Por daniela.lima

Rio - Jovens construindo casas em poucos dias para famílias pobres. Parece roteiro de filme, mas é o trabalho de uma organização não-governamental que atua no combate da extrema pobreza, principalmente na questão da moradia, na América Latina. A ONG Teto nasceu em 1997 no Chile e hoje está em mais de 19 países. No Rio, chegou há dois anos e ajudou 110 famílias em situação de risco na Baixada Fluminense, construindo casas de emergência no lugar de habitações precárias. 

Em abril deste ano%2C voluntários da ONG Teto construíram 27 casas populares%2C feitas de madeira%2C em três comunidades da Baixada Fluminense%3A Jardim Gramacho%2C Vila Beira MarDivulgação


“É confortável, é bonito. É minha casa, minha vida”, riu Cristhiane Cordeiro, de 39 anos. Ela mora com o marido e a filha de 14 anos numa casa construída no último mutirão da Teto no Rio, no Jardim Gramacho, em abril. Foi a maior construção do grupo: em cinco dias, mais de 200 voluntários trabalharam para erguer paredes em três comunidades de Duque de Caxias (Gramacho, Vila Beira Mar e Parque das Missões). Além desses três locais, a organização também trabalha na comunidade Sebinho, em Mesquita.

As famílias são escolhidas a partir da condição socieconômica e do envolvimento delas com o projeto. “A ideia da moradia de emergência é substituir uma habitação extremamente precária até que a comunidade possa se desenvolver e encontrar uma solução de longo prazo”, explicou Danyelle Fioravanti, diretora da Teto no Rio.

“É a coisa mais maravilhosa que aconteceu. Minha casa é linda e abençoada”, disse Marta da Silva, 42, moradora da Vila Beira Mar. Com uma renda de R$ 500 para criar 9 dos 11 filhos, ela está procurando um novo emprego há um ano e quatro meses. “Depois da casa nova, tive mais ânimo. Eles não só constroem a casa, mudam a vida da gente. Dão atenção, carinho”, contou, emocionada.

As casas de madeira são divididas conforme a preferência dos moradores. Cada módulo custa R$ 5.500, pagos com a ajuda de empresas parceiras e voluntários. 

Ideia é sensibilizar a sociedade para a desigualdade social e a pobreza extrema

A ONG Teto lançou no último mês uma campanha para chamar atenção para a pobreza no Brasil e buscar voluntários para a Coleta, o maior evento realizado pelo Teto. Nos dias 22 a 24 de maio, mais de 5 mil jovens voluntários vão estar nas ruas de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e das cidades do ABC Paulista, para arrecadar recursos para as atividades da ONG.

“A pobreza e a desigualdade social são problemas evidentes da nossa sociedade. Ainda assim, poucas vezes são pauta para notícias e de conversas cotidianas. Com a Coleta, queremos fazer que isso se torne um tema do cotidiano e que a sociedade se sinta parte da solução”, disse Carolina Mattar, diretora executiva do Teto no Brasil.

Outras informações sobre a Coleta e próximas atividades estão disponíveis no site da organização www.teto.org.br.
 

Motivação: ‘É muito gratificante’

Os voluntários da Teto Brasil contam que o projeto mudou suas vidas. “É muito gratificante. Você se envolve com a comunidade, com os voluntário”, afirmou o voluntário Augusto Branco, 24. Arquiteto e morador de Botafogo, ele encontrou no projeto um jeito de aplicar o seu conhecimento e ajudar outras pessoas.

Augusto coordena o trabalho dos voluntários nos fins de semana na comunidade Vila Beira Mar. “Vamos começar lá o processo das mesas de trabalho, que é quando consultamos a comunidade para saber o que eles querem melhora”, explicou o arquiteto.

Para a advogada Ellen Pimentel, 25, ser voluntária mudou sua forma de enxergar o mundo. “Depois das construções, deixei de ser alheia aos problemas ao meu redor”, contou. Ela é voluntária desde 2011, quando viajava para participar das obras na periferia de São Paulo. Ela já participou da construção de 34 casas de emergência.

Ellen, que já levou diversos amigos para a organização, conta que todos se encantaram pelo trabalho, mas alguns acabam só acompanhando de longe. “Dói ver as discrepâncias da nossa sociedade, mas também dá vontade de fazer algo para mudar”, contou Ellen.

Mais do que ver os problemas sociais de perto, o trabalho mudou outros aspectos de sua personalidade. “Não deixar de acreditar no ser humano. É isso que eu aprendo em toda atividade”, conclui.

Reportagem de Flora Castro

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