Rio - Sob alegação de que temia ser morto, um dos traficantes mais procurados do Rio se entregou nesta sexta-feira à polícia. Com cinco mandados de prisões pendentes — três por tráfico e dois por homicídios —, Leonardo da Costa, o Léo 22, chegou nesta sexta à 39ª DP (Pavuna) acompanhado pelo advogado, pouco depois do meio-dia. Ele negou envolvimento na guerra entre criminosos rivais que disputam o controle da venda de drogas na Mangueira, que já deixou vários mortos. Em Vicente de Carvalho, outros dois traficantes apontados como chefes do tráfico também foram presos.
“Estão botando tudo na minha conta, mas não tenho nada a ver com isso”, disse Léo aos policiais. Considerado truculento e cria da Mangueira, ele pediu abrigo ao traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, e mudou de facção, depois de uma briga com um dos chefes do Comando Vermelho, Anderson Sant’Anna da Silva, o Gão. Desde então, vinha sendo ameaçado por ex-comparsas, principalmente do Chapadão, em Costa Barros. Há informações de que Léo vinha mudando de endereço diariamente e, algumas vezes, chegava a dormir dentro de carros.
A polícia investiga se os ataques à Mangueira estão sendo comandados por Walalce de Brito Trindade, o Lacosta, chefe do bando da comunidade da Serrinha, em Madureira, um dos paradeiros de Léo 22. Um dos episódios mais sangrentos da disputa aconteceu em 30 de outubro, quando cinco corpos foram deixados num Siena, nas proximidades da Mangueira, com um cartaz onde se lia: “Vida paga com vida. Matou inocente, morreu.”
O Disque-Denúncia (2253-1177) chegou a oferecer prêmio recorde de R$ 20 mil pela captura de Léo 22. Questionado pelos policiais sobre a recompensa, o acusado, que não prestou depoimento, ironizou: “Se tivesse esse dinheiro, pagaria a minha casa.”
Disputa pelo domínio de territórios
Desde a execução de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, no Complexo da Mangueira, facções criminosas rivais vêm disputando o controle da venda de drogas na comunidade e aterrorizando moradores. Vários pontos do morro foram pichados com inscrições do TCP, facção rival à que dominava a favela.
No mês passado, o Portal dos Procurados também havia aumentado para R$ 20 mil a recompensa oferecida por informações que levem à prisão do traficante, Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, de 32 anos, chefe do tráfico de drogas do Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na Zona Norte. Um dos criminosos mais procurados do Rio, ele é remanescente da quadrilha de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, jovem de classe média, morto em 2005, que se especializou em roubar residências. Playboy vem tentando invadir territórios de rivais do Comando Vermelho (CV) para ampliar seus domínios.
Escolha de traficante não seria por acaso
A escolha de Léo 22 para comandar o grupo que disputaria pontos de drogas na Mangueira não seria por mero acaso. Atual gerente da venda de entorpecentes na Serrinha, ele é cria da Mangueira e ex-integrante da facção Comando Vermelho. Ele é tido como sanguinário por aliados e por moradores das comunidades - por isso os apelidos 22 ou Louco. Além disso, quando ainda como integrante do CV na Mangueira, ele teria se aliado ao traficante Anderson Sant'Anna da Silva, o Gão, porque o antigo chefe, Dudu, teria sido morto após um possível sequestro, e como ele não quis perder sua condição na hierarquia, passou a ser braço-direito de Gão, que assumiu os pontos de drogas na Mangueira.
Antes de trocar de facção, Léo 22 chegou a gerenciar pontos de drogas no Morro Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, que é liderado por Gão, após este sair da Mangueira. Leonardo ainda negociou os pontos de drogas na região com a milícia. Após uma briga com seu chefe, que estaria trazendo a policia para o local por causa dos assaltos praticados, Léo teria pedido apoio ao traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, que atualmente se encontra preso, para trocar de facção.
Russão bem longe do Rio
A Secretaria de Segurança vai pedir a transferência para presídio federal de João Paulo Firmiano Mendes da Silva, o Russão da Mangueira, apontado como um dos chefes do tráfico na comunidade. Ele foi preso ontem por agentes da Polícia Federal e da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.
Ele estava no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, com a mulher, Ana Carolina Campos, e Carlos Eduardo Freire Barboza, o Cadu Playboy, suspeito de chefiar o tráfico em Cabo Frio, Região dos Lagos.
Com eles, foram encontrados cerca de R$ 350 mil em espécie, três pistolas e ecstasy. Cadu é apontado pela polícia como o responsável pelos últimos episódios violentos em Cabo Frio, como a ordem para atear fogo em ônibus, no dia das eleições. Os três vão responder por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e porte ilegal de arma.