Rio - O delegado da Polícia Federal Carlos Eduardo Thomé revelou que há seis meses o bando ligado a Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, vinha sendo monitorado, o que possibilitou, por exemplo, que no último dia 16, quatro fuzis, que seguiam num Fiat Uno para o Morro do Salgueiro, fossem apreendidos na Ponte Rio-Niterói. “A prisão do motorista que transportava as armas nos ajudou a chegar aos demais comparsas com maior rapidez”, ressaltou Thomé.
Nesta quarta, o delegado João Luís Caetano disse que vai sugerir ao governo do estado que peça a transferência de Rabicó para um presídio federal.
“Acreditamos que essa é a melhor alternativa para se evitar que novos contatos do bandido sejam feitos com seus subordinados de fora de Bangu 3”, comentou.
Investigações da PF mostram que com o dinheiro do tráfico Rabicó abriu diversas contas bancárias em nomes de “laranjas” e comprou automóveis e imóveis de luxo no Rio, na Região dos Lagos e em Santa Catarina, no Sul do País.
“Em Santa Catarina, descobrimos uma verdadeira mansão comprada com o dinheiro ilícito da quadrilha, assim como em itaipuaçu, em Maricá”, destacou Caetano. Nesta quinta, a PF, que apura se a academia que funcionava no prédio de Jorge Luís Reis, servia para lavar dinheiro, vai pedir à Justiça o bloqueio dos bens da quadrilha e o confisco de contas bancárias.
Braço financeiro desarticulado
A Polícia Federal acredita ter desarticulado ontem o principal braço financeiro do traficante Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho (CV).
Mesmo preso em Bangu 3 desde 2008, ele controlava, segundo investigações, a movimentação de aproximadamente R$ 1 milhão por mês com a venda de drogas.
Com apoio de da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), agentes da PF apreenderam, em duas ações simultâneas na Mangueira, no Rio, e no Salgueiro, em São Gonçalo, mais de R$ 3,5 milhões, 52 quilos de cocaína e uma pistola. Quatro pessoas que seriam do bando foram presas.
Na Mangueira, foi detido Jorge Luis Reis, tido pela polícia como tesoureiro e braço direito de Rabicó. No prédio de três andares de sua propriedade, onde morava e onde funcionavam também uma academia de ginástica e um salão de beleza, foram apreendidos mais de R$ 3 milhões. O dinheiro estava envolto em sacos plásticos, dentro de tonéis escondidos na rede de esgoto do primeiro andar do imóvel, onde também foi apreendida uma pistola.
No Morro do Salgueiro, foram presas mais três pessoas, em duas casas de padrões mais elevados que as demais. Na do engenheiro ambiental Luis Henrique Ventura Ferreira, que trabalha em uma empreiteira da Petrobras que presta serviços ao Polo Petroquímico, foram encontrados R$ 500 mil e o carregamento de cocaína.
Todo o material estava escondido numa espécie de bunker (abrigo no subsolo), fechado com uma tampa de cofre, localizado num quarto de manutenção de bombas da piscina do imóvel de Luis Henrique. Em outra residência, foi preso Isaias Almeida de Oliveira, 28, e a mulher dele, Shirley Rodrigues Oliveira, 34, apontados como distribuidores de maconha e cocaína da quadrilha.
“As operações de hoje (quarta) desarticularam um dos principais pilares financeiros da quadrilha”, disse o delegado da PF João Luis Caetano, que, junto com outro delegado, Carlos Eduardo Thomé, coordenou as ações, que envolveram 45 homens — 20 da Core e 25 da Polícia Federal. Não houve troca de tiros nas operações.
Um dos traficantes mais sanguinários
Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, de 47 anos, é tido pela polícia como um dos traficantes mais temidos e sanguinários do Comando Vermelho. Ele foi preso por agentes da 6ª DP (Cidade Nova) em março de 2008 — antes, já havia cumprido dez anos de cadeia por tráfico — em um de seus imóveis, uma confortável casa em Mamanguape, a 50 quilômetros de João Pessoa, na Paraíba. Ela foi comprada à vista por R$ 100 mil na época. Lá, ele se passava por comerciante e ostentava riqueza com carros de luxo.
Em 2010, foi transferido para o Presídio Federal de Mossoró (RN) por determinação judicial. Mesmo a 2,4 mil quilômetros do Rio, continuou comandando o crime nos bairros Salgueiro, Fazenda dos Mineiros, Palmeira, Recanto das Acácias e Luiz Caçador, em São Gonçalo. Também por determinação da Justiça, retornou em 2013 para o Rio. Atualmente encontra-se na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, em Bangu 3, no Complexo Penitenciário de Gericinó. Ele responde ainda por homicídio, que teria cometido no Morro da Mineira, no Catumbi.
Quadrilha é ainda maior
Pelo menos outros sete integrantes do bando de Rabicó já foram identificados pela PF e a prisão deles é questão de tempo, segundo o delegado João Luiz Caetano. Para o policial, as investigações apontam que a quadrilha tem muito mais integrantes. “Os presos de hoje (quarta) e esses outros sete são apenas o que nós conseguimos identificar até o momento. Mas a quadrilha é muito maior”, afirmou Caetano.
O delegado disse que o tamanho do bando é mensurado também pela “frenética movimentação financeira” controlada por Rabicó. Desde o final da década passada, o traficante passou a coordenar o transporte de drogas da Mangueira e do Morro do Fallet, no Catumbi, para serem vendidas no Salgueiro.
Engenheiro se diz vítima de bando
O engenheiro ambiental Luís Henrique Ventura Ferreira se disse inocente e alegou que traficantes do Morro do Salgueiro o obrigavam a esconder armas, drogas e até integrantes do CV no bunker construído em sua casa. Os outros três presos também afirmaram não ter ligação com o tráfico de drogas.
De acordo com o delegado da PF João Luiz Caetano, porém, todos os suspeitos vão responder pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Jorge Luís Reis também será indiciado por porte ilegal de arma de fogo.
A PF informou que as investigações vão continuar, pois informações da suposta existência de outros bunkers no Morro do Salgueiro serão checadas. “É provável que existam outros esconderijos semelhantes”, admitiu Caetano.
Armas vêm de outros estados
As drogas e armas que abastecem o tráfico nas comunidades dominadas por Rabicó vêm de várias partes do país, principalmente do Paraná e do Mato Grosso do Sul, segundo a Polícia Federal. Os carregamentos são feitos, na maioria da vezes, em carros populares, no chamado “tráfico formiguinha”, para não levantar suspeitas, mas há informações de que até carretas são usadas.
A corporação recebeu informações também de que, com a morte de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, comparsas de Rabicó se preparavam para assumir o controle das bocas-de-fumo da Mangueira, que tem uma UPP. Atualmente, o tráfico na região seria controlado por Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que é irmão de Tuchinha.