos.