Rio - Pacientes internados no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) estão infectados por uma bactéria de difícil tratamento, a acinetobacter. Ela é bastante resistente a antibióticos e de fácil transmissão. Devido ao aumento de casos de contaminação, o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) adulto da unidade está fechado para novas internações desde terça-feira.
A ordem partiu da Comissão de Controle de Infecção do HFB, que constatou o aumento da incidência da acinetobacter. De acordo com um documento enviado pela comissão, há um sério risco de contaminação para os pacientes que se encontram internados em outras sessões do hospital federal.
O HFB informou que há sete pacientes infectados no CTI. Além deles, foram identificados nove pacientes colonizados (sem sintomas) em duas outras enfermarias. Dois deles já receberam alta. Os outros sete encontram-se isolados.
Para Juliana Arruda, infectologista da Fiocruz, o fato de o hospital ter fechado a CTI a novas internações é um sinal de que a situação é bem grave. “Essa bactéria é bastante resistente. É preciso evacuar a unidade e fazer uma limpeza rigorosa. Além disso, é necessário reforçar as medidas de higiene e rastrear casos ocultos. Há o risco de uma pessoa estar infectada, não apresentar sintomas, mas transmitir a bactéria”, explica.
De acordo com a médica Marília de Abreu, responsável pela Câmara Técnica de Doenças e Parasitárias e de Controle de Infecção Hospitalar do Cremerj, a acinetobacter é extremamente comum e está presente em todos os grandes hospitais. A médica elogiou a conduta do HFB, de fechar o CTI: “O que eles estão fazendo é correto”.
Segundo a literatura médica, a acinetobacter está presente nas nossas mucosas. O micro-organismo deixa a pessoa doente quando entra na corrente sanguínea e atinge o pulmão ou outro órgão, através de dispositivos como tubos respiratórios e catéteres intravenosos. É justamente o caso dos pacientes internados em hospitais.
Recomendação não é cumprida
O clima de apreensão envolvendo as contaminações do CTI deixou enfermarias e as alas de emergência mais vazias no Hospital Geral de Bonsucesso, segundo parentes dos pacientes que frequentam a unidade.
Durante o tempo que a reportagem do DIA esteve no local, foram vistos ao menos seis médicos e enfermeiros circulando do lado de fora do hospital com uniforme. De acordo com José Milton, de 63 anos, do setor administrativo, médicos e assistentes de enfermagem põem os pacientes em risco com esse hábito.
“Há inúmeros folhetos em todos os prédios, recomendando que os profissionais de saúde não deixem o hospital com jaleco justamente para não levar a sujeira da rua. E poucos cumprem a recomendação”, critica. A garçonete Bianca Silva, de 35 anos, ouviu enfermeiros brincando entre si no andar do CTI com a possibilidade da contaminação. “Eles davam tapinha nas costas dos outros dizendo ‘vou te passar a superbactéria’”, contou.
Boatos pelos corredores
A tensão e a falta de informação geraram uma série de boatos nos corredores do hospital. Uma enfermeira, que não quis se identificar, disse que, além dos pacientes, funcionários do setor também podem estar contaminados. “Essa contaminação ocorre por contato, não pelo ar. E como quem está internado no CTI está entubado, não toca nem esbarra com outros doentes, suspeitamos que quem está transmitindo para os pacientes é algum dos enfermeiros”, opinou.
Para o Dr. Júlio Noronha, diretor do Sindicato dos Médicos do RJ, esse é mais um caso de abandono do Ministério da Saúde. Ele reclama que no hospital falta de tudo um pouco. “Há mais de dois meses que estamos sem um produto, uma espécie de haste com algodão nas extremidades, usado para detectar justamente esse tipo de infecção. Isso é um crime do Ministério da Saúde.”