Por marcello.victor

Rio - Mais uma noite de terror e prejuízo para passageiros que utilizam o transporte coletivo sobre trilhos no Rio, nesta segunda-feira. Cerca de 35 passageiros foram assaltados num vagão do trem direto do ramal de Santa Cruz da SuperVia, que seguia para a Central do Brasil, no Centro do Rio, por um jovem de 19 anos e um menor de 16 anos, por volta das 21h. Eles foram detidos por PMs do 4º BPM (São Cristóvão) quando tentavam embarcar em um ônibus no Maracanã. Os pertences roubados foram recuperados e uma arma foi apreendida. É o segundo arrastão nos trens do subúrbio em 25 dias.

De acordo com um gráfico de 42 anos, que embarcara na estação de Deodoro e seguia para o destino final na Central do Brasil, a dupla de assaltantes entrou no segundo vagão na estação de Madureira. Entre as estações do Engenho de Dentro e do Méier eles anunciaram o assalto. Se revezando no empunhamento de um revólver calibre 38, eles ameaçaram várias vezes atirar em caso de reação; ordenavam aos berros ora que os passageiros se deitassem, ora que levantassem ou sentassem, enquanto roubavam pertences das vítimas. Como a próxima parada só ocorreria oito estações depois, os marginais tiveram tempo de agir.

Poucas vítimas de arrastão em trem da SuperVia foram à delegacia registrar queixaAlexandre Vieira / Agência O Dia

"É impressionante a agressividade, o terror psicológico que eles botam nas pessoas. Estava com o fone do celular no ouvido. Só percebi o assalto quando percebi uma gritaria. Sempre venho de trem e essa é a primeira vez que que isso acontece, de ser assaltado dentro de um vagão", lamentou o gráfico que teve o aparelho celular roubado. Depois do susto, ele disse que pretende ficar mais atento a movimentação nos vagões, deixar documentos mais importantes em casa e evitar expor o uso do celular.

Um recepcionista de hostel, também de 42 anos, foi a primeira vítima dos assaltantes. Ele estava sentado em um banco em frente a porta onde os criminosos estavam viajando. Ele disse ter desconfiado da atitude da dupla.

"Um deles estava olhando fixo para uma parte do trem e o outro estava muito agitado, toda hora coçando as costas. Quando um deles veio na minha direção e vi a arma não tive reação. Estava assistindo o telejornal pelo celular, como sempre faço. Acho que por isso que eles vieram direto em mim primeiro. Ele puxou o aparelho da minha mão e anunciou o assalto", relembrou o recepcionista, que embarcara na estação Tancredo Neves, na Zona Oeste, e desembarcaria na Central para depois seguir para Copacabana, na Zona Sul, onde trabalha.

Na estação Maracanã, os bandidos ordenaram que ninguém desembarcasse e fugiram calmamente. Uma mulher e um homem que teriam conseguido soltar alertaram seguranças de uma empresa que presta serviço para a SuperVia sobre o assalto. Eles conseguiram acionar policiais do 4º BPM que faziam um patrulhamento nas imediações da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), próximo a estação da Mangueira. A dupla foi capturada na Rua São Francisco Xavier, quando tentava embarcar em um ônibus.

Rafael Patrick Ribeiro foi preso e o menor apreendido com um tablet, dez celulares e R$ 438 em espécie, além do revólver calibre 38 municiado. Segundo a PM, eles não tinham passagem pela polícia.

O gráfico revelou que não havia seguranças da SuperVia quando os bandidos desembarcaram na estação Maracanã. As vítimas seguiram para a Central do Brasil e foram até a 4ª DP registrar a ocorrência. Lá, eles foram informadas que os acusados dos roubos estavam na 17ª DP (Sâo Cristóvão), onde a ocorrência foi registrada.

"Ninguém da SuperVia nos prestou ajuda de transporte nos trazendo até a delegacia. Solicitamos que pagassem o táxi e nos foi negado. Permitiram apenas que a gente viajasse de graça no trem. Soltamos em São Cristóvão e falamos com PMs que gentilmente trouxeram parte do grupo, e um taxista, de boa vontade, levou a outra parte", criticou o gráfico. "O que me surpreendeu foram as poucas pessoas que vieram registrar queixa na delegacia", completou.

LEIA: Acusado de integrar quadrilha que fez arrastão no metrô é identificado

Funcionários da SuperVia estiveram na 17ª DP acompanhando o registro da ocorrência. Oficialmente, a empresa ainda não se pronunciou. Como o crime ocorreu em uma composição antiga da empresa e que não possui câmeras, a Polícia Civil vai solicitar imagens das estações por onde os bandidos passaram para investigar a ação da dupla. Pertences de vítimas que não registraram queixa estão disponíveis na delegacia.

Procurada, a SuperVia informou que "agentes tentaram deter dois homens que foram acusados de praticar assaltos dentro de uma composição" Após fugirem, foram detidos pelos policiais e levados para a delegacia.

Quanto a segurança nos trens e estações, a concessionária informou que é "atividade típica e exclusiva do Estado, que atua nas estações e trens por meio do GPFer." Sendo isto uma das determinações do contrato de concessão. Além dos policiais do GPFer, a ronda foi ampliada por PMs do Programa Estadual de Integração de Segurança (PROEIS). A SuperVia disse também que opera em todas as estações com agentes de controle com o principal objetivo de informar, orientar e garantir o bem-estar e a integridade dos passageiros.

Sobre não ter prestado assistência aos passageiros no sentido de levá-los para a delegacia para prestar queixa, a concessionária não se pronunciou.

'Limpa' no ramal de Deodoro

Há 25 dias, passageiros de um trem da SuperVia já tinham vivido momentos de terror. Por volta das 10h20, três homens promoveram um arrastão em uma composição que seguia para a Central do Brasil, no trecho entre Marechal Hermes e Bento Ribeiro, na Zona Norte.

Os criminosos entraram no primeiro vagão do trem, anunciaram o assalto e obrigaram os passageiros a entregarem celulares e pertences. Um dos bandidos estava armado. Desesperados, os passageiros saíram correndo para o segundo vagão da composição.

Quando o trem chegou à estação Bento Ribeiro, um agente da SuperVia parou a composição. Os passageiros então correram para fora do trem e saíram da estação. Os bandidos desapareceram. Quando o trem chegou à estação Madureira, policiais do Grupamento de Polícia Ferroviária (GPFer) revistaram todos os homens que saíram da composição.

A SuperVia não informou o procedimento adotado no incidente. Por telefone, limitou-se a dizer, na ocasião, que a segurança pública é atividade típica e exclusiva do Estado, garantida nos trens e nas estações pelo GPFer. Ainda de acordo com a concessionária, a circulação não foi afetada.

A Polícia Militar esclareceu que os policiais do GPFer operam diretamente na malha ferroviária e as outras unidades são empregadas no entorno das estações. Em nota, a PM pediu que denúncias sejam feitas através do 190 ou do Disque denúncia 2253-1177 e ressaltou a importância do registro das ocorrências nas delegacia, para que sejam elaboradas novas estratégias de policiamento para o local.

A 30ª DP (Marechal Hermes), que está investigando o caso, solicitou imagens internas à concessionária e convocou funcionários para prestar depoimento.

Os três assaltantes entraram na estação de Marechal Hermes e logo anunciaram o assalto. Enquanto abordavam as vítimas que estavam nos primeiros assentos, os outros passageiros corriam em direção ao segundo vagão. Quando a composição chegou em Bento Ribeiro e as portas se abriram, os usuários saíram desesperados para a entrada da estação, localizada no viaduto do bairro. “Um dos caras gritava pedindo celular e dinheiro, enquanto os outros recolhiam. Foi tudo muito rápido, mas eles conseguiram fazer muitas vítimas”, afirmou um passageiro que preferiu não se identificar.

De dezembro até o início deste mês, o Grupamento de Policiamento Ferroviário, que possui 50 agentes espalhados pelo sistema, já realizou 36 prisões e apreendeu três réplicas de armas de fogo nos trens. Além do GPFer, a SuperVia também conta com os policiais militares contratados pelo Programa Estadual de Integração de Segurança (Proeis).

O efetivo não foi revelado por questões de segurança. Em nota, a concessionária orienta que as vítimas de roubo registrem boletim de ocorrência na delegacia. Desta forma, o caso é investigado e os bandidos, presos.

Metrô: usuários são vítimas de dois arrastões

Foram divulgadas, pela 10ª DP (Botafogo), fotos dos acusados de fazer arrastão no Metrô Rio. A unidade espera que a divulgação das imagens ajude na identificação dos autores do roubo. Após diligências, depoimentos e análise de imagens, os agentes identificaram um dos responsáveis pelo assalto Max Walla Medeiros da Hora.

Ele foi reconhecido pelas vítimas e a delegacia pediu sua prisão temporária, concedida pela Justiça. Os policiais realizam buscas ao criminoso e diligências para localizar os outros envolvidos nos roubos. Informações sobre o paradeiro de Max e dos outros integrantes da quadrilha podem ser passadas ao Disque Denúncia: 2253-1177.

Polícia divulgou retrato falado de quadrilha suspeita de praticar arrastões no metrôDivulgação

Novo assalto leva terror aos passageiros

Uma das vítimas do arrastão ocorrido há uma semana, que não quis se identificar, contou que os criminosos já estavam na composição. Ele embarcou na estação Uruguaiana, no Centro, com destino ao Catete, na Zona Sul. Após o fechamento das portas na estação Glória, os cinco bandidos anunciaram o assalto. Um deles, de cerca de 40 anos, estava armado com uma pistola. Os outros quatro aparentavam ter em média 20 anos.

"Eles estavam em dois grupos. No início estavam com o foco em pegar os celulares. Depois acabaram levando tudo que podiam. Foi tudo muito rápido, entre uma estação e outra. Não foram violentos", relembrou a vítima. Um outro passageiro, que também preferiu não se identificar, confirmou que o grupo era formado por cinco homens, um deles armado de pistola. Com medo, outras vítimas não quiseram falar com os jornalistas na saída da delegacia.

Agentes do Metrô Rio estiveram na delegacia para acompanhar a ocorrência e transportar as vítimas para seus destinos. A concessionária Metrô Rio informou que "está auxiliando as investigações policiais e prestando apoio aos seus usuários."

Metrô vai instalar câmeras em composições antigas

Em nota, a concessionária Metrô Rio informou que, desde o primeiro arrastão, no dia 12 deste mês, decidiu instalar câmeras adicionais nos trens antigos. As composições novas são as únicas que já possuem o equipamento.

Ainda segundo a empresa, também serão instaladas câmeras nos acessos das estações para identificar suspeitos e reforçou o seu efetivo de segurança. Por lei, os agentes não trabalham com arma de fogo.

A Metrô Rio disse que o seu sistema de monitoramento possui 800 câmeras distribuídas entre as 36 estações. As câmeras geram imagens em tempo real e são monitoradas diretamente pelo Centro de Controle Operacional da concessionária.

Ao todo quatro bandidos — sendo dois armados — roubaram, na noite do último dia 12, pelo menos 16 passageiros em uma composição do Metrô, entre as estações do Largo do Machado e Flamengo. Em poucos minutos, a quadrilha fez ameaças, roubou celulares, dinheiro, bolsas e laptop. As vítimas também registraram ocorrência na 10ª DP (Botafogo).

A composição de modelo antigo não tinha sistema de câmeras de segurança. A Polícia Civil solicitou a concessionária MetrôRio imagens da estação para tentar identificar os criminosos. As vítimas criaram um grupo no aplicativo WhatsApp, intitulado 'Assaltados da Linha 1'. Eles pretendia acionar a empresa na Justiça.

Para especialista, ladrões voltarão a agir nos vagões

Depois de mais um assalto no metrô, especialistas em Segurança Pública alertam para a necessidade de mudança de hábitos da população. “Era o último meio de transporte seguro, mas isso acabou. Os passageiros terão que mudar comportamentos como exibir celulares, principalmente no fim da noite, quando os vagões estão mais vazios”, orienta o ex-coronel da PM e fundador do Bope, Paulo César Amendola.

Ainda de acordo com o especialista, a utilização da Polícia Ferroviária Federal na segurança das estações seria a solução mais simples para inibir a ação de criminosos. “No entanto, só há 800 agentes no Brasil. Agentes à paisana nos vagões agiriam mais rápido para efetuar prisões”, acredita.

Segundo o antropólogo e ex-capitão do Bope, Paulo Storani, a Polícia Civil precisa prender rapidamente os criminosos. “Eles vão agir de novo, pois encontraram facilidade para roubar e há falhas na segurança”, disse.

Com informações de Diego Valdevino e Flora Castro

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