Por thiago.antunes

Rio - O corpo encontrado carbonizado encontrado em Guaratiba no último dia 27 é de Jandira Magdalena dos Santos, 27 anos. A informação foi confirmada pela assessoria da Polícia Civil, que divulgou o resultado do exame de DNA feito no cadáver. A jovem desapareceu um dia antes, quando saiu para fazer um aborto em uma clínica clandestina de Campo Grande. Na ocasião, Leonardo Britto Reis, ex-marido de Jandira, auxiliou a vítima levando-a para a Rodoviária de Campo Grande ao encontro de Rosemere Aparecida Ferreira, já presa.

De acordo com delegado Hilton Alonso, da 35ª DP (Campo Grande), outras três pessoas que estão presas por envolvimento na morte de Jandira vão responder pelos crimes de aborto, formação de quadrilha, ocultação de cadáver e fraude processual. “Estamos aguardando laudos que poderão revelar se Jandira morreu mesmo na clínica ou se foi colocada ainda viva no carro em chamas”, afirmou Hilton Alonso

Jandira desapareceu no dia 26%2C quando iria fazer um abortoReprodução

A irmã de Jandira Magdalena, Joyce Liane, disse que a família está aliviada por poder enterrar a jovem, entretanto mostrou indignação pela violência contra o corpo da irmã, que estava bastante carbonizado. “Nem um animal faz isto com outro animal. Esse fato mostra como é violento e cruel o ser humano. Sabíamos que ela não estava mais viva, mas não queríamos enterrar o corpo dela neste estado. É muita brutalidade”, contou Joyce.

Ainda segundo ela, por volta das 17h, o delegado titular da 35ª DP (Campo Grande) Hilton Alonso, telefonou para a família para informar o resultado do DNA. “Na hora informei para minha mãe, que está em estado de choque e a base de calmante. Chorou copiosamente. Ainda não sei quando vou contar para as duas filhas de Jandira, de 8 e 11 anos, sobre a morte da mãe”, lamentou. De acordo com Joyce, o corpo de Jandira vai ser enterrado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, mas ainda não há uma data confirmada.

“A gente esperava por isso, mas dói muito saber a que ponto chega a crueldade de pessoas covardes. Minha filha, aparentemente, está tranquila, mas sempre faz a mesma pergunta à noite: 'Cadê minha mãe?’. Como explicar?”, comentou Leandro, garantindo que nunca apoiou o aborto.

Além de Rosemre, foram capturados Marcelo Eduardo Medeiros, Mônica Gomes Teixeira e Vanuza Vais Baldacine. O falso médico Carlos Augusto Graça de Oliveira segue foragido. Ele teria atendido Jandira e em 2011 foi preso por exercício ilegal da profissão em uma clínica de aborto em Olaria. 

'Apesar de estar irreconhecível, sinto que é dela', diz irmã

“A ficha ainda não caiu. A polícia prendeu, mas agora a Justiça tem que mantê-los na cadeia”, comentou a irmã de Jandira, Joyce Liane, que viu por foto o corpo encontrado carbonizado em Guaratiba no dia 27. “Apesar de estar irreconhecível, sinto que é da Jady”, disse. “Estamos esperando o exame para providenciar um enterro digno para ela”, comentou Maria Ângela, mãe da jovem. À época do início das investigações, a Polícia Civil também ouviu o ex-marido da vítima, que levou Jandira até Rosemere.

"Fiz com o coração. Ajudei e ajudaria de novo. O sofrimento dela se refletia na minha filha e eu não poderia ser indiferente”, disse Leonardo, semanas atrás. Preocupado com a possibilidade de perder o emprego, devido às especulações de que teria envolvimento no sumiço da ex-mulher, Leandro criticou o fato de a polícia ter trazido à tona dois registros de ocorrência feitos por Jandira contra ele, em 2008 e 2010, por ameaças e agressões.

Rosemere foi detida em casa de veraneio e levada para a delegaciaJoão Laet / Agência O Dia

“Falar de coisas da minha vida pessoal não vai ajudar em nada. A questão do que aconteceu com ela é que precisa ser apurada. Não acho justo uma investigação que estava sob sigilo não zelar pela minha integridade”, frisou ele, que é vendedor. A mãe de Jandira descartou a possibilidade do envolvimento do genro.

Justiça negou habeas corpus

A Justiça do Rio negou o pedido de liminar de habeas corpus para Mônica Gomes Teixeira e Marcelo Eduardo Medeiros, ambos acusados de participação no desaparecimento de Jandira A decisão foi tomada pelo desembargador Luiz Zveiter, da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, na última quarta-feira.

De acordo com investigações, Marcelo Eduardo Medeiros é o proprietário da casa em Campo Grande, na Zona Oeste, que era alugada à quadrilha para a realização de abortos, dentro de um condomínio. Foi para este local que Jandira foi levada para interromper sua gravidez de três meses e duas semanas de forma clandestina. O proprietário tinha conhecimento da prática ilegal realizada no imóvel.

Já Mônica Gomes Teixeira, esposa de Marcelo, atuava como recepcionista da clínica de abortos, participando diretamente da quadrilha. Apontada como a motorista que levava gestantes até a casa para fazer o procedimento, Vanuza Vais Baldacine se entregou na 35ª DP (Campo Grande) e disse aos investigadores que Jandira morreu na clínica. A jovem de 27 anos estava com quase quatro meses de gravidez e sumiu dia 26, após sair para um aborto.

Vanuza era considerada foragida e tinha mandado de prisão temporária expedido, mas resolveu se apresentar à polícia, segunda-feira à noite. Segundo os agentes, ela começava a detalhar as informações sobre o destino de Jandira, quando decidiu se manter em silêncio. A acusada confirmou que apenas conduzia as clientes até a Rosemere Ferreira. Ainda segundo a polícia, Vanuza disse não saber o paradeiro do corpo de Jandira.

Elizângela foi encontrada agonizando na Estrada do ItitiocaReprodução

DH identifica assassinos de grávida em Niterói

Policiais da Divisão de Homicídios (DH) de Niterói e São Gonçalo já identificaram dois suspeitos que participaram do aborto malsucedido de Elizângela Barbosa, de 32 anos. De acordo com o delegado substituto da DH-Niterói, Adilson Palacio, são duas mulheres, que seriam mãe e filha, e um enfermeiro. Porém, a identidade do trio está sendo preservada para não prejudicar a investigação.

Na manhã desta terça-feira, os agentes localizaram a casa onde Elizângela foi levada para a realização do aborto no último sábado. A residência fica na Rua Silvino Pinto, número 22, no Sapê, em Niterói, Região Metropolitana, e foram encontrados equipamentos, 18 remédios, sendo que um é de uso veterinário, e alguns deles estavam com a validade vencida e curativos. Uma empregada que estava no local foi encaminhada para a delegacia para prestar depoimento.

Elizângela foi deixada pelo marido, o pintor industrial Anderson Santos da Silva, 27, e os três filhos do casal, na Estrada da Tenda, na periferia de São Gonçalo, por volta de 8h de sábado. Ali ela se encontrou com um homem que a levaria a uma clínica clandestina no bairro Sape, em Niterói. Porém, às 22h de domingo, ela chegou morta ao Hospital Estadual Azevedo Lima. Seu corpo será sepultado nesta terça, às 16h30, no Cemitério do Maruí, no Barreto.

Segundo o delegado Adilson Palácio, o proprietário de um Gol branco prestou depoimento informando que trafegava com o carro pela Estrada de Ititioca, no bairro de mesmo nome, em Niterói, quando um bando o mandou parar. Ele foi obrigado a levar Elizângela, que agonizava na beira da via, para o Hospital Azevedo Lima.

“Depois do aborto malsucedido, Elizângela foi abandonada na estrada ainda com vida. Traficantes da região, com medo de que a polícia suspeitasse que ela teria sido vítima deles, mandaram que o motorista a levasse ao hospital”, afirmou o delegado Palácio. Segundo o policial, além de Elizângela ter chegado ao hospital com sinais de forte sangramento vaginal, exame de necropsia detectou até um tubo de plástico dentro do seu útero.

GALERIA:  Polícia localiza clínica de aborto clandestina em Niterói

Anderson revelou, em seu depoimento, que Elizângela já havia tentado, em vão, abortar em casa, com medicamentos, há pouco mais de três meses. “Ela não queria o quarto filho, e isso foi até motivo de discussão entre nós. Ela queria arranjar emprego. Mas, grávida, não conseguia”, alegou o pintor, que poderá responder como coautor do crime.

No sábado, Elizângela saiu de casa com R$ 2,8 mil para fazer o aborto e se encontrou com o desconhecido que a levaria até a clínica. Duas horas depois, ligou para o marido, dizendo que precisava de mais R$ 700. Até o final da tarde de domingo, o contato entre os dois passou a ser por mensagens de celular. Às 17h50m de ela voltou a ligar, dizendo que estava terminando o último procedimento e pedindo que o marido ligasse em 40 minutos. Mas Anderson não conseguiu mais contato. Às 23h, Cosme Barbosa, irmão da vítima, foi avisado pelo hospital que Elizângela havia chegado sem vida à emergência da unidade.

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