Rio - O deputado estadual e uma das principais lideranças do Psol, Marcelo Freixo, criticou, em entrevista ao DIA, a proposta do colega de partido, o deputado federal Cabo Daciolo, para a inclusão do nome de Deus no artigo primeiro da Constituição. Daciolo defendeu a alteração nesta terça-feira, em discurso na Câmara dos Deputados. Se aprovada a mudança, o texto deixaria de constar a frase "Todo poder emana do povo" e passaria a afirmar que "Todo poder emana de Deus". Freixo definiu como "um equívoco profundo" a postura do bombeiro militar.
"Eu tenho respeito pelo exercício de todas as religiões, mas a proposta do Daciolo vai na contramão da democracia. Ele é uma pessoa boa, de luta, mas a sua proposta legislativa é totalmente equivocada e gerou um enorme desconforto no partido. É um equívoco profundo", disse o deputado estadual.
Para Freixo, Daciolo deve repensar a trajetória dentro do Psol e respeitar as diretrizes partidárias, caso contrário, deve procurar uma nova legenda. "Ele entrou no Psol, não entrou em um partido de aluguel. Acho que ele deve respeitar as posições da bancada, ouvir mais os colegas na Câmara", ponderou o deputado, para depois completar. "Ou ele entende o significado do que é o Psol ou deve procurar um partido onde seja mais feliz".
Vereador defende expulsão de Daciolo
O vereador Renato Cinco (Psol-RJ) usou o Facebook para defender a expulsão do deputado federal do partido. "Daciolo, pegue seu mandato e saia do Psol. Seu lugar não é aqui", escreveu Cinco. "Desde que foi eleito deputado federal, o Cabo Daciolo já tirou foto com o Bolsonaro, defendeu um militar no Ministério da Defesa e agora apresentou proposta de emenda constitucional", continuou o vereador, que tentou se eleger deputado estadual nas últimas eleições, mas não obteve sucesso.
Cinco defende a saída do deputado do partido, mas disse respeitar os eleitores do bombeiro militar, defendendo o direito de permanecer com o mandato. "Isso tudo é absolutamente contra o programa e a linha política do Psol, que defende o estado laico e a desmilitarização da sociedade. A permanência do cabo Daciolo é uma contradição insolúvel e a Direção Nacional precisa afastar imediatamente o deputado. Entretanto, acho que os eleitores do Cabo Daciolo não podem ser penalizados e ele deve permanecer com o mandato", completou.
Ao defender alteração, Daciolo disse que "vivemos uma guerra espiritual"
O deputado federal Cabo Daciolo (Psol-RJ) apresentou nesta terça-feira, na Câmara dos Deputados, uma proposta de alteração de um dos princípios fundamentais da Constituição. O deputado quer mudar o texto do artigo primeiro da Carta Magna de "todo poder emana do povo" para "todo poder emana de Deus". Na argumentação de defesa da alteração, Daciolo afirmou que "estamos vivendo uma guerra espiritual entre principados e contestados". O vídeo postado pela equipe do parlamentar caiu como uma bomba nas redes socais. Em duas horas, foram registradas mais de 14 mil visualizações no Facebook.
"Nós estamos vivendo uma guerra espiritual contra principados e contestados. Alguns podem não estar entendendo o que eu estou falando aqui. Eu queria pedir a compreensão de todos os companheiros parlamentares. Nós vamos entrar com uma PEC e essa PEC diz o seguinte: todo o poder não emana do povo, o poder emana de Deus, que o exerce de forma direta e também através do povo. Dessa forma, nós vamos nos tornar uma grande potência. Deus está no controle de todas as coisas e todos os joelhos se dobram a Jesus. Todo o poder emana de Deus", bradou o deputado no microfone do plenário da Câmara.
Líder da greve dos bombeiros, deputado é contestado dentro do partido
O cabo bombeiro Benevenuto Daciolo foi eleito deputado federal com 49.831 votos. Ele acabou conseguindo uma cadeira na Câmara graças ao coeficiente eleitoral, devido à expressiva votação dos parlamentares Chico Alencar e Jean Wyllys. Daciolo foi o único participante da greve dos bombeiros, em 2012, a conseguir uma vaga no legislativo federal.Sua principal proposta de campanha foi a defesa da PEC 300, que criaria um piso nacional para policiais e bombeiros militares.
Ele chegou ao Psol fluminense pelas mãos de Janira Rocha. Durante a greve dos bombeiros, ela foi acusada de incitar a greve dos militares depois de flagrada em uma conversa telefônica aconselhando o então líder grevista a não aceitar proposta de aumento salarial proposta pelo governo. Após deflagrada a greve, Daciolo acabou preso e levado ao Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Em 2013, Janira foi acusada de obrigar funcionários de seu gabinete a devolver parte dos salários para ‘fazer política’. A prática, chamada de ‘cotização’, configura quebra de decoro parlamentar. Em gravações divulgadas por dois ex-funcionários de gabinete, ela declara que usou dinheiro do Sindisprev para a fundação do Psol no Rio. O conselho de ética do partido abriu, em setembro, um procedimento para investigar a deputada. Dois meses depois, a direção estadual determinou o afastamento de Janira e indicou sua expulsão.
Daciolo conseguiu se eleger mesmo sem aparecer no horário eleitoral gratuito. Enfraquecido dentro do Psol, o grupo político de Janira Rocha foi alijado da cadeia de rádio e televisão, mas ainda assim o líder dos bombeiros conseguiu chegar à Câmara. Mas já no primeiro ano de mandato, ele entrou em confronto com os colegas de partido. Apareceu em foto ao lado de Jair Bolsonaro (PP-RJ), após o polêmico deputado federal declarar que não estupraria a deputada petista Maria do Rosário "porque ela é feia" . Em novo conflito com os integrantes do Psol, Daciolo defendeu a presença de um general no Ministério da Defesa. O colega de bancada Jean Wyllys (Psol - RJ) se disse "constrangido" com as declarações do bombeiro militar.