Rio - Em um relato cheio de detalhes, o adolescente W., de 17 anos, revelou a investigadores várias informações sobre o assalto e morte do médico Jaime Gold, na Lagoa Rodrigo de Freitas, em maio. Depois de se apresentar à Delegacia de Homicídios (DH) para assumir o crime — e inocentar o primeiro acusado —, o jovem contou o que aconteceu com os objetos roubados do cardiologista. Segundo ele, o celular de Jaime foi vendido e a bicicleta, queimada.
Aos policiais, W. contou ainda que ficou com R$ 600, dinheiro que estaria no bolso da vítima, e R$ 150, que seria a sua parte na venda do celular do médico. Ele disse ainda que o segundo menor apreendido, a quem atribuiu as facadas no médico, foi o responsável pelo repasse do aparelho, mas não disse para quem ou onde foi vendido. Sobre a bicicleta, o adolescente alegou que ela foi queimada no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, versão que a polícia não acredita.
W. afirmou que resolveu se entregar porque estava com medo de morrer, mas se recusou a falar sobre a autoria das ameaças. O adolescente disse aos agentes que se escondeu na casa da avó, em Cosmos, na Zona Oeste, e mesmo tendo saído do Jacarezinho, onde mora, estava sendo pressionado pela comunidade sob a legação de que o primeiro menor apreendido não teria participado do crime. No Facebook, a irmã que o acompanhou na delegacia desabafou que W. decidiu se entregar porque “estava ficando doente.”
Desde os 11 anos, W. deixou de frequentar a escola, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação.
Longe dos estudos, passou a cometer crimes e acumular internações em unidades do Degase, num total de cinco passagens por instituições diversas. Segundo o órgão, nas quatro primeiras vezes, ele cumpriu regime de semi-liberdade, quando pode sair durante o dia, mas tem que dormir na unidade. No entanto, quando passou pelo portão da instituição, não retornou mais. Em fevereiro, W. cumpriu medida cautelar, mas o processo foi encerrado e ele voltou para a rua.
Quarta-feira, a polícia também informou que o adolescente possui extensa ficha criminal: são 20 anotações por crimes contra o patrimônio, como roubo. O Ministério Público pediu nesta quarta-feira à Justiça a internação provisória de W. Ele deve responder por ato infracional correspondente ao crime de latrocínio, assim como os outros dois menores. Mas eles vão responder a processos distintos.
Pezão afirma que ‘ não há inocentes’
O governador Luiz Fernando Pezão admitiu nesta quarta-feira que pode haver falha nas investigações no caso. Durante evento no Palácio Guanabara, lembrou que “o crime ocorreu à noite”, o que pode ter provocado um “engano”. Disse ainda que mesmo que um dos três menores apreendidos não tenha participação no caso, “não há inocentes”, já que já se sabe que todos cometeram diversos delitos.
“Todos (os suspeitos do crime) vivem em função de assaltos, não só no entorno da Lagoa. Acho que o mais importante é isso, que a polícia está trabalhando. Mês a mês reduzindo índices. As falhas a gente tem que corrigir. É inadmissível ter erros, ainda mais quando uma pessoa é acusada de um crime que não cometeu, mas todos os três cometeram delitos ali”, ressaltou o governador.
Apresentação do terceiro menor levanta hipótese de precipitação da DH
O surgimento do terceiro envolvido no caso levantou a hipótese de erros na investigação, e que a polícia tenha se precipitado ao apreender o adolescente X., de 16 anos. Ele foi pego em Manguinhos, cerca de três horas depois de a Delegacia de Homicídios assumir o caso.
No dia da detenção, o titular da DH, Rivaldo Barbosa, alegou que não havia dúvidas sobre a participação do menor no crime. Em seguida, a delegada Patrícia Aguiar, responsável pela investigação, afirmou mais de uma vez que o caso estava encerrado. Nesta quarta-feira outro delegado, Giniton Lages, voltou atrás e disse que a investigação continua. Ele aguarda autorização da Vara da Infância e da Juventude para fazer acareação entre os suspeitos.
Contudo, o advogado de defesa do primeiro menor apreendido disse desde o início do caso que seu cliente era inocente e não havia provas suficientes para mantê-lo detido. Essa versão, inclusive, ganhou apoio dentro da própria Polícia Civil. Monique Vidal, titular da 14ª DP (Leblon), onde testemunha foi ouvida após o crime, colocou em dúvida o embasamento para as detenções. Segundo ela, a testemunha disse que Jaime foi atacado por duas pessoas, sendo um branco e um negro, porém, a DH apreendeu dois negros.