Rio - De braços cruzados desde os primeiros minutos de ontem, garis decidiram manter a paralisação por tempo indeterminado após horas de muitas discussões e debate. A Comlurb ainda tentou negociar com os grevistas durante a noite, aumentando a proposta de reajuste salarial de 3% para 7,7%, mas os trabalhadores não aceitaram.
O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) classifica a greve como ilegal e promete multar o sindicato em R$ 100 mil por dia não trabalhado. Neste sábado, a manifestação está marcada para as 10h, em frente à prefeitura, e uma nova audiência com a Comlurb será realizada na segunda-feira.
Os garis pedem aumento de 40% no salário e o reajuste do vale-alimentação de R$ 20 para R$ 27. A categoria também quer a volta dos 200 garis demitidos após a greve do ano passado. A coleta de lixo domiciliar ontem foi feita sob escolta privada e com apoio da Guarda Municipal por alguns funcionários da Comlurb e 340 agentes da Secretaria de Conservação.
Segundo a Companhia, o plano de contingência vai continuar por todo o período de greve. De acordo com a comissão de negociação salarial do movimento grevista, 12 mil dos 15 mil trabalhadores da Comlurb aderiram à paralisação.
Durante a audiência de conciliação no TRT, nesta sexta-feira, a desembargadora Ana Maria Soares de Moraes pediu que a categoria retomasse às atividades com 75% do efetivo nas primeiras horas deste sábado, mas a determinação também foi recusada pelos grevistas.
“Não podemos ficar sem limpeza. A Justiça não é para passar a mão na cabeça do trabalhador. Como vou aceitar que as ruas fiquem sujas se há ameaça de manifestações no domingo? A greve não foi legal e o sindicato terá que arcar com isso”, afirmou a desembargadora.
Logo após a audiência, o presidente do Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação, Luciano David, cogitou cumprir a determinação da Justiça, mas mudou de ideia, pois a assembleia realizada em frente ao Tribunal minutos depois, com mais de 400 garis, decidiu manter a paralisação total do serviço.
“O sindicato vai sempre apoiar a categoria. Continuamos paralisados e vamos aguardar a nova audiência com o Tribunal na quarta-feira”, afirmou Luciano. O presidente da Comlurb, Vinicius Roriz, que esteve ontem na reunião de negociação, não descartou terceirizar o serviço durante a greve.
“Vamos continuar alocando pessoas e caminhões da Conservação e, se for preciso, vamos terceirizar serviços. É preciso garantir o serviço essencial ao cidadão. Se 75 % da categoria estivessem trabalhando, como a juíza determinou, resolveria o problema”, apontou Roriz.
Estudantes podem ficar sem merenda
A partir desta segunda-feira, escolas municipais podem ficar sem merenda para oferecer aos estudantes, pois agentes de preparo de alimentos, também vinculados à Comlurb, ameaçam entrar em greve.
“Os cozinheiros nunca fizeram greve porque têm medo de sofrer retaliação, mas desta vez será diferente”, declarou o agente José Cícero de Oliveira, que trabalha num Ciep em Rio das Pedras.
Nesta sexta-feira de manhã, o prefeito Eduardo Paes afirmou que foi surpreendido pela paralisação dos garis.
“Ainda estávamos em uma discussão sobre o dissídio, e eles fizeram uma proposta muito alta. A prefeitura vai continuar dialogando”, afirmou o prefeito, que fez um apelo à população:
“Pedimos para as pessoas colaborarem nesses dias e procurarem cuidar das ruas, não jogando lixo no chão”, pediu.
Para o prefeito, os garis decidiram entrar em greve num período ruim da economia. “Estamos em um momento de crise no Brasil. As pessoas estão sendo demitidas. Se eu chegar lá no Comperj hoje e dsser que preciso de garis emergenciais, vou trazer uns 18 mil pra cá”, declarou.
O prefeito também fez questão de frisar os benefícios já concedidos à categoria no ano passado, após a paralisação em fevereiro. Os garis receberam 40% de aumento — com o salário atual de R$ 1.100 — e o vale-refeição subiu de R$ 12 para R$20. “Foram muitos ganhos, e a gente pede compreensão nesse momento”, encerrou Paes.
