Por bianca.lobianco

Rio - Uma joia da arquitetura moderna mundial, o conjunto habitacional Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho, em Benfica, começa a recuperar o brilho ofuscado por meio século de abandono. A restauração, pela Companhia Estadual de Habitação (Cehab), devolve a seus 1.700 moradores o orgulho de morar num dos mais belos cartões-postais do Rio.

O complexo de linhas sinuosas, sustentado por dezenas de pilotis, tornou-se roteiro obrigatório de arquitetos do Brasil e do exterior. Por ano, mais de 12 mil pessoas visitam o prédio, considerado obra-prima do arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

O restauro dos três blocos, que têm 328 apartamentos, recuperou as cores originais — azul e amarelo — e, mais do que isso, provocou mudança no comportamento dos moradores. “O prédio ficou tão bonito que as famílias começaram a fazer obra dentro de casa. Estão todos se sentindo renovados. É um resgate da cidadania”, conta o presidente da Associação de Moradores do Pedregulho, Hamilton Ildefonso Marinho, 57 anos.

Os painéis de azulejos têm a assinatura de PortinariCarlo Wrede / Agência O Dia

Morador do local desde os 5 anos, Marinho lembra que o prédio em ruínas chegou a ser chamado de Carandiru. “Ninguém mais joga lixo ou faz pichações. Estão até deixando de pendurar roupa nas janelas”, conta.

A secretária Mônica Carvalho, de 38 anos, por pouco não se mudou do prédio. “Havia muita rachadura e infiltração. Tinha medo de desabamento. Mas agora, com a reforma, não saio nunca mais daqui”, diz a moradora, dona de um dúplex.

A obra fez subir o preço dos imóveis. “Há 12 anos, paguei R$ 18 mil pelo apartamento. Hoje, está valendo R$ 160 mil”, afirma Mônica.

A tendência é que os imóveis se valorizem ainda mais após a reforma, que está entrando em sua terceira fase. Isso porque todas as famílias, que hoje possuem apenas direito de posse, receberão o título de propriedade concedido pela Secretaria de Habitação.

Em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e protegido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o Pedregulho já é tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

“A falta de manutenção adequada e algumas obras de reparo realizadas por moradores descaracterizaram o projeto original. Estamos recuperando um patrimônio que não é apenas de seus moradores, mas do Rio de Janeiro’”, diz o secretário de Habitação, Bernardo Rossi.

A intervenção faz parte do programa De Cara Nova, que já reformou 124 conjuntos habitacionais no estado, beneficiando 80 mil famílias, que somam 400 mil pessoas.

Servidores foram os primeiros moradores do conjunto

Erguido em 1950, o conjunto de prédios de Benfica serviu por muitos anos de moradia para os servidores da União, quando o Rio era a capital federal. O arquiteto Affonso Eduardo Reidy acreditava que a solução para as famílias era terem no mesmo local acesso à educação, saúde e serviços.

Era o ideal de habitação social, que incluía até lavanderia, símbolo da mulher moderna nos anos 1950. Havia posto de saúde, mercado — ambos desativados a partir dos anos 1970 — e uma escola pública. O paisagismo foi obra de Burle Marx e os painéis de azulejos, de Portinari.

A terceira fase da revitalização, no valor total de R$ 46 milhões, vai reativar os espaços, instalando clínica da família, creche e estacionamento.


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