Por felipe.martins

Rio - O deputado federal Cabo Daciolo (Psol-RJ) apresentou nesta terça-feira, na Câmara dos Deputados, uma proposta de alteração de um dos princípios fundamentais da Constituição. O deputado quer mudar o texto do artigo primeiro da Carta Magna de "todo poder emana do povo" para "todo poder emana de Deus". Na argumentação de defesa da alteração, Daciolo afirmou que "estamos vivendo uma guerra espiritual entre principados e contestados". O vídeo postado pela equipe do parlamentar caiu como uma bomba nas redes socais. Em duas horas, foram registradas mais de 14 mil visualizações no Facebook.

"Nós estamos vivendo uma guerra espiritual contra principados e contestados. Alguns podem não estar entendendo o que eu estou falando aqui. Eu queria pedir a compreensão de todos os companheiros parlamentares. Nós vamos entrar com uma PEC e essa PEC diz o seguinte: todo o poder não emana do povo, o poder emana de Deus, que o exerce de forma direta e também através do povo. Dessa forma, nós vamos nos tornar uma grande potência. Deus está no controle de todas as coisas e todos os joelhos se dobram a Jesus. Todo o poder emana de Deus", bradou o deputado no microfone do plenário da Câmara. 


A maioria dos comentários abaixo do vídeo postado no Facebook critica a proposta de Daciolo. "O Estado é LAICO. E meu joelho só dobra pra dar chute em quem tentar impor lixo fundamentalista goela abaixo", escreveu um rapaz. "Sinceramente, eu não acredito que isso seja verdade, juro que estou considerando isso uma espécie de esquete. Não é possível que esse cara esteja falando sério. Uma proposta dessas é uma afronta ao bom senso e à crença de uma quantidade absurda de brasileiros", disse outro jovem.

Em menor número, houve também defensores da proposta do bombeiro: "Cerca de 90% da população brasileira acredita em Deus. A própria Constituição o reconhece em seu preâmbulo. A proposta do Deputado é legítima e pretende compatibilizar o artigo 1º com o já expressado nas razões que abrem o texto constitucional. Isso jamais tornará o país teocrata", defendeu um usuário do Facebook.

A reportagem do DIA procurou o deputado Cabo Daciolo para comentar a razão e a repercussão da proposta, mas até o fechamento desta reportagem ele não havia retornado o contato. 

Líder da greve dos bombeiros, deputado é contestado dentro do partido


O cabo bombeiro Benevenuto Daciolo foi eleito deputado federal com 49.831 votos. Ele acabou conseguindo uma cadeira na Câmara graças ao coeficiente eleitoral, devido à expressiva votação dos parlamentares Chico Alencar e Jean Wyllys. Daciolo foi o único participante da greve dos bombeiros, em 2012, a conseguir uma vaga no legislativo federal. Sua principal proposta de campanha foi a defesa da PEC 300, que criaria um piso nacional para policiais e bombeiros militares.

Ele chegou ao Psol fluminense pelas mãos de Janira Rocha. Durante a greve dos bombeiros, ela foi acusada de incitar a greve dos militares depois de flagrada em uma conversa telefônica aconselhando o então líder grevista a não aceitar proposta de aumento salarial proposta pelo governo. Após deflagrada a greve, Daciolo acabou preso e levado ao Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio. 

Em 2013, Janira foi acusada de obrigar funcionários de seu gabinete a devolver parte dos salários para ‘fazer política’. A prática, chamada de ‘cotização’, configura quebra de decoro parlamentar. Em gravações divulgadas por dois ex-funcionários de gabinete, ela declara que usou dinheiro do Sindisprev para a fundação do Psol no Rio. O conselho de ética do partido abriu, em setembro, um procedimento para investigar a deputada. Dois meses depois, a direção estadual determinou o afastamento de Janira e indicou sua expulsão.

Daciolo conseguiu se eleger mesmo sem aparecer no horário eleitoral gratuito.  Enfraquecido dentro do Psol, o grupo político de Janira Rocha foi alijado da cadeia de rádio e televisão, mas ainda assim o líder dos bombeiros conseguiu chegar à Câmara. Mas já no primeiro ano de mandato, ele entrou em confronto com os colegas de partido. Apareceu em foto ao lado de Jair Bolsonaro (PP-RJ), após o polêmico deputado federal declarar que não estupraria a deputada petista Maria do Rosário "porque ela é feia" . Em novo conflito com os integrantes do Psol, Daciolo defendeu a presença de um general no Ministério da Defesa. O colega de bancada Jean Wyllys (Psol - RJ) se disse "constrangido" com as declarações do bombeiro militar .



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