Rio - Se ser mãe é padecer no paraíso, para algumas mulheres que têm dificuldade em engravidar o sofrimento começa muito antes da hora de dar a luz. Foi o caso da advogada Neyla Carvalho, de 44 anos. Nos últimos oito anos, ela enfrentou uma via-crúcis para realizar o sonho de ser mãe. Diagnosticada com uma inflamação uterina, recorreu à reprodução em laboratório. Submeteu-se seis vezes à fertilização in vitro, com médicos diferentes. Todas em vão.
Recebeu injeções diárias de hormônios na barriga para estimular a ovulação e tomou antibióticos agressivos para tratar uma endometrite. O filho tão sonhado, Samuel, de 3 meses, foi gerado na sétima tentativa, quando Neyla, e o marido, o empresário Luiz Fernando, de 37 anos, já pensavam em desistir. “É muito sofrimento. Você tem que buscar forças onde nem sabe que tem para continuar”, diz Neyla, exultante com o seu primeiro Dia das Mães.
Depois de tanta luta, o domingo vai ser muito especial. “Foi um bebê muito desejado. Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo. Só sei dizer que é uma sensação maravilhosa de plenitude”, revela.
De acordo com o médico Paulo Gallo, especialista em Reprodução Humana e responsável pela chegada de Samuel, a infertilidade é um problema que afeta 10% dos casais — estima-se que no Estado do Rio sejam 350 mil pessoas —e piora com o envelhecimento. “A maioria das mulheres acredita que poderão ser mães quando quiserem. Não é assim. Com a idade, a qualidade dos óvulos diminui e a cada ano a mulher tam menos chances de engravidar naturalmente”, explica o fertileuta.
Segundo o diretor-médico do Vida, Centro de Fertilidade da Rede D’Or, na Barra, a paciente tem o ovário estimulado e os óvulos captados. Após a fecundação, em laboratório, do óvulo com o espermatozoide do marido, o embrião é transferido para o útero da mãe. “O que nos motiva é a gratidão dos que conseguem realizar o sonho da maternidade”, diz Paulo Gallo.
Depois dos 40, 2% de chance
Adiar a maternidade é uma decisão cada vez mais comum entre mulheres que priorizam a carreira profissional ou a estabilidade nos relacionamentos amorosos. Seja qual for o motivo, o fato é que, com o passar do tempo, a idade vai se tornando o maior obstáculo para quem sonha ter filhos. Segundo o médico especialista em Reprodução Humana Paulo Gallo, aos 30 anos, as chances de uma mulher engravidar são de 20% ao mês.
Com o passar dos anos, a probabilidade de engravidar naturalmente diminui drasticamente. Quem tem mais de 40 anos conta com apenas 2% de chances todo mês de gerar um filho com os próprios óvulos.
Na fertilização in vitro, a probabilidade varia de 5% a 10%. No Rio, não existe serviço de reprodução assistida na rede pública. Cada tentativa de fertilização pode custar quase o preço de um carro popular — R$ 20 mil a R$ 25 mil — incluindo despesas com clínicas e medicamentos.