Por nicolas.satriano

Rio - Antigo asilo de meninas órfãs, o Palacete de São Cornélio resiste na Glória — mas em situação de abandono. Cartazes colados na fachada, rachaduras e janelas quebradas descaracterizam os traços da arquitetura neoclássica do imóvel — que é patrimônio histórico e artístico nacional tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde 1938.

Mesmo situado na Rua do Catete, a mais movimentada do bairro, o casarão parece invisível atrás das paredes cinzas, cobertas por pichações. No interior, a infestação de cupins acelera a ação do tempo, assim como a água da chuva, desfigurando aos poucos os antigos afrescos. A cada ano que passa, a deterioração se agrava em cada pedaço da estrutura de um patrimônio órfão do poder público.

Pichações%2C rachaduras e janelas quebradas descaracterizam o imóvel neoclássico tombado em 1938Divulgação

Segundo denúncias dos moradores do bairro, equipes para vistoriar ou reparar os danos do imóvel nunca foram vistas. No entanto, entrar no casarão não parece tão difícil. Elementos como jarrões, estátuas e outros itens de arte sacra já foram roubados do local.

De acordo com o Iphan, a responsável pela preservação é a Santa Casa da Misericórdia, proprietária do imóvel. Ao instituto, caberia prestar consultoria para realização de obras e fiscalização. Já a Santa Casa diz que o trabalho deveria ser feito pela empresa Gespar, que seria locatária do palacete desde 2008. Ela, porém, não teria cumprido o acordo de transformar o local em um consultório médico. A empresa não atendeu os telefonemas da reportagem.

Presidente do Conselho Comunitário da Glória, Marconi Andrade esteve no casarão recentemente. “Fazia mais de três anos que eu não entrava lá. Fiquei horrorizado. Eles não têm capacidade de cuidar, enquanto isso perdemos mais um patrimônio histórico”,disse.

Moradores querem centro cultural

No mês passado, o Ministério Público atendeu à ação promovida pelo Conselho Comunitário da Glória, com uma sentença exigindo que a Santa Casa faça obras emergenciais no casarão, sob a pena de pagar uma multa diária de R$ 5 mil.

Segundo o conselho, na próxima terça-feira haverá uma audiência judicial, a pedido da Santa Casa, para tentar chegar a um acordo. O conselho afirmou à reportagem que não pretende aceitar propostas.

Segundo a advogada da Santa Casa, Paula Brito, a instituição entrou com ação de despejo em 2010, porém a empresa locatária não entregou as chaves. “A Santa Casa quer vender o imóvel. Já foi emitido o despejo, porém, eles estão criando obstáculos para o andamento do processo, com apelações”, afirmou.

Um sonho antigo dos moradores da Glória é que o casarão vire um centro cultural, que possa promover revitalização do bairro. “Temos um projeto, em conjunto com empresários, de fazer ali um centro cultural com cinema, salas de exposições, oficinais, café. Essa oferta de cultura seria maravilhosa para o bairro”, disse Marconi Andrade, presidente do conselho. “É muito melhor para a cidade do que a destruição desse bem histórico ou que vire mais um aranha-céu”, completou.

Reportagem de Lucas Gayoso

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