Por thiago.antunes

Rio - Escolas fechadas e mais de seis mil alunos sem aulas. Moradores ainda amedrontados pelo intenso confronto da noite de quarta-feira eram revistados nos acessos ao Complexo da Maré e vigiados de perto pelos homens da Força de Pacificação Militar — que conta com reforço de tanques dos Fuzileiros Navais desde sábado. Alguns comerciantes não abriram as portas. Na quarta-feira à noite, o traficante Climar Sales Leite, o Relâmpago, apontado como um dos homens fortes na hierarquia do Terceiro Comando Puro (TCP), foi preso.

A manhã desta quinta-feira no conjunto de favelas seguiu a tônica de insegurança da última semana, quando, além dos já frequentes conflitos entre militares e bandidos, a guerra pelo comando do tráfico entre as facções Amigos dos Amigos (A.D.A) e TCP se instalou, com direito a ataque surpresa à luz do dia.

Mesmo assim, de acordo com a assessoria da Força de Pacificação da Maré, a situação no local era de “normalidade, já que os três conflitos registrados em cinco dias não tiveram relação entre si e não foram registrados mortos ou feridos”. Na tarde de sábado, quatro vans com traficantes do A.D.A., fortemente armados, oriundos da comunidade Parque Alegria, no Caju, chegaram à Maré em quatro vans e tentaram retomar o local.

Apesar da presença de soldados da Força de Pacificação%2C a disputa pelo controle do tráfico continuaSeverino Silva / Agência O Dia

Especialistas são unânimes em dizer que os recentes ataques, além de evidenciar o desgaste da ocupação militar do local, que já dura quase seis meses, mostram a urgência de políticas sociais. Para o estrategista militar Carlos Eduardo Jansen, uma vez estabelecida a ocupação territorial, deve-se investir na participação dos moradores em decisões cruciais para as comunidades.

“O morador deve ser um aliado do poder público e ajudar na tomada definitiva destes locais. A cada tiro ou morte de militar,o projeto perde um pouco de credibilidade”, diz. Ele acredita que o quadro atual evidencia a necessidade de troca de comando e instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). “É uma situação transitória, atípica para o Exército”, lembra.

Especialistas propõem projetos sociais

O diretor do Observatório das Favelas, Eduardo Alves, aponta a presença de homens fortemente armados como um problema. “Para os moradores, o que mudou foi o dono do fuzil. Se entraram na Maré com um modelo militarizado, é necessário uma saída diferente, com projetos sociais”, diz. Ele propõe a instalação de ouvidorias nas comunidade como uma forma de dar voz à população. “Todos precisam se sentir valorizados, ouvidos”, diz.

Há 17 anos no Complexo da Maré, onde conduz o projeto Uerê, que atende a mais de 400 jovens, a educadora Yvonne Bezerra de Melo diz não acreditar que o quadro mude com uma UPP. “A ocupação militar não resolveu os problemas de antes. O tráfico nunca saiu. A solução passa por criar um bairro, abrindo ruas, asfaltando, e proporcionando saneamento básico a todos”, opina.

Reforço em dezembro

Adiada por, pelo menos, três vezes, a instalação da UPP da Maré deve ser realizada em janeiro, após a formação de duas turmas de policiais militares, prevista para outubro e novembro. Os PMs já devem trabalhar na Operação Papai Noel, que visa a garantir a segurança em dezembro. Estima-se que cerca de 1.500 homens ficarão lotados no Complexo da Maré.

Preso na noite de quarta-feira, Relâmpago é apontado como guarda-costa e homem de confiança de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, chefe do tráfico em 11 comunidades da Maré lideradas pelo TCP. Ele foi preso em março deste ano. Após a prisão, comparsas teriam tentado resgatá-lo. Na terça-feira, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão da Delegacia de Combate às Drogas, houve troca de tiros com criminosos. No sábado, foram pelo menos três tiroteios antes do meio-dia. Os alvos dos bandidos do A.D.A eram o Conjunto Esperança e a Vila do João.

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