Por adriano.araujo

Rio - O deputado estadual Geraldo Pudim (PR) precisou se aliar a antigos adversários políticos para conseguir a vaga de primeiro secretário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). No início deste ano, ele fez aliança com o atual presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), que já viveu às turras com o ex-governador Anthony Garotinho, de quem Pudim é amigo e parceiro político.

Em entrevista ao DIA, Pudim garantiu que continua na oposição, fez duras críticas ao governo de Luiz Fernando Pezão, e definiu sua atual missão na Casa como “desgastante”. Até o fim de abril, ele terá a árdua tarefa de apresentar relatório sugerindo cortes de, no mínimo, 10% nos contratos feitos na gestão anterior, de Paulo Melo (PMDB).

O DIA: Como é a vida do primeiro secretário de uma Casa tão agitada como a Alerj?

GERALDO PUDIM: É uma novidade. Já fui vereador, deputado federal, mas é a primeira vez na Mesa Diretora. E está sendo bastante complicado, por conta do momento que vivemos: a crise econômica não é privilégio do Rio, está no Brasil, em vários estados, nos municípios. E é desgastante porque, neste cenário, precisamos enxugar a máquina.

O primeiro ato da Mesa Diretora foi a exoneração de mais de 500 funcionários. O que explica esse alto número de cortes?

Tudo dentro da normalidade. Não há perseguição a ninguém que tenha feito parte da administração Paulo Melo, por quem tenho respeito. Alguns voltaram, outros não. Quando troca o administrador, exonera-se. É rotina do serviço público. Esse número de funcionários exonerados não foi excessivo.

Pudim garantiu que continua na oposição%2C fez duras críticas ao governo de Pezão%2C e definiu sua atual missão na Casa como "desgastante"Carlo Wrede / Agência O Dia

A Câmara dos Deputados aprovou um pacote de benesses para os deputados federais. A Alerj irá fazer o mesmo?

Não há ambiente nenhum para falar em benefício para deputado. A palavra de ordem é economizar, porque a situação da crise é muito dramática aqui no Rio. Como a gente vai falar em benesse se o Estado não tem dinheiro para pagar inativos e pensionistas do Rio Previdência e pediu dinheiro emprestado ao Judiciário?

Nas eleições, o senhor apoiou Garotinho, que não nutre simpatia pelo Picciani, atual presidente da Alerj, e a quem o senhor se aliou para garantir a primeira secretaria. A quem o senhor é leal?

Primeiro, é necessário fazer uma distinção entre o que é governo do estado e o que é a Alerj. Tenho severas críticas ao governo e suas políticas públicas, mas o PR faz oposição responsável. O partido tentou formar uma chapa de oposição para presidência da Alerj. Tínhamos oito deputados, e precisávamos de um total de 13 para indicar um nome. Procuramos os cinco do Psol, os do PRB e uma dissidência do PT, demos ao Psol a prerrogativa de indicar a cabeça de chapa, mas eles não quiseram se misturar. O que restou foi decidir entre Paulo Melo, que acabou desistindo da disputa, e Picciani, e ver quem iria respeitar a proporcionalidade partidária e dar a primeira secretaria ao PR. Então, não há acordo com Picciani, estamos juntos para resgatar a credibilidade do Legislativo.

Isso significa que o Paulo Melo fez a Alerj perder credibilidade?

A Alerj foi vítima de injustiça em 2013, por exemplo, quando virou alvo de ataques. Mas, num momento de crise, os deputados se acastelaram, e isso gerou crise política. Tamanha foi a crise que, pela primeira vez na história, o governador eleito teve menos votos que o número de brancos, nulos, abstenções e o segundo colocado somados.

Já que o senhor falou de eleições: por que o Garotinho, que chegou a liderar as pesquisas, não foi para o segundo turno?

Todos nós achávamos que ele iria, e um somatório de fatores o tirou da disputa. Houve um cerco da mídia, nossa campanha não tinha recursos, e a máquina do PMDB era muito forte: tinham 60 prefeituras, 18 partidos políticos, e, mesmo assim, não levaram no primeiro turno.

O Fernando Peregrino deixou o partido colocando a culpa da derrota na deputada federal Clarissa Garotinho.

A análise dele não reflete a realidade. Se fosse isso, Clarissa teria sido um desastre nas eleições para Câmara. Foi o preconceito, principalmente da Zona Sul, que tirou Garotinho do segundo turno, por exemplo.

Não é reflexo da administração dele?

Vamos analisar: ele foi governador e elegeu a sucessora (Rosinha) no primeiro turno. Nas eleições de 2002, ele foi presidenciável e Lula só ganhou no Rio, no segundo turno, quando Garotinho subiu no palanque dele. A derrota de 2014 não foi culpa da administração.

O senhor disse que tem “respeito” pelo Paulo Melo. E terá, agora, que cortar 10% dos contratos da gestão dele. Mas em 2013, protocolou no Ministério Público uma notícia-crime contra ele. Como é a relação de vocês?

Não há revanchismo, tenho ótima relação com ele. Nunca agi contra ele, apenas reagi. Em 2013, apareceu um rapaz (Anderson Harry) dizendo que tinha sido contratado pelo Paulo Melo e pelo deputado petista André Ceciliano para incriminar Garotinho, Clarissa e eu como responsáveis pelas manifestações com atos de vandalismo no Rio, para comprometer o PR. Não me restou alternativa, se não garantir meus direitos: uma pessoa entra, nos acusa, e depois diz que foi contratado por políticos. É abominável, mas quero olhar para frente.

Não ficou nenhuma rusga, então?

Paulo Melo me disse que o cara era um pilantra e o desqualificou. Dei o episódio politicamente como encerrado, mas tramita na Justiça ainda. Lá que vão dizer se o tal cara era pilantra. Fiquei assustado, foi difícil para mim, mas isso é assunto encerrado, já passei a borracha. O objetivo de tudo isso eram as eleições de 2014: perdeu a motivação, para eles e para mim. Precisamos colocar as diferenças de lado e enfrentar a crise.

E a crise econômica do Rio? O que a Alerj pode fazer para ajudar a resolvê-la?

A hora é de abrir as portas para sociedade. E é preciso dizer que tudo o que está acontecendo é fruto da irresponsabilidade do ex-governador Sérgio Cabral. O grande problema da economia do Rio é que mentiram para população o tempo inteiro, mas passou a eleição e não tem mais como enganar. O problema da água, por exemplo: a caixa preta da Cedae precisa ser aberta, e alguém tem que ser responsabilizado pela crise, não só São Pedro.

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