Por nicolas.satriano

Rio - O alemão Markos Maria Muller disse aos médicos do Hospital Miguel Couto que a explosão — no apartamento 1.001, em São Conrado — foi criminosa. Com sinais de facadas no peito, pescoço e nádegas e, com metade do corpo queimado, contou ainda que a residência foi invadida. “Ele chegou dizendo que um homem invadiu o apartamento, assaltou, fez terrorismo usando uma faca para cortá-lo e, em seguida, disse que iria explodir tudo”, afirmou o funcionário do hospital.

Agentes da 15ª DP (Gávea) investigam ainda a visita que a vítima recebeu na noite anterior à explosão. Há suspeita de que seria um garoto de programa. Markos foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros sentado na cama e consciente. No hospital, ele foi sedado para suportar a dor e, pela perda das funções dos rins, o risco de morte passa dos 90%. Apesar de estar falando na hora do atendimento, médicos não descartam a possibilidade de ele ter sofrido algum tipo de surto, provocado pela ingestão forçada de substância química.

No apartamento do alemão%2C parte do piso cedeu%2C e parede foi destruída. Peritos acharam mangueira do aquecedor intacta%2C que pode ter sido retirada e provocado o vazamentoSeverino Silva / Agência O Dia

Nesta terça-feira à noite, Markos foi transferido do Miguel Couto para o Centro de Queimados do Hospital Pedro II, em Santa Cruz. Todos os relatos levam a polícia a trabalhar com três hipóteses: assalto, tentativa de suicídio ou distúrbio emocional. A suspeita de assalto é reforçada pelo encontro de uma mangueira do aquecedor. O objeto estava intacto e pode ter sido retirado para provocar vazamento.

No entanto, a polícia também investiga a informação da CEG à Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Rio (Agenersa) de que seis dias antes da explosão o consumo de gás do apartamento de Markos aumentou o equivalente a quatro vezes da média mensal. O prédio será liberado pela Defesa Civil amanhã. O reparo deve demorar três meses, segundo o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ).

Moradores conseguiram entrar nos imóveis ontem e contabilizaram o prejuízo causado pela explosãoSeverino Silva / Agência O Dia

Após passarem a noite fora de suas casas, moradores retornaram ontem ao Canoas, acompanhados por técnicos da Defesa Civil, para pegar pertences e avaliar os estragos em seus imóveis. No apartamento de Maria Lúcia Mello, de 88 anos, no 11º andar, teto e vidro ficaram destruídos. “Ainda bem que a Maria Lúcia tem uma filha que mora aqui perto e pode ficar hospedada lá”, contou a cuidadora dela, Angela de Oliveira, 41 anos.

A dona de um apartamento do oitavo andar, Lourdes Cristtali, 78 anos, não tinha seguro residencial, mas irá fazer. “Os meus pertences não estão assegurados. Conversei com moradores e muitos nem sabiam se tinham ou não”, contou. Na casa de Brigitta Lang, no 12º andar, o prejuízo não foi tão grande.

O síndico do prédio, Jorge Alexandre, disse que no prédio há 24 câmeras e as imagens estão disponíveis para a polícia.

Concessionárias e empresas de gás na mira do Procon

O Procon Estadual vai investigar concessionárias e empresas de gás para verificar se elas realizam inspeção de segurança em todos os estabelecimentos e residências do estado, como prevê a lei que entrou em vigor desde março. Além da CEG e CEG-Rio, as empresas Supergasbrás, Minas Gás, Ultragaz, Liquigás e Copagás estarão na mira do órgão. A legislação estadual determina que é responsabilidade das empresas dar ampla divulgação aos consumidores sobre a obrigatoriedade da inspeção.

A autovistoria predial, exigida no município desde julho de 2014, foi realizada em apenas 30.244 mil edificações das 270 mil existentes no Rio. Dos imóveis vistoriados, 18.517 apresentaram a necessidade de realização de obras. “Ainda é um número muito pequeno e isso preocupa. Os moradores precisam se atentar para a manutenção”, ressaltou o secretário de Governo, Pedro Paulo Teixeira.

Para entrar no prédio%2C moradores foram divididos em pequenos gruposSeverino Silva / Agência O Dia

Em reunião realizada na tarde desta terça-feira, com representantes da Agenersa, Inmetro e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, ficou definido que o Inmetro será responsável por acreditar empresas para realizar as inspeções de gás natural canalizado. O prazo para divulgação é de quatro meses.

O consumidor que instalou gás até o dia 18 de março deste ano tem cinco anos para realizar a vistoria periódica, ou seja, a primeira vistoria quinquenal deverá ser realizada até 18 de março de 2020. Já o consumidor que instalou gás a partir de 19 de março terá cinco anos para fazer a vistoria quinquenal, a contar da data de instalação.

Apenas 17% dos domicílios do Rio têm seguro

Dos 5.985.773 milhões de domicílios no Rio, apenas 1.017.745 milhão possuem seguros residenciais, de acordo com levantamento da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). A penetração do serviço é de apenas 17%, índice ainda muito pequeno na opinião do diretor-executivo da instituição, Neival Freitas.

“O Rio está em quarto lugar no ranking do Brasil. As pessoas acham que o seguro de residência é tão caro quanto de automóvel, mas essa não é a realidade”, afirmou. São Paulo é o estado que possui mais domicílios segurados, com a cobertura de 28% das casas. No Brasil, o índice de imóveis com seguro chega a 13%.

Segundo a FenSeg, um imóvel do Rio avaliado em R$ 200 mil terá o custo do seguro na cobertura básica em R$ 200 por ano, com direito a reparos contra incêndio, queda de raio e explosão. As mais de 20 seguradoras do estado oferecem ainda planos adicionais, como pagamento de aluguel extra em caso de saída emergencial da propriedade e ressarcimentos por bens danificados.


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