Por felipe.martins

Rio - Na mesma proporção em que a infestação de morcegos está assustando moradores de pelo menos 15 bairros no Rio, conforme O DIA publicou nesta quarta-feira, a escassez do soro antirrábico na cidade também causa pavor a quem foi mordido pelos animais. O soro previne a raiva — doença transmitida por três das 43 espécies do mamífero voador presentes na cidade. Várias vítimas dos ‘vampirinhos’ relataram que tiveram que esperar entre três e 14 dias para receber o antídoto. Pelo menos 64 pessoas foram mordidas ou sofreram arranhões nos últimos 12 meses na capital, conforme notificações feitas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Oito delas não teriam recebido o soro.

“Eu só consegui tomar o soro três dias depois do prazo recomendado pelas autoridades em saúde porque o produto estava em falta. Ou seja, corri risco de vida”, lamenta, indignado, Carlos Antunes de Carvalho Neto, de 60 anos, que mora em Copacabana. Ele conta que morcegos habitam a copa de amendoeiras ao lado de seu apartamento. “Fui mordido no dedão do pé na noite do dia do meu aniversário. Como os bichos soltam uma substância anestésica no local do ferimento, eu nem percebi. Acordei pela manhã ainda sangrando”, detalha.

População de morcegos aumentou com o desequilíbrio no climaSeverino Silva / Agência O Dia

O estudante de Biologia Raphael Medeiros, 23, conta que também teve que esperar duas semanas para ser medicado com o soro, depois de ter se acidentado na captura de um morcego, atividade que faz parte de seu curso. “Achei um absurdo. Como pode faltar soro desse tipo?”, questiona Raphael.

Em nota, a secretaria garantiu que a aplicação do soro antirrábico está temporariamente concentrada apenas no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. “No momento, a unidade encontra-se abastecida. Na falta (do soro), os pacientes são cadastrados e, tão logo o insumo seja recebido pela Secretaria Municipal de Saúde, são convocados pela unidade”, diz o texto.

A secretaria destacou que a aquisição e a distribuição de insumos estratégicos, como o soro antirrábico, são de responsabilidade do Ministério da Saúde, que repassa o produto para estados e municípios. “Nos últimos meses, a SMS vem recebendo quantidades reduzidas do insumo, abaixo do volume solicitado”, ponderou, explicando que, além da profilaxia com vacina antirrábica e, quando indicado, também o soro antirrábico, a terapia medicamentosa a ser adotada para vítimas de incidentes com morcegos é definida pelo médico, após avaliação de cada paciente e do tipo de lesões.

Profilaxia deve ser rápida

Desde a década de 1980 não há nenhum registro de raiva causada por morcego. Mas, mesmo que não seja necessária a aplicação do soro antirrábico, iniciativas simples devem ser tomadas imediatamente após um ataque, como lavar o ferimento com água corrente e sabão. O uso de antissépticos que inativem o vírus da raiva (polivinilpirrolidona-iodo, por exemplo, povidine ou digluconato de clorexidina ou álcool iodado) também é recomendado. Essas substâncias, no entanto, deverão ser utilizadas uma única vez. Posteriormente, deve-se lavar a região com solução fisiológica.

Nos casos de contato indireto por meio de objetos ou utensílios contaminados com secreções de animais suspeitos, ou de lambedura da pele, recomenda-se lavar o local com água e sabão, mas não está indicada a profilaxia com imunobiológicos. O soro antirrábico só pode ser aplicado sob prescrição médica e conforme a dose recomendada, em ambiente hospitalar.

De acordo com especialistas, o desequilíbrio ecológico provocado por desmatamentos e o fenômeno El Niño, que deixa o inverno menos frio, são as causas principais do aparecimento maior de morcegos no Rio. Só este ano, o setor de zoonoses da SMS já recebeu 200 pedidos de socorro da população, solicitando a captura de animais que invadem residências.


Você pode gostar