Pezão pede desculpas à família de jovem morta por PMs
Após o caso Haíssa, corporação vai criar novo modelo de análise das câmeras das viaturas
Por thiago.antunes
Rio - O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, pediu desculpas, pelo telefone, à família de Haíssa. De acordo com o pai da jovem, Ironildo Motta, a irmã da vítima, Andressa, foi quem conversou com o governador na noite de terça-feira. “Minha outra filha foi quem falou com ele, por volta das 22h, e ouviu o pedido de desculpas. Ora, desculpas não trazem minha filha de volta. Estamos passando necessidade, pois a Haíssa contribuía com a despesa da casa”, lamentou Ironildo.
O advogado da família, João Tancredo, informou que um encontro entre familiares e Pezão deve ser agendado na semana que vem. A defesa da vítima já tem um laudo médico que atesta a necessidade de atendimento psicológico aos familiares e deve finalizar, ainda esta semana, uma ação indenizatória contra o Estado. Após ser baleada, Haíssa foi levada pelos próprios colegas a um hospital, onde já chegou sem vida. Em um trecho do vídeo transcrito no inquérito, ao chegar à unidade, o cabo Delviro se responsabiliza pela ação desastrosa.
“Patrick: veja bem, nada justifica o policial (Márcio) ter atirado, tá (sic)? Não tô (sic) querendo justificar isso não, tá (sic) bem? Tá (sic) bom? Nós vamos responder por todos os nossos atos, tá (sic) bom?”. A PM informou que vai criar um novo modelo de análise das câmeras instaladas nas viaturas policiais, já que isto não era feito até então.
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O programa, que será executado pelo Escritório de Indicadores da PM, irá propor um cruzamento entre as análises de estatísticas criminais dos batalhões com as imagens das viaturas. Com isso, com base nos principais casos de cada área, será possível monitorar a conduta de policiais envolvidos em grandes ações. Ao todo, cerca de 2 mil veículos possuem circuitos de câmeras internas.
PMs tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça
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Além de aceitar a denúncia contra os policiais militares acusados da morte de Haíssa Vargas Motta, de 22 anos, no dia 2 de agosto de 2014, após uma perseguição policial em Nilópolis, Baixada Fluminense, a Justiça do Rio decretou ontem a prisão preventiva de ambos. O soldado Marcio José Watterlor Alves, autor do disparo que atingiu a vítima, e o cabo Delviro Anderson Moreira Ferreira, que conduzia a viatura, responderão pelo crime de homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e recurso que dificulta ou impossibilita a defesa).
O juiz Glauber Bitencourt Soares da Costa, da 1ª Vara Criminal de Nilópolis, destacou que, apesar de os réus terem sido afastados de suas funções, a medida é insuficiente para assegurar a livre coleta de provas. “O trabalho da polícia foi concluído em novembro e, por circunstâncias que desconheço, a denúncia foi recebida ontem (terça-feira). Após ler todo o inquérito, foi decretada as prisões. Agora eles vão constituir advogados, e o quanto antes, marcaremos a audiência, já que se trata de um processo com urgência”, relatou o juiz Bitencourt Soares da Costa.
O magistrado afirma em sua decisão que ‘é dever do Poder Judiciário assegurar às testemunhas a tranquilidade necessária para que compareçam em juízo, livre de qualquer temor’. Para ele, não há dúvidas sobre a autoria do crime, evidenciada em vídeo da câmera da viatura dos PMs, obtido pela revista ‘Veja’: “as imagens, em juízo preliminar de valor, denotam que inúmeros disparos de arma de grosso calibre foram efetuados na direção de um veículo com cinco jovens, conduta que ceifou a vida da jovem Haíssa”.
A Polícia Militar informou que ao todo quatro PMs serão submetidos a Conselho Disciplinar e podem ser expulsos da corporação por conta do fato. Além dos denunciados pelo MP, os cabos Gutemberg de Carvalho Gomes Júnior e Carlos Henrique Ribeiro Furtado, que participaram da perseguição em outra viatura, também serão submetidos ao procedimento.
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OHB20 branco, onde Haíssa e outros quatro jovens estavam, apontado como um veículo suspeito, foi alvejado na Avenida Roberto da Silveira, no bairro de Olinda, após serem perseguidos por duas viaturas. Pelas imagens da câmera interna do carro da polícia, os agentes constataram que somente os PMs efetuaram disparos antes que o veículo parasse. Os amigos de Haíssa, que voltavam de pagode, contaram que não ouviram os avisos policiais por estarem com o som alto.