Rio - Comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, 17h30 de quinta-feira passada. Num confronto com traficantes, o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, capitão Uanderson Manoel da Silva, de 34 anos, morre com um tiro no peito. Duas horas depois, armados de fuzis, policiais miliatres reforçam a segurança na região e caçam o assassino. Tudo normal se um dos locais usados como trincheira por policial não fosse o pátio da Escola Estadual Caic Theophilo de Souza Pinto, na Rua do Terço.
O muro do colégio serviu de escudo e, indignados, funcionários, que estavam dentro do prédio do colégio, fotografaram a ação. Na unidade estudam 820 alunos, divididos em 32 turmas. Pais de alunos, estudantes e professores, dizem ser comum PMs usarem a parte interna do colégio para trocar tiros com quadrilhas. Afinal, a própria sede da UPP fica dentro do terreno da escola, conforme admitiu, em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc).
Em 31 de março, o Sepe repudiou, em sua página na internet, a presença da PM nos limites do Caic Theophilo de Souza Pinto. “A presença ostensiva de policiais fortemente armados no interior da escola põe em risco toda comunidade escolar, violenta princípios pedagógicos e limita consideravelmente o desenvolvimento da educação”, diz o texto.
A imagem feita por um funcionário mostra policial apoiado numa mureta, apontando a arma, a menos de quatro metros de uma das salas de aula. Naquele dia, segundo testemunhas, não houve disparos de dentro da unidade. “É uma situação extremamente absurda. É lamentável que docentes e estudantes tenham que se submeter a tamanho risco e humilhação. Estão esperando acontecer uma tragédia para tomar providência”, afirmou Marta Moraes, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe). “Essa tensão é quase diária. O medo toma conta de todos”, lamentou funcionária.
UPP pode mudar base
Em nota, a Seeduc afirmou que “a UPP Nova Brasília está instalada em terreno do Caic Theophilo de Souza Pinto”, mas alegou que, “segundo a direção da unidade escolar, a presença da unidade de polícia não trouxe danos ao colégio”. De acordo com a secretaria, as reclamações em relação ao assunto “não representam a maioria dos professores e alunos.”
“É uma denúncia de um professor ligado ao Sepe. Quanto ao índice de violência nas escolas, não temos levantamento. As unidades escolares estaduais – incluindo o Caic — têm funcionado normalmente. A interrupção de aulas tem sido pontual e parcial. Os conteúdos perdidos são repostos”, diz a Seeduc.
O comando da UPP Nova Brasília alegou, em nota, que o que funciona no espaço é “uma base comunitária e que confrontos não são recorrentes... Se depois de contato com a escola for confirmado risco para alunos e funcionários, um novo local será estudado para a realocação da base”, explica a nota.
Desempenho baixo em área de risco
No mês de agosto, um estudo feito pela pesquisadora Joana Monteiro, da Fundação Getúlio Vargas, revelou que estudantes de escolas instaladas próximo ou no interior de áreas de risco pontuam menos em provas que medem conhecimentos, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e a Prova Brasil. Os números confirmam. Pelo menos é o que mostra o resultado do Ideb relativos à Escola Estadual Caic Theophilo de Souza Pinto, cujo 9º ano do Ensino Fundamental obteve notas — numa escala de 0 a 10 — 2,6 e 2,6 em 2011 e 2013. Nos dois anos, a escola não alcançou as médias estaduais: 3,2 e 3,6.