Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - No meio do caminho para o trabalho, um tiroteio. O episódio, que deixou em pânico motoristas que trafegavam pela Linha Vermelha no início da manhã de segunda-feira, foi apenas mais um na triste rotina de quem precisa cruzar a via expressa diariamente. Cercada por 18 favelas, a Linha Vermelha se tornou alvo frequente da violência. Assaltos, tiroteios e apedrejamentos tornam os engarrafamentos no local cada vez mais perigosos.
Por volta das 8h, quando bandidos de comunidades do Complexo da Maré começaram a enfrentar militares do Exército, as pistas da Linha Vermelha estavam lotadas de carros no congestionamento. O tumulto aumentou quando os motoristas começaram a parar os carros para tentar voltar na contramão, com medo dos tiros.
Engarrafamentos constantes facilitam o ataque de bandidos a motoristas que trafegam pela Linha Vermelha. Como não têm como escapar%2C muitos abandonam os carrosCarlos Moraes / Agência O Dia

Agentes do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE) usaram duas viaturas e duas motocicletas para circular pelo local, na tentativa de acalmar os motoristas. Na sequência, um homem foi preso em flagrante por trocar tiros com militares que ocupam a Maré. Segundo o Exército, os disparos foram feitos com armas curtas na comunidade da Vila do João, nas proximidades do Centro de Transporte e Logística da Aeronáutica. O Exército reforçou o patrulhamento na região para evitar mais problemas.

“Outro dia, durante uma operação policial, ouvi a bala comendo solta. E o pior é que não tem pra onde escapar. É só acelerar e rezar”, contou o estudante Tiago Lima, de 24 anos.

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Segundo o comandante do BPVE, tenente-coronel Welste Medeiros, o patrulhamento da via foi reforçado desde sexta-feira para coibir assaltos. Por medida de segurança, o comandante não revelou o efetivo. Para tentar coibir os assaltos durante períodos de maior movimento na Linha Vermelha, quatro duplas de policiais com motos, além das viaturas que já policiam o local, vão circular entre os veículos no horário de congestionamento.
Bandidos com armas na pista
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Nos 21 km de extensão da via, um dos trechos mais perigosos margeia o Complexo da Maré. Ali, estão localizadas as comunidades da Vila dos Pinheiros e Baixa do Sapateiro, as mais próximas do asfalto. Os horários de maior incidência de roubos são justamente quando o trânsito está parado por causa do engarrafamento. A ausência de rotas de escape é um dos fatores que facilitam a ação de criminosos, deixando a via mais perigosa.
“Sempre vejo bandidos passando com arma de um lado para o outro após roubar alguém. Eu prefiro ir pela Avenida Brasil, que tem para onde escapar. Aqui na Vermelha não tem para onde fugir, é um perigo”, afirmou Giovani Braga, 33.
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Arrastões também são frequentes. “Há alguns meses, na altura da Maré, uns garotos carregando pedras e tijolos fecharam a pista e começaram a fazer um arrastão, levando os pertences de todo mundo”, disse o estudante Anderson Graça, 23 anos. Ele conta que um homem saltou de um carro e deu um tiro para o alto. “Os menores fugiram antes de chegar ao meu carro. Tenho muito medo de dirigir aqui, principalmente à noite”, relata.
Criminosos se disfarçam de vendedores nas vias
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Hábito comum dos cariocas, comprar biscoitos no engarrafamento, está virando um ato arriscado. Motoristas que passam pela Linha Vermelha relatam ter sido atacados por bandidos que se passam por vendedores ambulantes para assaltar. O último caso foi registrado no dia 5. Testemunhas relatam que, junto com os veículos, o medo também trafega pela via. E atrapalha os ambulantes que realmente vendem biscoitos e pipoca nas vias.
Giovani diz que evita passar na Linha Vermelha porque já viu bandidos armados correndo após roubosPaulo Araújo / Agência O Dia

“Passo por aqui todo dia e já vi mais de uma vez homens que fingem ser vendedores de pipoca e sacam a arma para assaltar”, revelou o motorista Marcos Cruz, de 45 anos. Na 21ª DP (Bonsucesso), uma vítima prestou queixa por ter sido atacada por bandido desta forma. Segundo o relato, dois supostos ambulantes se aproximaram do veículo oferecendo pipoca, perto da Ponte do Saber. Um deles sacou a arma e levou todos os pertences.

Segundo investigadores, os criminosos chegam às pistas passando por aberturas irregulares nas proteções de acrílico que separam a via da comunidade. “Aproveitam o engarrafamento e fingem vender coisas para assaltar. Toda semana há registro”, relatou um investigador.

O setor de Inteligência do Batalhão de Policiamento de Vias Expressas (BPVE), responsável pelo patrulhamento da Linha Vermelha, já identificou a prática. “Temos dois casos semelhantes ocorridos recentemente. Os criminosos usaram simulacros (réplicas) de armas para assustar os motoristas”, contou o coronel Medeiros.
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