Rio - Na casa do funcionário público Alexandre Cardoso, 36 anos, no bairro do Riachuelo, Zona Norte, este sábado terá a marca da tradição. Ali, ele cumpre o ritual, ensinado pelos avós: vai distribuir doces de São Cosme e Damião. Nessas ocasiões, Cardoso recorda com mais intensidade os seus pais e avós, já falecidos. “É um dia de lembranças boas. Quando distribuíamos na Tijuca, onde moravam meus avós, a fila de crianças chegava a dar volta no quarteirão”, relembra ele.
Expectativa parecida é vivida em várias residências das zonas Norte e Oeste do Rio, além da Baixada Fluminense, onde a sexta-feira foi gasta na preparação da festa de hoje, dedicada às crianças. A família da promotora de eventos Taísa de Souza, 32, distribui doces na parte mais concorrida da cidade: o subúrbio. “As crianças ficam ansiosas, tocando interfone logo pela manhã”, contou a moradora de Vista Alegre. “Minha tia prepara e esconde um manjar num gramado, próximo à casa dela, em Brás de Pina. A criança que encontra pode comê-lo inteiro”, comentou Taísa, umbandista, assim como a tia.
“Dar doces é um hábito tipicamente carioca que se popularizou no início dos anos 1930, quando as religiões afro foram descriminalizadas”, explica o historiador Luiz Antonio Simas, colunista do DIA. Ele destaca a mistura religiosa. “A data é vinculada à Igreja pelo lado da promessa, e da umbanda, como oferta ao orixá Ibeji, protetor dos gêmeos”, completa.
O bloco carnavalesco infantil Dragões da Riachuelo, na região da Lapa, distribui doces há quatro anos. “Esperamos de 300 a 400 crianças na sede do bloco, na Ladeira Frei Orlando, a partir das 15h. É muito gratificante”, diz o presidente do bloco, Roberto Martins, que espera repetir o ritual por muito tempo.