Rio - Enquanto o calor carioca inspira versos de marchinhas de Carnaval, nos transportes e repartições públicas as altas temperaturas não são nada animadoras. Para amenizar o problema no verão, o projeto de lei 2075/2013, do deputado estadual Marcos Soares (PSD), tenta garantir o uso de bermudas por motoristas e servidores do Rio na estação mais quente do ano. A justificativa é a saúde, diminuindo, assim, os riscos de doenças respiratórias.
A proposta já passou pelas três comissões — Constituição e Justiça, Trabalho Legislação Social e Seguridade Social e a de Servidores Públicos — da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Será discutida no plenário da Casa, na próxima semana, mas contempla apenas funcionários públicos que trabalham ao ar livre, como, condutores de ônibus e vans credenciadas.
Médicos e professores _ com exceção dos de Educação Física —, que atuam dentro das unidades, não serão beneficiados pela medida. Já os policiais militares que atuam nas praias, já usam uniforme especial no verão. A ideia agradou aos motoristas de ônibus e vans, que, apesar de também terem a permissão — por decreto municipal — de usarem os bermudões no verão, ainda não adotaram a medida. O motivo seria pela falta de regulamentação das empresas que exploram o serviço.
“É um ‘calorão’ no verão e o motor esquenta ainda mais as nossas pernas. Tomara que o projeto seja aprovado”, disse o motorista e presidente do sindicato da categoria, José Carlos Sacramento, de 61 anos.
Ele, que é motorista desde os 18 anos, pretende ainda colocar o assunto em pauta com as empresas: “Vamos questionar isso na próxima convenção coletiva, em 2015”, garantiu José.
Motorista de van, Roberto Souza, 32, acredita que isso vai melhorar a qualidade do trabalho: “As empresas têm que se preocupar com nossa saúde, e usando bermuda no calor, vamos trabalhar e atender os passageiros bem melhor”, opinou.
Meta é ter toda a frota refrigerada
A prefeitura, por meio de decreto publicado todo ano, autoriza o uso de bermudões na altura do joelho para servidores e motoristas de vans, táxis e ônibus. O sindicato das empresas que atuam no município, Rio Ônibus, não prevê uma medida para ‘refrescar’ a vida dos funcionários. O Rio Ônibus afirma que dos 8.900 ônibus que circulam na capital, 25,4% do total já têm ar-condicionado. A meta da prefeitura é que toda frota tenha ar até 2016.
Em defesa do projeto
Para o antropólogo Roberto DaMatta, o projeto não só é adequado ao clima brasileiro, como já poderia ter sido publicado. “Falo como cidadão, e não apenas como antropólogo. No calor brasileiro, não há como andarmos como no século 19”, disse DaMatta. O pesquisador descartou a possibilidade de haver mal-estar no uso de bermudas por servidores.
“Os costumes mudam e as leis têm que acompanhar. Poder ir ao trabalho de bermuda é adequado ao nosso clima. É mais uma liberdade que o cidadão ganha”, disse ele, citando exemplos como Miami. O projeto do deputado Marcos Soares não contempla, porém, quem trabalha em local fechado. O que o antropólogo pondera: “Com nosso clima, seria mais do que razoável poder ir à Alerj e a uma repartição de bermudão”, concluiu Marcos Soares.