Por nicolas.satriano

Rio - O desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza pode ganhar novos capítulos. O Ministério Público vai abrir investigação para apurar o que equipes do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) faziam na Rocinha na noite em que a vítima foi torturada e morta, conforme revelaram as investigações da Polícia Civil. De acordo com o MP, há a suspeita de que o corpo do morador possa ter sido retirado da base da UPP em uma das viaturas do grupo de elite, conforme reportagem exibida pelo ‘Jornal Nacional’.

Um volume na viatura do Bope%2C que pode ser o corpo do pedreiro Amarildo%2C fez com que o Ministério Público reabrisse o casoReprodução / TV Globo

Amarildo desapareceu no dia 14 de julho de 2013. Na época, o MP já havia analisado as imagens nas quais quatro viaturas do Bope são flagradas, cinco horas após a suposta sessão de tortura, entrando na rua que dá acesso à sede da UPP. Em depoimento, o então comandante da unidade, Major Edson Santos — que já fez parte da tropa de elite — contou que eles haviam sido chamados diante da iminência de confrontos com traficantes.

No entanto, após uma perícia detalhada dos vídeos, há a suspeita que o corpo do pedreiro possa ter sido levada na caçamba, já que um volume foi detectado na traseira de um dos veículos. Ao todo, dez homens da corporação serão investigados.

“A presença do Bope precisa ser realmente esclarecida. Tem uma justificativa oficial. Que era um ataque, a iminência de um ataque à UPP. Mas aí a gente vai lá para as escutas dos traficantes: nenhuma movimentação de ataque a UPP, nenhum comentário. E você tem um outro dado: policiais que estavam ali foram dispensados, exatamente na hora em que o Bope é acionado. Então, por que realmente o Bope foi pra lá?”, questionou a promotora Carmen Lúcia, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Os promotores descobriram que todas as quatro caminhonetes passaram pelo local, por volta da meia-noite, com os GPS ligados. Na sede da UPP, no entanto, o equipamento de um dos carros parou de funcionar às 0h24. Doze minutos depois, essa mesma caminhonete vai embora com o GPS desligado, que só volta a funcionar 58 minutos seu desligamento.

Major Edson Santos, ex-comandante da UPP Rocinha, teria liderado a tortura que culminou na morte de AmarildoDivulgação

Na caçamba, aparecem quatro policiais. Em meio aos soldados, um volume, que pôde ser notado através da melhora da qualidade das imagens, teria sido notado por peritos. Em um ponto cego, sem presença de câmeras, o carro para e os policiais desembarcam. Depois é possível notar o veículo deixando a comunidade. Há ainda a suspeita que nesse momento o corpo possa ter sido escondido embaixo de bancos da parte traseira da viatura.

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Corpo nunca foi encontrado

A morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza ganhou as manchetes do Brasil e do mundo em 2013. Detido por PMs e conduzido da porta de sua casa, na Rocinha, à sede da Unidade de Polícia Pacificadora do bairro antes de sumir, o Caso Amarildo se tornou símbolo de abuso de autoridade e violência policial.

Segundo a versão da polícia, os PMs teriam confundido Amarildo com um traficante de drogas com mandado de prisão expedido pela Justiça.

De acordo com as investigações, no entanto, Amarildo foi torturado e morto por policiais militares em julho de 2013. Ao todo, 25 PMs são acusados de envolvimento no desaparecimento do ajudante de pedreiro, cujo corpo não foi encontrado. Eles respondem pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha.

No início deste mês, o major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, teve prisão revogada pela Justiça.





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