Por karilayn.areias

Rio - O dia a dia de quem ganha a vida através de acordes, melodias e harmonias não é fácil. Daqueles que optam por exibir sua arte a bordo dos vagões do metrô, então, ela pode ser ainda mais complicada. Músicos que levam poesia para o cotidiano de quem utiliza o transporte público enfrentam proibições e uma fiscalização muitas vezes agressiva, mas contam com a simpatia do público.

Pedro%2C Ruda e Igor tocam no metrô%3A trio se inspirou em estrangeiros e começou a se apresentar há três anosMaíra Coelho / Agência O Dia

“Acho isso espetacular. Tem sopro, cordas, pandeiro. Ontem dei R$ 10, hoje vou dar de novo”, contou Mário Serra, 65.

A prática regulamentada em países como Argentina, França e Inglaterra é proibida no Brasil. Para o administrador aposentado, a proibição tem que acabar. “Eles alegram a viagem com música boa”, afirmou. Esta semana, numa viagem de metrô, o boy Leonardo da Silva, 21, balançava a cabeça e os pés no ritmo do pandeiro. “É legal porque é um entretenimento. Assim saímos da rotina.”

Na manhã em a reportagem circulou pelo metrô, pelo menos oito grupos se apresentavam. Todos se conhecem. “No início teve até briga, mas depois todo mundo virou amigo e começou a se ajudar”, contou Igor Teitelroit, 32, que se apresentava em trio. Segundo ele, tudo começou há três anos por influência de músicos estrangeiros.

Os músicos conseguem ganhar entre R$ 100 e R$ 150 por dia, tocando quatro horas nos vagões da Linha 1. Eles garantem que a Linha 2 também é rentável, mas lá os seguranças são mais agressivos. Inclusive, este é o problema mais recorrente do trabalho. “Por conta de uma agressão que sofri na Linha 2, estou processando o Metrô Rio”, contou Igor.

Eles relatam que só houve problemas com passageiros uma única vez. “Geralmente a reação é positiva. O pessoal gosta”, disse o músico Ruda Bastos.

A estudante Alice Pires colabora com o grupo do pandeirista Humberto%3A “Acho muito bom”%2C comenta elaMaíra Coelho / Agência O Dia

O estudante Bernardo Martins, 19, gosta, mas com moderação: “É agradável. E, dependendo, eu gosto. Mas às vezes é muito alto”. Alice Pires, 19, diz adorar. Ela estudava no metrô quando o Duo Clandestino se apresentava. “Acho muito bom”, disse sorridente. Ela contou que sempre dá algum dinheiro para os grupos musicais. “Tem muita gente que não dá valor, temos que apoiar”, afirmou a estudante.

Lei pode mudar cenário

A assessoria do Metrô informou que os músicos são convidados a se retirar das composições quando algum usuário reclama e que esse procedimento está respaldado legalmente. O órgão ainda ressalta que há atualmente um projeto de lei tramitando na Assembleia Legislativa que regulamenta a prática. Enquanto isso, os músicos convivem com o medo de serem expulsos e alegam sofrer agressões dos seguranças. “São muito violentos e nos tratam como marginais”, comentou Pedro Braus, um dos integrantes do trio. “Já levei duas gravatas em Botafogo e um chute nas costas na Linha 2”, disse Igor Teitelroit que trabalha no metrô há três anos.

Durante a apresentação do Duo Clandestino, na parada da estação Cardeal Arcoverde, os seguranças pediram para que os músicos se retirassem. Com os instrumentos já guardados, Humberto Arato, 46 anos, e Patrick Thomazino, 33, se recusaram a descer do vagão e o segurança ameaçou: “Ah é, não vai descer não?”, disse o homem. Na estação seguinte, a Siqueira Campos, fiscais esperavam na plataforma para examinar os vagões. Diante da cena, a secretária Margarete Cardoso, 50, indignou-se. “Tocar música não pode, mas entrar para nos roubar pode”, reclamou a passageira.

*Reportagem Flora Castro

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