Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Seja nas portarias dos prédios ou no caixa de lojas, a presença dos famosos ‘livros de ouro’ divide opiniões nos fins de ano. Enquanto algumas pessoas fazem boas doações, outras se recusam ou doam contra a vontade. Mesmo assim, em alguns condomínios, a ceia dos porteiros é farta: eles chegam a receber mais de R$ 1,000, além do décimo terceiro salário, só de caixinha.
A relação entre os moradores e os porteiros do condomínio Eldorado, na Tijuca, é quase familiar. Alguns funcionários viram gerações de condôminos crescerem. Talvez por isso, mesmo já tendo recebido décimo terceiro e os benefícios de fim de ano, os quatro funcionários de cada um dos cinco blocos chegam a receber quase R$ 1.500 de caixinha.
Francisco Vieira porteiro de um prédio em condomínio na Tijuca recebeu R%24 1.500 de ‘caixinha’Paulo Araújo / Agência O Dia

É o caso de Francisco Vieira, 59 anos, porteiro de um dos blocos. Ele trabalha lá há quase 30 anos e garante que a caixinha é apenas um estímulo a mais no fim de ano. “Aqui a gente trabalha bem e da mesma forma o ano inteiro. A doação é por livre e espontânea vontade do morador. Mas nos deixa mais feliz”, disse. Síndica do prédio, Patrícia Pimentel, 40 anos, acredita que a ‘caixinha’ é merecida. “Além de funcionários, eles são um braço direito e pessoas de confiança. Ajudam os idosos, olham pelas crianças.”

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Entre as promoções de fim de ano, sempre sobra uma moedinha. Em uma tapeçaria da Praça Saes Pena, na Tijuca, a funcionária Elena Cupertino, 57 anos, capricha nos embrulhos para agradar ao cliente. No ano passado ela desembolsou R$ 1.000. “Um fornecedor deixou uma nota de R$ 50 hoje. Embrulho com muito carinho, acho que é uma retribuição.”
Apesar de muitos considerarem uma boa ação, há quem se incomode com esse costume. Morador de prédio da Rua Gomes Freire, na Lapa, o contador Bruno Coutinho, 36 anos, não faz doações. “Se eu tiver que doar para todo mundo, meu décimo terceiro salário vai inteiro nisso. Considero um constrangimento”, disse.
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Prática proibida
Dono de um salão de beleza na Tijuca, Joel Guimarães, 70, não permite ‘caixinha’. “Cliente vem para ficar bonito, não para fazer doação. É uma falta de educação. Eu já pago décimo terceiro.”
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Para Gilberto Braga, economista da Ibmec, a gorjeta de fim do ano, mesmo que ainda muito presente, é algo do passado. “Havia muita atividade informal, que a remuneração era variada e o prestador de serviço tirava muito do salário na gorjeta”, disse. “Nos últimos anos as relações de trabalho se tornaram mais formais, os salários incorporaram benefícios. Ninguém pode ser assediado a fazer esse tipo de doação.”
?'Doar não é obrigação'
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?Algumas pessoas admitem que só contribuem com as ‘caixinhas’ porque ficam com vergonha de se recusar. Para o especialista em etiqueta Bruno Chateabriand, ninguém paga mico por deixar de doar. “A pessoa tem que se sentir livre para doar ou não, mas não é obrigação. E você deve doar de acordo com o seu poder financeiro, não precisa ser a mesma quantia de quem deu mais”, disse.
Além disso, ele deu uma sugestão. “Não é legal doar só para se exibir. Quando eu morava em prédio nunca assinava a ‘caixinha’, mas dava o dinheiro na mão dos meus porteiros preferidos.”
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?Reportagem: Lucas Gayoso
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