Por nicolas.satriano

Rio - Uma triste coincidência se repetiu nesta quarta-feira com o mesmo ônibus da linha 532, da Viação Mauá, que se chocou com um poste e se incendiou ao ser atingido por um transformador, matando nove e ferindo oito pessoas.

No mesmo dia 18 de fevereiro de 2010, há exatos cinco anos, outro veículo da empresa da linha 143 (Niterói-São Gonçalo), bateu em um poste, derrubou o muro de uma casa e jogou um transformador no chão, na Rua Doutor March. Fios de alta tensão provocaram as chamas, que consumiram o ônibus. Na ocasião, quatro pessoas morreram e uma sobreviveu.

No início da manhã desta quarta-feira, em Santa Catarina, São Gonçalo, a tragédia se repetiu. O coletivo bateu em um poste e um transformador caiu sobre o ônibus, iniciando um incêndio, que deixou nove pessoas mortas carbonizadas, entre elas uma criança que estava abraçada à mãe, e outras oito feridas.

Um monte de ferro retorcido foi o que sobrou do ônibus 532, que perdeu o controle ao desviar de um caminhão da Ampla e pegar fogo ao ser atingido por um transformadorSeverino Silva / Agência O Dia

Segundo sobreviventes e testemunhas, as chamas se espalharam em menos de um minuto. O limpador de carros William Lemos da Silva, de 35 anos, estava na parte de trás do carro e contou que quebrou uma janela para se salvar. “Quebrei o vidro do ônibus com os braços, junto com outro rapaz, e pulei. O outro homem pulou, um fio de alta tensão o atingiu e ele morreu eletrocutado”. O caso aconteceu por volta das 5h30m, na Rua Doutor Getúlio Vargas.

De acordo com o frentista Joel Guimarães, que trabalhava em frente ao local, choveu muito na noite de terça-feira e faltou luz no bairro. Um caminhão da concessionária Ampla estava parado na via para fazer reparos na rede elétrica.

Um ônibus cortou o caminhão, invadiu a pista na contramão e o condutor do coletivo 532 (Niterói–Alcântara), da Viação Mauá, perdeu o controle ao tentar desviar e acertou o poste. “Estava todo mundo gritando lá dentro. Socorremos três pessoas, inclusive um homem que gritava: ‘por favor, socorre minha filha e a minha mulher’”, disse.

Ônibus pega fogo após colisão e deixa várias pessoas mortas em São GonçaloSeverino Silva / Agência O Dia

O homem a quem Joel se referiu é Geovane Farias, 20, que foi levado para o Hospital estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, em estado grave. Leandro Fagundes da Silva, 35, e Anderson Morle, 26, também estão internados na unidade, porém estáveis. William e José Soares Ferreira foram atendidos no hospital e liberados com escoriações nos braços.

O motorista Waldiney Rangel de Oliveira e o trocador Ângelo Gomes da Silva, ambos de 51, estão internados em estado grave na UTI da Clínica São José dos Lírios. Uma adolescente de 17 anos, que passava no momento do acidente foi encaminhada para outra unidade de saúde, em estado de choque.

Câmeras de outro ônibus podem ajudar a desvendar acidente que matou nove

Até esta quarta-feira, apenas uma vítima havia sido reconhecida por familiares, o motorista Luiz Cláudio da Silva Teles, 50. Durante o incêndio, ele tentou pular pela janela do ônibus, mas não conseguiu e acabou morrendo carbonizado. Na mochila, havia documentos e carnês com a identificação de Luiz. O irmão dele, o marceneiro Leandro Henrique Silva Teles, 40, contou que não era comum Luiz ir ao trabalho de ônibus. Ele era pai de dois filhos e estava no segundo casamento.

“O pessoal da empresa dele me ligou e disse que ele poderia estar entre as vítimas. Vim aqui procurando informações e me entregaram os documentos deles. Há um ano, ele comprou um carro e nunca mais foi pro trabalho de ônibus, não sei por que ele quis ir trabalhar desse jeito”, disse Leandro.

Até esta quarta-feira, apenas uma vítima havia sido reconhecida por familiares, o motorista Luiz Cláudio da Silva Teles, 50Severino Silva / Agência O Dia

Motorista não corria e deve ter derrapado na lama, diz testemunha

O irmão da única vítima fatal identificada, o motorista Luiz Cláudio da Silva Teles, 50, o marceneiro Leandro Henrique Silva Teles, 40, contou que não era comum Luiz ir ao trabalho de ônibus. Ele era pai de dois filhos e estava no segundo casamento.

“O pessoal da empresa dele me ligou e disse que ele poderia estar entre as vítimas. Vim aqui procurando informações e me entregaram os documentos deles. Há um ano, ele comprou um carro e nunca mais foi para o trabalho de ônibus, não sei por que ele quis ir trabalhar desse jeito”, disse Leandro.

De acordo com a delegada assistente da 73ª DP (Neves), Danielle Peres, os parentes dos mortos foram orientados a procurar o Instituto Médico Legal de São Gonçalo. Caso o reconhecimento seja inviável, será preciso fazer exame de DNA.

A delegada também contou que as seis testemunhas que prestaram depoimentos negaram que o motorista estivesse em alta velocidade e alegaram que o ônibus pode ter derrapado na lama. A delegada espera que o motorista se recupere para que ele preste depoimento.

O diretor operacional da Viação Mauá, Flávio Giantomaso, afirmou que o veículo estava com manutenção e vistoria em dia e que o acidente foi um caso atípico. Ele disse ainda que a câmera interna do coletivo foi destruída.

“Estamos apurando o que aconteceu e prestando apoio aos familiares das vítimas. O motorista é experiente e tem 15 anos de empresa e o trocador, 17”. Já a Ampla, por meio de nota, informou que uma equipe foi ao local para desligar a rede elétrica e isolar a área.

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