Rio - Um rosto que saiu do Vidigal, virou arte em Nova York e agora ganha o mundo. Randerson Romualdo Cordeiro, o Rande, 22 anos, nunca imaginou que uma foto sua, feita aos 16 anos por um americano que estava com um grupo de turistas na comunidade, seria exposta numa das instituições mais renomadas de arte dos Estados Unidos: o Museu do Brooklyn. Lá, a imagem virou pintura e está orçada em R$ 100 mil, um valor que parece inatingível para um jovem que trabalha como auxiliar técnico e ganha R$ 1,2 mil de salário.
Rande estava com outros colegas num mirante no Vidigal quando foi abordado pelos estrangeiros. A turma de meninos batia ponto no local, onde se oferecia para carregar sacolas de compras de moradores em troca de algumas moedas. Pela foto, ganhou R$ 150, um dinheiro que, segundo ele, permitiu um “luxo” para o seu padrão de vida: comprar refrigerantes.
“Dei a maior parte para minha mãe, que é empregada doméstica. Mas peguei uma parte e comprei coisas de adolescente, como biscoito”, contou ele, que lembra da zoação dos colegas porque tinha sido escolhido.
Questionado se ele se acha bonito, o rapaz não titubeou:“Dizem que sou parecido o Tiaguinho (cantor)”, afirmou o rapaz, aos risos.
A descoberta de que sua imagem virou arte pelas mãos de Kehinde Wiley aconteceu após um contato feito por um repórter da ‘Folha de S.Paulo’, que é correspondente nos Estados Unidos,e fez uma matéria com Rante.
“Nunca imaginei isso (que a foto teria esse valor). Acho que o pintor deveria ter entrado em contato comigo, falado que faria um quadro. Mas, como eu era menor na época, minha mãe assinou um contrato autorizando o uso da imagem. Não tenho direito a nada”, lamentou o rapaz. Segundo a ‘Folha de S.Paulo’, a loja da Fifa vendeu durante a Copa pôsteres com a reprodução da pintura do jovem. Cada um custava cerca de R$ 1 mil.
Uma ajuda viria em boa hora para Rande, que só estudou até o 8º ano do Ensino Fundamental e, hoje, trabalha consertando celulares. Com a mãe desempregada e ainda tendo que pagar R$ 500 de aluguel, o jovem tem que se virar para pagar as contas no final do mês. Só em dívidas, ele calcula que tem cerca R$ 8 mil. “Tenho que pagar R$ 7 mil para reparar um carro que bati num acidente de trânsito. Tive que desviar para não atropelar uma pedestre”, contou.
A exposição de Kehinde Wiley, onde Rande aparece, chama-se ‘New Republic’ e vai até o dia 24 de maio. No site do museu, é explicado que as pinturas são resultado de uma seleção feita na rua pelo artista. Ele “convida indivíduos”, para os retratos, diz um trecho da apresentação.