Rio - Entre uma vitrine e outra no Centro, a chance de comprar o esperado presente de Natal pode escorrer pelas mãos em segundos: com mais gente e dinheiro circulando nesta época, menores infratores aterrorizam pedestres praticando cada vez mais furtos. Para tentar diminuir este tipo de crime, a PM vai colocar em prática a partir de sexta-feira uma série de medidas, entre elas uma ação conjunta de órgãos públicos contra os delitos. Ao mesmo tempo, a operação vai retirar das ruas meninos e meninas em situação de risco.
A partir de sexta-feira, militares do Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPGE) terão bases provisórias em seis pontos do Centro, onde um mapeamento revelou o aumento dos ataques a pedestres. Além desses locais, oito duplas de policiais motociclistas e mais seis viaturas vão reforçar o patrulhamento em áreas de grande aglomeração de pessoas, como o centro comercial Saara e as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. A missão dos agentes será, além de evitar ação de ladrões, monitorar crianças e adolescentes aparentemente em situação de risco ou abandono.
“O objetivo é retirar os menores das ruas, tanto os que praticam delitos quanto os que estão fora de casa, muitas vezes abandonados pelas famílias. É uma forma de tentar resolver esse problema, que é muito sério e que aumenta a cada dia”, explicou o chefe do Estado-Maior Operacional da PM, coronel Lima Freire.
Se os menores forem flagrados praticando furtos, serão apreendidos e encaminhados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e ao Ministério Público, onde medidas socioeducativas serão definidas. Porém, caso a situação seja de crianças morando nas ruas, elas serão levadas para o novo abrigo da prefeitura, inaugurado semana passada em Laranjeiras. Lá, haverá uma busca pelas famílias das crianças ou encaminhamento para Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude.
Além do trabalho com os menores, a operação vai contar com um reforço de peso contra a ação de ladrões: 560 recrutas que se formam sexta-feira serão divididos entre cinco batalhões onde o movimento de pessoas — e consequentemente os assaltos — aumentam no final do ano. O planejamento prevê reforços nos calçadões e grandes centros comerciais de Madureira, Méier, Centro, Bangu e Tijuca.
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP, em outubro do ano passado, 19 menores foram apreendidos no Centro. No mesmo mês deste ano, 45.
Pedestres criam estratégias
Quem faz as compras de fim de ano no Centro sabe que o fato de carregar algo reluzente no pulso e no pescoço (não necessariamente ouro) pode fazer dele alvo em potencial dos assaltantes. O aumento dos crimes fez a própria população criar estratégias para não ser a próxima vítima. Com a experiência de ter sido assaltado oito vezes, o publicitário Eliaquim Freitas, de 24, montou esquema para ‘sobreviver’ na selva urbana: aboliu o uso de colares e relógios chamativos, além de usar roupas despojadas.
“Quando preciso comprar alguma coisa, venho com roupa bem largada porque sei que quem rouba está ligado nisso tudo. Ando com, no máximo, R$ 20 no bolso, não carrego documento original, apago o código de segurança do cartão de crédito para evitar que, caso alguém roube, faça compras pela internet com ele”, contou o rapaz.
O designer Rafael Braz, de 22, também criou formas de se prevenir desde que um grupo de cinco menores, ameaçando-o com um facão, levou seu celular na Av. Rio Branco, mês passado. “Agora, ando com dois aparelhos. O mais caro deixo no fundo da mochila, e o mais baratinho fica à mão. Se vierem me assaltar, dou o mais barato. É um jeito de minimizar a perda”, explicou o jovem, que trabalha na região. Já mulheres revelaram que andam com documentos e cartões presos ao corpo, para não perderem os itens caso suas bolsas sejam roubadas.
Aglomeração na rua facilita os crimes
Na análise da ex-chefe da Polícia Civil e deputada estadual Martha Rocha — ela própria assaltada no Centro em agosto —, como a região reúne nesta época do ano um número maior de pessoas, a aglomeração favorece a prática de crimes. Para ela, os criminosos enxergam nos cidadãos dispostos a usar seus cartões, cheques e dinheiro na compra dos presentes a oportunidade para roubar.
“Eles (criminosos) sabem que a qualquer momento podem ter um resultado favorável, independente dos horários de maior movimentação de pessoas”, afirma. Para o Mestre Kobi Lichtenstein, precursor da arte de defesa pessoal Krav-Magá na América Latina, a postura corporal pode inibir a ação dos bandidos. “Não demonstrar medo pode ser uma forma de se proteger. Se a pessoa anda agarrada na bolsa, tensa, a leitura dos criminosos será de que a pessoa vai entregar tudo o que ele pedir”, afirma.