Rio - Eles não ganham presente e não ouvem o tradicional ‘parabéns’ no Dia das Mães, mas muitos homens poderiam ser a figura central das comemorações neste domingo. São os ‘pães’ — pais que, por adversidades ou escolhas pessoais, decidiram desempenhar também o papel de mãe na vida dos filhos. E não fazem feio.
Renato Fontes de Mendonça, de 48 anos, é um deles. A mulher foi diagnosticada com câncer no segundo mês de gravidez. Resistiu bravamente durante toda a gestação e nos quatro primeiros anos da filha Maria Vitória, que hoje tem 8 anos. Para Renato, a tarefa de ser ‘pãe’ começou logo após o nascimento da filha.
“Eu não queria que vovós e titias me ajudassem. Queria fazer tudo. Mergulhei de cabeça na complexidade que é um homem criar sozinho uma menina”, garante Renato. E bota complexidade nisso. Aos 4 anos, Maria Vitória precisou se consultar com uma ginecologista. E lá se foi Renato carregando a menina pela mão. “O constrangimento da médica era quase palpável”, lembra o ‘pãe’.
A rotina de Renato é pesada: deixa a filha na escola, volta para casa, trabalha um pouco na profissão de ourives, pega a filha no colégio. Depois do almoço, haja atividade extracurricular: natação, coral, judô e vôlei. Ufa! Cansa, só de ouvir. Mas ainda não acabou. O ‘pãe’ verifica os cadernos, toma a lição, ajuda nos deveres de casa, trabalha mais um pouquinho na confecção de joias e vai dormir “exausto e feliz”, como faz questão de dizer.
“Eu amo o meu pai. Ele passa o tempo todo comigo. Acorda sorrindo todos os dias e nunca está de mau humor. Ele é tudo para mim”, orgulha-se Maria Vitória, que está no 4º ano do Ensino Fundamental.
Como ele, outro Renato, o Lepsch, de 45 anos, também abraçou a condição de ‘pãe’ quando a mulher morreu. Arthur tinha 1 ano quando ficou órfão de mãe e agora tem 8. “Fiquei desnorteado. Perdi minha melhor amiga, minha companheira, e estava sozinho, aos 38 anos, com um bebê para criar. Trocava fralda, dava banho, dava comida”, diz.
Na casa das quatro Marias, o matemático Thales Simões Vieira teve que se multiplicar. A mulher morreu quando a caçula, Maria Lúcia, estava com 2 anos. Antes dela vinham mais três: Maria Theresa, de 4, Maria Carolina, de 7, e Maria Clara, de 8. As meninas cresceram e hoje, respectivamente, estão com 14, 16, 19 e 20 anos.
“Nos primeiros dois anos ele foi o nosso pai e a nossa mãe. Depois casou de novo e nossa madrasta, Tânia, ajudou muito na criação. Ganhamos mais uma irmã, a Júlia, que está com 18 anos”, diz Maria Lúcia. Thales, modesto, divide coma a atual mulher o esforço na criação.
Tarefa difícil para o homem
Na avaliação do sociólogo Aluísio Alves Filho, da PUC-RJ, a partir dos anos 1960 houve a ascensão da mulher na sociedade e, paralelamente, o homem começou a participar mais nas tarefas domésticas e na criação dos filhos.
“Mas ainda é difícil que o homem consiga substituir a mãe nesse papel. Quando ele se vê sozinho com os filhos, ou se casa de novo ou tem uma estrutura familiar, como as avós, para ampará-lo na criação das crianças”, analisa.
Entre animais, os machos até chocam ovos
?Em algumas espécies é função do macho cuidar dos filhotes. No caso da avestruz, por exemplo, a trabalheira começa antes mesmo de o bebê nascer — cabe ao pai chocar os ovos e, após o nascimento dos filhotes, alimentá-los e protegê-los.
A fêmea do pinguim-imperador também é quem põe o ovo, mas é o macho que o choca por dois meses, enquanto a mãe sai para pegar peixes no mar. Ele fica esse tempo todo sem comer, até ‘dona pinguim’ voltar da pescaria.